zize 26/10/2023
Me surpreendeu
- tem spoiler -
Para ser sincera só li porque precisava fazer um trabalho pra faculdade. Eu poderia ter visto um resumo? Sim eu poderia, mas eu preferi ler o livro porque sim kkkk. Por conta própria eu acho que nunca teria lido, talvez num futuro muito distante. No fim das contas achei que valeu a leitura e a experiência. Não sou muito chegada em clássicos e tal, raros são os clássicos que eu realmente tenho vontade de ler, então foi meio surpreendente pra mim que eu realmente tenha gostado e sentido algo em relação a história e aos personagens, principalmente partindo do pressuposto que não estava nos meus planos ler esse livro.
Eu gostei do livro, achei que ia achar chato e tal, mas até que não. Achei a escrita no Lima Barreto envolvente, não tem uma linguagem super hiper mega difícil que você tenha que ficar parando toda hora para pesquisar coisa e tal, vamos dizer que achei ?acessível?. Mas também vou atribuir isso a edição da Antofágica que foi bastante prática e tinha nota de rodapé, notas complementares e tudo? enfim, acredito que a edição faz toda a diferença na leitura de clássicos assim. Porém não vou mentir, tiveram sim momentos que me senti um pouco perdida e de saco cheio (mas vou atribuir isso ao fato de eu estar lendo ?obrigada?), mas indepedendte disso não dá pra negar que tem sim momentos mais lentinhos, que a história dá uma enroladinha e fica meio maçante, principalmente quando se tratava de histórias e personagens paralelos.
Agora em relação ao enredo e tudo o mais eu achei realmente interessante, o livro faz muitas críticas, tudo num tom meio irônico e de provocação, traz ainda algumas boas reflexões. Tiveram alguns capítulos e passagens que gostei muito muito, e eu achei os personagens bons, o Policarpo, o Ricardo e a Olga. E fiquei bastante sentida com a morte da Ismênia. Gostei muito do jeito que algumas coisas foram escritas e em como o sentimento foi passado pro leitor. Você chega no final com aquela tristezinha, aquele sentimento de que não deveria terminar assim (mesmo sabendo que esse é o único final possível para tornar a obra o que ela é e fazer jus a toda crítica e o significados que foram propostos) mas que ainda assim você fica sentimental e pensativo, porque ele percebe que não construiu nada concreto na vida, não fez coisas marcantes, viu que iria morrer longe de quem se importa minimamente com ele e que vai morrer nas mãos da pátria que ele tanto amou e defendeu. Esse finalzinho com essa reflexão dele e da Olga realmente me deram vontade de chorar.
Agora vou aproveitar essa resenha para recapitular tudo pro trabalho:
Gênero: romance
Estilo: pré modernismo
Tempo: final do séc 19, revolta da armada
Espaço: Rio de Janeiro
Narrador: em 3 pessoa, onisciente
o livro conta a história de um homem chamado Policarpo Quaresma, que é uma pessoa simples, sem muitas posses, não é casado nem tem filhos. Ele mora no Rio de Janeiro com a sua irmã, Dona Adelaide, e trabalha como subsecretário no arsenal da guerra. E ele é um ufanista, patriota, completamente apaixonado pelo Brasil e vive idealismos nacionalistas, ele tem essa ideia de que o Brasil é superior em tudo e isso faz com que muitas vezes ele seja incompreendido e ridicularizado pelas outras pessoas. O livro trata tudo com um tom irônico e faz muitas críticas à sociedade da época (burguesia, burocracia, pseudointelectualismo, nacionalismo e ufanismo exagerado).
Essa ideia (de patriotismo) é construída ao longo da narrativa da seguinte forma : O livro é dividido em 3 partes e em cada uma dessas partes o Lima Barreto faz uso de algumas linhas de pensamento para poder expor como era o patriotismo do policarpo e os sonhos patrióticos dele.
PRIMEIRA PARTE: CULTURA
A primeira parte do livro é dedicada a explicar como é a vida do policarpo e de outros personagens que possuem histórias paralelas à dele, e como esse amor dele pelo brasil se manifesta e como as pessoas ao redor dele veem e recebem isso. A linha de abordagem usada nessa parte por Lima Barreto é a da cultura, então o personagem valoriza a língua, os costumes, a história brasileira e essa visão dele está presente em vários acontecimentos como a tentativa de aprender violão para tocar modinhas, estudar as tradições tupinambás, estuda a língua tupi guarani (voltar nos exemplos dados no tópico anterior). Dessa forma ele busca basicamente o resgate da cultura alimentando uma imagem distorcida do país.
SEGUNDA PARTE: AGRICULTURA
A segunda parte se dá devido ao tempo que o policarpo passa no hospício (citar o exemplo do ofício em tupi) ela tá focada nessa questão territorial, geográfica e agrária. Então ele decide comparar este sítio que ele chama de ?Sossego?, se muda para lá com a irmã e começa a plantar milho e feijão, só que ele encontra 3 grandes empecilhos para fazer as plantações dele vingarem, sendo eles: 1. Política (ele não entra no clientelismo (troca de bens e serviços por apoio político) da região e os políticos começam a persegui-lo cobrando muitos impostos, e fazendo muitas exigências em relação à chácara dele) 2. Deficiência de estrutura para produzir naquelas terras (condições agrárias: clima, propriedades do solo?) coisa comum naquela época e 3. Formigas saúvas, elas acabaram com as plantações dele. Esse projeto com fazenda também não dá certo, e o sítio acaba definhando com, então ele percebe que as terras brasileiras não eram férteis como ele imaginava e que as saúvas são arrasadoras para as plantações.
TERCEIRA PARTE: POLÍTICA
Na terceira e última parte do livro é quando arrebenta a revolta da armada (Se deu no governo de Floriano Peixoto, que era vice de Deodoro e assumiu a presidência da república logo após a renúncia do mesmo. Porém, de acordo com a Constituição vigente na época (1891) se o presidente não completasse os primeiros dois anos do seu mandato, uma nova eleição deveria ser convocada. Dessa forma, Floriano Peixoto deveria assumir o poder e convocar novas eleições, mas ele permaneceu no cargo. Isso gerou uma reação de generais do Exército, escreveram uma carta-manifesto exigindo o cumprimento da Constituição e a convocação de novas eleições. Floriano puniu os signatários do manifesto com a prisão deles. A Marinha novamente entrou em cena e exigiu a convocação de novas eleições.) Nesse momento, quando o Policarpo fica sabendo da revolta, ele resolve lutar também como soldado voluntário ao lado do Marechal Floriano Peixoto. Com o decorrer do conflito armado, o major percebe a incoerência de tudo aquilo. Seu triste fim então se aproxima, quando ele é preso por protestar contra o tratamento dado aos prisioneiros
e se decepciona com o seu idealizado Marechal Floriano Peixoto e ao criticá-lo, é preso e condenado à morte. Ricardo e Olga tentaram tirá-lo da prisão, mas seus esforços foram em vão.
No fim, de maneira totalmente irônica, Policarpo Quaresma morre nas mãos da pátria que tanto amou e defendeu.
Considerações:
Dessa forma fica claro que o patriotismo de policarpo é exagerado, fanático e irreal. Ele criou uma ilusão e que no fim das contas só o prejudicou. Tanto que no final do livro, prestes a morrer, o Policarpo finalmente percebe como que a ideia que ele tinha do brasil era distante no brasil de verdade. E aí tem duas passagens bem marcantes de quando ele tem esse insight de ver que tudo que ele fez e projetou não valeu e nem vai valer de nada.
?Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o considerava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara ? todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara.?
?...e assim é que ia para a cova, sem deixar traço seu, sem um filho, sem um amor, sem um beijo mais quente, sem nenhum mesmo, e sem sequer uma asneira!?
E é dessa forma bem marcante, sarcástica e até meio desesperada que o Lima Barreto constrói o patriotismo do Policarpo com o objetivo de escancarar essas críticas à sociedade e ao sistema brasieliro dentro da narrativa. Enfim, o patriotismo é apaixonado, fantasioso e que consumiu e cegou ele.