Milena.Saleh 05/01/2024
Machado reflexivo
Nunca vi Machado tão reflexivo em outro livro! Este trata de dois irmãos gêmeos que, desde o útero, nunca se deram bem - são completamente opostos em todos os aspectos. Há, no livro, a aparição constante do Conselheiro Aires, do Memorial de Aires, outro livro de Machado, e parte deste é ele quem narra. Não faltam também o romance, a morte, as intrigas, os acontecimentos históricos e as reflexões de metalinguagem (abundantes!), ingredientes que marcam essa fase já madura de Machado, sendo este o seu penúltimo livro publicado em vida.
Algumas frases icônicas: ?serve-se muitas vezes a liberdade parecendo sufocá-la?; ?a ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito?; ?o ódio rijo fortalece alguma vez o homem contra a frouxidão da piedade?; ?há estados da alma em que a matéria da narração é nada, o gosto de a fazer e a ouvir é tudo?; ?na mulher, o sexo corrige a banalidade; no homem, agrava?.
Apesar de algo complexo (Esaú e Jacó em especial), ler Machado é sempre engrandecedor, portanto fica a forte recomendação.