J Bruno 24/01/2017
O Crime de Lord Arthur Savile e O Fantasma de Canterville
O primeiro conto, "O Crime de Lord Arthur Savile", narra o desespero do jovem lorde após um quiromante lhe revelar que muito em breve ele mataria alguém. Sem ter inimigos, nem mesmo desafetos, Arthur não imagina como isso pode acontecer. Mas, a possibilidade de que o seu casamento, já com data marcada, possa ser destruído por um escândalo o deixa angustiado. Ele decide então adiar o casamento e matar alguém da forma mais discreta possível, para assim se livrar o quanto antes da infeliz profecia. Após listar em uma folha de papel todos os seus parentes e amigos, ele escolhe quem é a vítima ideal e resolve colocar o plano em prática.
Em "O Fantasma de Canterville", Mr. Otis, um ministro americano, se muda com a família para um antigo casarão inglês que tem fama de mal assombrado. Desconsiderando todos os alertas, inclusive os do próprio vendedor, Otis decide se apegar ao racionalismo para encarar a inusitada situação em que se colocou.
A situação se torna desesperadora, não para a família, mas para o fantasma, que tem frustrada qualquer de suas tentativas de assustar os novos moradores. Às voltas com o materialismo do pai, e com as diabruras dos filhos, ele se desdobra para conseguir meios de ainda ser assustador.
Ambos os contos trazem temas e abordagens recorrentes na obra de Oscar Wilde: a degeneração moral e a hipocrisia da aristocracia, o apego às aparências e a futilidade da vida na alta sociedade inglesa de sua época.
Um aspecto em especial chamou a minha atenção no segundo conto: na trama, antes de colocar os seus planos em prática, o fantasma se prepara tal como um ator antes de entrar em cena, mas, todo o preparo é inútil, seu público não é mais sensível ao que ele tem para oferecer; o que faz com que ele chegue à conclusão de que a família Otis era incapaz de "apreciar o valor simbólico de fenômenos sensórios". Aqui o sobrenatural funciona como uma metáfora para a contemplação artística, que, assim como o medo do oculto, se via ameaçada pelo racionalismo e pelo cientificismo, que tanto marcaram o final do século XIX.
Tal como em "O Retrato de Dorian Gray", a obra-prima de Oscar, há aí uma reflexão sobre a arte, sobre o fazer artístico e sobre a posição do artista naquela nova sociedade industrial... esta mesma reflexão constituiria uma dos pilares do esteticismo, movimento que teve em Wilde um de seus principais representantes.