Alane.Sthefany 21/07/2022
O Pequeno Príncipe - Antoine de Saint-Exupéry
Releitura ???
Esse livro é perfeito e extremamente profundo, mesmo sendo um livro infantil, sua leitura supera os limites das idades das pessoas que o lê. Depois de reler, percebi diversas coisas, que passaram por alto no meu primeiro contato com o livro.
Esse é o poder de reler livros e se tornar um clássico, ultrapassando gerações ??
Fiz muitas anotações.
Pretendo reler e reler essa obra prima diversas vezes ?
????
Eu dedico então este livro à criança que essa pessoa grande já foi. Todas as pessoas grandes foram um dia crianças ? mas poucas se lembram disso.
Quando a gente lhes fala de um novo amigo, as pessoas grandes jamais se interessam em saber como ele realmente é. Não perguntam nunca: ?Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que ele coleciona borboletas?? Mas perguntam: ?Qual é sua idade? Quantos irmãos ele tem? Quanto pesa? Quanto seu pai ganha?? Somente assim é que elas julgam conhecê-lo.
Ah!, pequeno príncipe, assim eu comecei a compreender, pouco a pouco, os segredos da tua triste vidinha. Durante muito tempo não tiveste outra distração a não ser a doçura do pôr do sol.
(...) no teu pequeno planeta, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E, assim, contemplavas o crepúsculo todas as vezes que desejavas...
? Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e quatro vezes!
E logo depois acrescentaste:
? Quando a gente está muito triste, gosta de admirar o pôr do sol...
? Estavas tão triste assim no dia em que contemplaste os quarenta e quatro?
Mas o principezinho não respondeu.
Início do Livro
Há milhões e milhões de anos que as flores produzem espinhos. Há milhões e milhões de anos que, apesar disso, os carneiros as comem. E não será importante procurar saber por que elas perdem tanto tempo produzindo espinhos inúteis? Não terá importância a guerra dos carneiros e das flores? Não será mais importante que as contas do tal sujeito? E se eu, por minha vez, conheço uma flor única no mundo, que só existe no meu planeta, e que um belo dia um carneirinho pode destruir num só golpe, sem saber o que faz, isso não tem importância?
(...)
Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para fazê-lo feliz quando a contempla. (...)
?Minha flor está lá, em algum lugar...? Mas se o carneiro come a flor, para ele é como se todas as estrelas repentinamente se apagassem!
Eu não sabia o que dizer. Sentia-me envergonhado. Não sabia como consolá-lo, como me aproximar dele... É tão misterioso o país das lágrimas!
A minha (flor) perfumava todo o planeta, mas eu não sabia como desfrutá-la.
? Não soube compreender coisa alguma! Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas palavras. Ela exalava perfume e me alegrava... Não podia jamais tê-la abandonado. Deveria ter percebido sua ternura por trás daquelas tolas mentiras. As flores são tão contraditórias! Mas eu era jovem demais para saber amá-la.
? É claro que eu te amo ? disse-lhe a flor. ? Foi minha culpa não perceberes isso. Mas não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Tenta ser feliz... Larga essa redoma, não preciso mais dela. (...)
? É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. Dizem que são tão belas! Do contrário, quem virá visitar-me?
É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar ? replicou o rei. ? A autoridade se baseia na razão. Se ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, todos se rebelarão. Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis.
Não partas; eu te faço ministro!
? Ministro de quê?
? Da... da Justiça!
? Mas não há ninguém para julgar! (...)
? Tu julgarás a ti mesmo ? respondeu-lhe o rei. ? É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.
(...) para os vaidosos, os outros homens são seus admiradores.
o vaidoso não ouviu. Os vaidosos só ouvem os elogios.
? Não é verdade que tu me admiras muito? ? perguntou ele ao pequeno príncipe.
? Que quer dizer ?admirar??
? ?Admirar? significa reconhecer que eu sou o homem mais belo, mais bem-vestido, mais rico e mais inteligente de todo o planeta.
? Mas só tu moras no teu planeta!
? Dá-me esse prazer. Admira-me assim mesmo!
? Eu te admiro ? disse o principezinho, dando de ombros. ? Mas de que te serve isso?
?Talvez esse homem seja mesmo um tolo. No entanto, é menos tolo que o rei, que o vaidoso, que o empresário, que o beberrão. Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, ou uma flor. Quando o apaga, porém, faz adormecer a estrela ou a flor. É um belo trabalho. E, sendo belo, tem sua utilidade.?
?Esse aí?, pensou o principezinho, ao prosseguir a viagem para mais longe, ?esse aí seria desprezado por todos os outros, o rei, o vaidoso, o beberrão, o empresário. No entanto, é o único que não me parece ridículo. Talvez porque é o único que se ocupa de outra coisa que não seja ele próprio.?
? As estrelas são todas iluminadas... Será que elas brilham para que cada um possa um dia encontrar a sua?
? Bom dia! ? disse ele.
Era um jardim cheio de rosas.
? Bom dia! ? disseram as rosas.
Ele as contemplou. Eram todas iguais à sua flor.
? Quem sois? ? perguntou ele, espantado.
? Somos as rosas ? responderam elas.
? Ah! ? exclamou o principezinho...
E ele se sentiu extremamente infeliz. Sua flor lhe havia dito que ela era a única de sua espécie em todo o universo. E eis que havia cinco mil, iguaizinhas, num só jardim!
?Ela teria se envergonhado?, pensou ele, ?se visse isto...
?Eu me julgava rico por ter uma flor única, e possuo apenas uma rosa comum ..."
E foi então que apareceu a raposa
Que quer dizer ?cativar??
? É algo quase sempre esquecido ? disse a raposa. ? Significa ?criar laços?...
Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
Minha vida é monótona (...)
Mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fossem música.
Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
? A gente só conhece bem as coisas que cativou ? disse a raposa. ? Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma.
? Teria sido melhor se voltasses à mesma hora ? disse a raposa. ? Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas, se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração...
Ritual - É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas.
? Vai rever as rosas. Assim compreenderás que a tua é única no mundo.
O pequeno príncipe foi rever as rosas:
? Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu a tornei minha amiga. Agora ela é única no mundo. (...)
? Sois belas, mas vazias ? continuou ele. ? Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela que eu reguei. Foi ela que pus sob a redoma. Foi ela que abriguei com o para-vento. Foi por ela que eu matei as larvas (exceto duas ou três, por causa das borboletas). Foi ela que eu escutei se queixar ou se gabar, ou mesmo calar-se algumas vezes, já que ela é a minha rosa.
Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
? Bom dia ? disse o pequeno príncipe.
? Bom dia ? disse o vendedor.
Era um vendedor de pílulas especiais que saciavam a sede. Toma-se uma por semana e não é mais preciso beber.
? Por que vendes isso? ? perguntou o principezinho.
? É uma grande economia de tempo ? disse o vendedor. ? Os peritos calcularam. A gente ganha cinquenta e três minutos por semana.
? E o que se faz com esses cinquenta e três minutos?
? O que a gente quiser...
?Eu?, pensou o pequeno príncipe, ?se tivesse cinquenta e três minutos para gastar, iria caminhando calmamente em direção a uma fonte...?
?O que eu vejo não passa de uma casca. O mais importante é invisível...?
Aquela água era muito mais que um alimento. Nascera da caminhada sob as estrelas, do canto da roldana, do esforço do meu braço. Era boa para o coração, como um presente.
? Os homens do teu planeta ? disse o pequeno príncipe ? cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim... e não encontram o que procuram...
? E, no entanto, o que eles procuram poderia ser encontrado numa só rosa, ou num pouco de água...
(...) os olhos são cegos. É preciso ver com o coração...
A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...
O sentimento do irremediável me fez gelar de novo. E eu compreendi que não poderia suportar a ideia de nunca mais escutar aquele riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.
? Meu caro, eu quero ainda escutar o teu riso...
? À noite, tu olharás as estrelas. Aquela onde moro é muito pequena para que eu possa te mostrar. É melhor assim. Minha estrela será para ti qualquer uma das estrelas. Assim, gostarás de olhar todas elas... Serão todas tuas amigas. (...)
? As pessoas veem estrelas de maneiras diferentes. Para aqueles que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para os sábios, elas são problemas. Para o empresário, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém nunca as teve...
? Que queres dizer?
? Quando olhares o céu à noite, eu estarei habitando uma delas, e de lá estarei rindo; então será, para ti, como se todas as estrelas rissem! Dessa forma, tu, e somente tu, terás estrelas que sabem rir!
? E quando estiveres consolado (a gente sempre se consola), tu ficarás contente por teres me conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E às vezes abrirás tua janela apenas pelo simples prazer... E teus amigos ficarão espantados de ver-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: ?Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!? E eles te julgarão louco.
? Será lindo, sabes? Eu também olharei as estrelas. Todas as estrelas serão como poços com uma roldana enferrujada. Todas as estrelas me darão de beber...
? Será tão divertido! Tu terás quinhentos milhões de guizos, eu terei quinhentos milhões de fontes...
Recapitulando o início sobre a importância da flor no início e no final
Há milhões e milhões de anos que as flores produzem espinhos. Há milhões e milhões de anos que, apesar disso, os carneiros as comem. E não será importante procurar saber por que elas perdem tanto tempo produzindo espinhos inúteis? Não terá importância a guerra dos carneiros e das flores? Não será mais importante que as contas do tal sujeito? E se eu, por minha vez, conheço uma flor única no mundo, que só existe no meu planeta, e que um belo dia um carneirinho pode destruir num só golpe, sem saber o que faz, isso não tem importância?
(...) gosto, à noite, de escutar as estrelas. É como ouvir quinhentos milhões de guizos...
Mas eis que acontece uma coisa extraordinária. Na focinheira que desenhei para o pequeno príncipe, esqueci de juntar a correia de couro! Ele não poderá jamais prendê-la no carneiro. E então eu pergunto: ?O que terá acontecido no seu planeta? Talvez o carneiro tenha comido a flor...?
Às vezes penso: ?Certamente que não! O principezinho guarda sua flor todas as noites na redoma de vidro e vigia atentamente seu carneiro...? Então, eu me sinto feliz. E todas as estrelas riem docemente.
Ou penso: ?Às vezes a gente se distrai e isso basta! Uma noite ele se esqueceu de colocar a redoma de vidro ou o carneiro saiu de mansinho, no meio da noite, sem que fosse notado...? E todos os guizos então se transformam em lágrimas!...
(Percebi nessa parte que eu torcia para que a flor estivesse bem, por ser única entre milhares, para o Pequeno Príncipe ?)
Eis aí um grande mistério. Para vocês, que também amam o pequeno príncipe, como para mim, todo o Universo fica diferente se, em algum lugar que não sabemos onde, um carneiro que não conhecemos comeu ou não uma rosa...
Olhem o céu. Perguntem a si mesmos: o carneiro terá ou não comido a flor? E verão como tudo fica diferente...
E nenhuma pessoa grande jamais entenderá que isso possa ter tanta importância!