Ivan 04/04/2022
Amor à pátria
Nascido em 1881 no Rio de Janeiro, Afonso Henriques de Lima Barreto era órfão de mãe e teve uma trajetória brilhante na escola. Quando adulto, trabalhou no Ministério da Guerra. Lima Barreto foi um escritor e jornalista brasileiro, conhecido pela publicação de sátiras, folhetins, crônicas e romances de tom anarquista no início do século XX. Foi considerado um dos principais escritores do período pré-modernista. As obras de Lima estão ligadas a tons sociais e nacionalistas.
Em sua obra mais famosa "Triste Fim de Policarpo Quaresma", Lima Barreto nos apresenta sua visão sobre o país da época. O livro foi lançado em 1915, porém os capítulos dessa obra tinham sido publicados desde 1911, em folhetins no Jornal do Comércio.
O livro é uma sátira aos ideais positivistas e nacionalistas que nortearam os primeiros anos do regime republicano no Brasil. Ocorrida nas vésperas da Revolta Armada, durante o governo de Floriano Peixoto, a história narra as desventuras de Policarpo Quaresma, o personagem principal da obra. O romance se desenrola principalmente na cidade do Rio de Janeiro.
Policarpo Quaresma, também conhecido como Major, era um homem extremamente patriota e com alguns hábitos incomuns que espantavam as pessoas que o conheciam. Ele possuía muitos ideais inovadores para a época e vivia preocupado com os rumos da nação. Era um homem de baixa estatura e magro, uma figura miúda, porém estudioso e interessado nos assuntos nacionais, menos na política, já que não gostava de se envolver nesse meio. Apesar de muito respeitado, era tido como louco por suas manias e atitudes desvairadas, principalmente após ter proposto que a língua nacional fosse o tupi-guarani.
Quaresma acreditava que o nacionalismo era o único meio de triunfo do país. Porém, para ele o termo nacionalismo teria que ser considerado ao pé da letra. Em sua visão deveriam ser valorizadas as nossas riquezas naturais, a nossa língua (no caso o tupi) e instrumentos musicais locais, sem espaço para nada que tinha influência ou origem europeia.
Lima Barreto criticava tudo relacionado ao processo de modernização do Brasil. Foi um dos inovadores da literatura brasileira, com sua forma de escrever e com os temas que abordava. Criticava veementemente a sociedade e seus costumes, abrangendo preconceitos e as diferenças sociais da época. Ele via na literatura uma forma de denunciar toda a hipocrisia que imperava.
O enredo narra os fatos em ordem cronológica e em 3ª pessoa, sem que o narrador participe da história. A obra começa em 1891 e vai para o seu desfecho em 1894. A linguagem é mista e traz expressões e gírias do Rio de Janeiro da época, palavras estrangeiras e até mesmo um toque de tupi-guarani. Além disso, a escrita de Lima Barreto é repleta de palavras e expressões difíceis e, em alguns casos, fora de uso atualmente.
Mais que um simples romance, Lima Barreto escreve uma crítica aos conceitos positivistas da Primeira República e ao conceito de falso nacionalismo que ocorria no Brasil. A obra é um pouco cansativa e repetitiva em alguns trechos, mas vale a pena ser lida para conhecer o que é o real amor à pátria.