Caverna 11/01/2018
Helena é uma garota de 18 anos que anseia cursar faculdade de medicina. O grande problema é que ela possui apenas 20% da visão. Quando criança, Lena foi diagnosticada com uma doença chamada de Stargardt. A tendência é que ao longo do tempo Lena vá perdendo cada vez mais a capacidade de enxergar, mas por enquanto, ela tenta aproveitar o que sua visão lhe propõe. Com a ajuda de uma lupa, ela consegue ler livros, e sua visão periférica por enquanto é perfeita, de forma que o centro é um borrão, mas as laterais são possíveis de identificar.
Os pais de Lena são biólogos e super-protetores com a filha. Num final de semana, eles são obrigados a viajar a trabalho, e pela primeira vez na vida Lena fica sozinha em casa. Bom, não completamente sozinha, já que de vez em quando Lucas, seu melhor amigo, aparece para fazer companhia e trazer porcaria para comerem juntos. Lucas é brincalhão, e pelo que Lena sente ao abraça-lo, também tem malhado bastante. A amizade deles vem desde infância, e apesar de Lena já ter chegado a cogitar que gostava dele de outra forma, ela percebeu que no fundo era só amizade mesmo. Junto de Lucas, eles criaram um jogo chamado Como eu imagino, onde Lena tenta adivinhar como é a paisagem que eles estão olhando, e então de acordo com a proximidade com a realidade vista por Lucas, ela ganha pontos. Mas o jogo não se restringe à Lena, e às vezes eles jogam imaginando como deve ser lugares famosos de outros países, e por aí vai.
Além de Lucas, Lena também recebe uma visita inesperada. Sua mãe esquecera de avisar que havia agendado um dia com o jardineiro, e agora Lena terá de atende-lo. Ela poderia simplesmente não atender a porta, mas sabe o quanto o jardim era querido pela sua falecida avó, então acaba recepcionando o jardineiro, que se mostra simpático e bem gentil. Antes que Lena se dê conta, ela já está conversando com Alex, o jardineiro, descobrindo seus gostos e percebendo o quanto gosta da companhia daquele jovem rapaz. Após alguns dias, Alex diz para Lena tentar vê-lo com a lupa, e é aí que Lena se desespera. Aquele é o garoto dos seus sonhos. Literalmente dos seus sonhos. Por muito tempo, Lena vem sonhando com um garoto que nunca vira antes, sem saber o porquê, e agora ele estava ali, bem na sua frente.
Lena então vai atrás de uma amiga pedindo conselhos, e ela a leva a outra amiga que, após uma sessão ligeiramente estranha, diz que Lena possui clarividência. Lena sai de lá extremamente perturbada. O que seria isso e no que implicaria na sua vida? Lucas começa a fazer pesquisas sobre o assunto, e se mostra cada vez mais ciumento com relação a Alex. E já Alex é o príncipe dos contos de fadas, sempre amoroso, e até dá de presente pra Lena um pingente de coruja, que possui um grande significado, não tão bom quanto Lena poderia imaginar.
Será que Lena realmente possuía certas habilidades? Será que seus sonhos não eram apenas sonhos? E como Alex reagiria se ela contasse a verdade? Teria como o relacionamento deles durar?
Como eu imagino você é um livro curto e dinâmico, portanto é difícil falar sobre ele sem soltar spoilers. A capa ficou espetacular, combina demais com a história, e o trabalho realizado pela editora Gutenberg, tanto na capa como na edição por completo ficou sensacional, está de parabéns a editora!
Conheço o trabalho do Pedro Guerra há um tempo, e fiquei extremamente feliz quando soube que ele conseguiu publicar uma obra com uma editora renomada. Já sabia que ele tinha talento, então fiquei mais curiosa ainda pra ler a obra. O primeiro livro que li dele foi Você pode guardar um segredo?, e em 2012 o conheci pessoalmente na Bienal de São Paulo, super atencioso e simpático!
Como eu imagino você é narrado em primeira pessoa pela nossa protagonista Helena. A obra é dividida em quatro partes, que na verdade são as quatro estações. As páginas são amareladas, a letra considerei um pouco pequena, mas nada que tenha atrapalhado, e temos algumas ilustrações delicadas, como as páginas em que contem as estações, e outras como mensagens sendo enviadas.
Quanto à história, Pedro soube desenvolver muito bem os aspectos da doença, de forma que nos aproximou bastante da personagem. Toda sua frustração em não conseguir enxergar por completo é comovente, mas algo que me emocionou foi ver como ela nunca tirava o sorriso do rosto mesmo com suas limitações. Ela é bem alto-astral e sempre tem um comentário engraçado a fazer.
Lucas também foi um personagem do qual gostei muito. Amigo de verdade, leal e companheiro, sempre se preocupando com o bem-estar da amiga e fazendo pesquisas a respeito dos sonhos dela, sem duvidar dela ou coisa parecida.
Meu maior problema talvez esteja justamente no Alex. Sabe aquele personagem perfeito demais que é difícil de engolir? Pois então. Acho que se o Pedro tivesse mostrado algum defeito dele, algo que o tornasse mais humano, eu teria gostado mais dele. Em certos momentos, por conta do mistério que rondava o presente que ele havia dado a ela sobre a coruja, eu fiquei esperando por uma reviravolta, que não aconteceu exatamente do jeito que eu imaginava. O Pedro é muito bom em escrever suspense, e acho que se ele tivesse apostado nesse lado, teria surtido um efeito positivo, mas sei que esse não foi o seu foco.
Num geral, a história foi bem construída, é divertida de se ler, com algumas tiradas cômicas, mas senti no final que ficou faltando algo. Talvez um desenrolar mais convincente da relação do casal, algo não tão amor à primeira vista, algo gradativo, assim como uma relutância pra acreditar na clarividência, mas pareceu tudo rápido demais.
Eu adoro esses livros sicklit, não sei bem se a obra se enquadra no gênero, mas é legal saber mais sobre o assunto, já que é uma doença que de fato existe e é pouco conhecida.
Dou meus parabéns ao Pedro pelo livro maravilhoso, e desejo muito sucesso! Com certeza ele tem muito talento, e vocês podem comprovar isso lendo Como eu imagino você também!
site: http://caverna-literaria.blogspot.com.br/2018/01/como-eu-imagino-voce.html