Queria Estar Lendo 13/12/2018
Resenha: O Navio dos Mortos
O Navio dos Mortos é o último volume da série Magnus Chase e os Deuses de Asgard, do querido Rick Riordan. Como sempre, o autor consegue entregar uma história hilária cheia de lições importantes e representatividade essencial - e, devo dizer, o melhor final que ele escreveu até hoje.
O Ragnarök - também conhecido como o apocalipse dos nórdicos - já tem data para acontecer, e está perto demais. Magnus e seus amigos são os únicos capazes de impedir Loki e o Navio dos Mortos de zarpar da geleira onde estão escondidos e, assim, impedir o fim dos nove mundos. Para isso, Magnus recebe algumas visões e predições do que ele precisa encontrar para derrotar o Deus da Trapaça. E, como a vida de todo escolhido não é nada fácil, ele obviamente vai ter que lutar contra gigantes, deuses cruéis e mortos-vivos se quiser impedir que o mundo acabe.
Eu vou repetir para todo sempre que esse foi o melhor final que o tio Rick escreveu porque é mesmo o melhor final que o tio Rick já escreveu. Os deuses sabem que esse homem sempre escorrega quando se trata de fechar suas séries - O Sangue do Olimpo que o diga -, mas, aqui, Riordan entregou um encerramento digno e de deixar saudades.
"Eu sabia que vários rios subterrâneos passavam por Valhala, mas não entendia como podiam estar sujeito a marés. Também não compreendia como o nível da água ali podia aumentar sem inundar todo o aposento. Por outro lado, eu estava tendo uma conversa com dois vikings mortos e um soldado da Guerra Civil, então decidi deixar a lógica de lado."
Magnus Chase e os Deuses de Asgard continua minha série favorita. Além do humor hilário e das sacadas geniais reimaginando a mitologia nórdica nos dias de hoje, essa também é uma das histórias com mais representatividade que já tive a alegria de ler. Personagem não-binário, personagens pan, gays, assexuais, indo além de contemplando doenças e distúrbios e deficiências; Riordan consegue criar heróis de todos os tipos, abraçando as diferenças e mostrando o poder que existe nelas.
"- Essa palavra parece um mu com um j. Será que as vacas escandinavas tinham sotaque?"
Magnus continua meu próprio filho; vou protegê-lo de todos os males. Aqui, encontramos um protagonista mais centrado, mas nem menos medroso ou cauteloso por isso. Ele já passou por poucas e boas pra saber que o destino é um chute no seu traseiro - e ainda assim, para salvar os nove mundos, Magnus precisa encará-lo. Sua tarefa primordial para impedir o apocalipse é bem simples, até: derrotar Loki em um desafio de insultos. Mas é O desafio de insultos, aquele que o Deus da Trapaça ganhou de todos os outros deuses de Asgard. Perceba, Ivair, a petulância do destino.
Com essa pressão sobre seus ombros, Magnus ainda tem que guiar o grupo de heróis que escolheu se aventurar com ele em meio a mares perigosos, com todo tipo de armadilha esperando por eles. É exigir muito de um garoto pacífico, mas ainda assim Magnus carrega tudo com sua coragem e companheirismo. Ele não quer o protagonismo - ele quer dividir essa aventura heroica com aqueles que estão ao seu lado. Conforme percebe isso, mais Magnus se fortifica. Afinal, a força e a coragem dele estão nas pessoas que ele ama, por quem ele luta.
"- Palavras podem ser mais letais que lâminas, Magnus."
Blitz e Hearth são peças-chave para o garoto. O anão e o elfo continuam carismáticos e maravilhosos e eu poderia abraçá-los para sempre por viverem momentos tão incríveis nessa história. Hearth, confrontando seu passado em definitivo, e Blitz como o escudo contra qualquer coisa que se ponha no caminho dos seus amigos.
"O mundo, os mundos, eram bem mais interessantes por causa da mistura constante."
Samira continua a figura mais racional, mas ela também enfrenta seus perrengues; está no ramadã, o que significa jejum durante o dia todo - e a força que essa garota tem mesmo sem comida e água é de saltar aos olhos. O modo como o autor representou sua cultura e sua religião é de um respeito tamanho que emociona; eu só consigo pensar nos leitores e leitoras que se veem representados na Samira e o quanto isso é importante - assim como em tantos outros personagens.
Alex, a personagem não-binária (e estou usando o feminino aqui porque personagem é uma palavra feminina) divide os melhores momentos com o Magnus. E quando eu digo melhores momentos quero berrar ESSE MEU SHIP É A COISA MAIS MARAVILHOSA DOS NOVE MUNDOS!
"- Alex. Quanto mais eu descubro sobre você, mais eu te admiro."
Nada melhor do que uma amizade baseada em sarcasmo e ironia se transformando em algo mais; nada melhor que uma personagem afiada e decidida como Alex flertando discretamente e desenvolvendo uma queda do abismo pelo Magnus - que é um tapado e demora muito pra perceber isso. Nada melhor do que a confiança e o apoio que eles dividem, e como isso é importante para ambos.
Alex, inclusive, que personagem incrível; toda badass e chutadora de bundas, mas com falhas e receios que tornam sua personalidade tão cheia de nuances.
O resto do grupo se compõe por T.J., Mestiço e Mallory - cada um ganha seu momento de triunfo e aceitação, lidando com os terrores do seu passado para encontrar força em seu presente. T.J. é todo bom humor, Mestiço e Mallory são dois cabeças duras, e o trio enriquece absurdamente a trama que já era fantástica.
"- Eu me dei conta de uma coisa: não dá pra sentir ódio para sempre. Não vai afetar nem um pouco a pessoa que você odeia, mas vai te envenenar, com certeza."
E, claro, não posso deixar de mencionar o Jacques - a Espada do Verão. Pense numa espada simpática, com as melhores tiradas e o melhor humor. Não dá pra não se apaixonar por ele. Eu nunca pensei que meu personagem favorito seria uma espada mas aqui estamos louvando Jacques!
Em relação às provações dos heróis, tudo é bem encaixado. Tio Rick promete um final grandioso e ele cumpre, com a graça de Odin. De novo, ele desenvolve a mitologia e os dias atuais com uma riqueza de detalhes que não dá pra mesurar. Tudo faz sentido; o homem consegue encontrar um jeito de explicar tudo no melhor momento possível, tornando a história ainda mais interessante.
"O deus do mar Aegir era quem dava as cartas. Ele só precisava dizer "Matem todos" e estaríamos fritos. Lutaríamos corajosamente, sem dúvida. Mas morreríamos."
As participações especiais vindas da sua outra série são de encher os olhos - EU ME EMOCIONEI MUITO PORQUE ADORO UM CROSSOVER, COM LICENÇA -, e tem até uma pontinha de desespero que ele puxa para As Provações de Apolo. Riordan é mau e cruel e dono da minha conta bancária.
No mais, O Navio dos Mortos é um final inesquecível para uma trilogia fantástica. Você vai rir até sua barriga doer e vai se emocionar nos momentos mais inesperados, e vai terminar pedindo por mais.
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