spoiler visualizarJosé Vitor 28/03/2023
"stop you putting roots in my dreamland"
Estranho pensar que essa peça, escrita em oitenta e quatro e que traz uma releitura do mito de orfeu em um contexto brasileiro, mais especificamente na favela carioca, consegue trazer, logo de início, uma dura reflexão e crítica tão atual, não é por acaso que vinícius de moraes exigiu que todos os atores fossem pretos.
o poeta coloca o samba popular em forma de poesia e música no violão de orfeu de uma maneira tão sucinta e clara que quase conseguimos ouvir os acordes. o lirismo presente é incrível, sem contar as referências e a nacionalização do mito, que agregam muito à identificação e à originalidade do texto. como peça teatral, deve ter funcionado melhor, ainda mais com a trilha sonora composta por tom jobim, mas como texto achei corrido demais. parece haver pedaços faltando, onde as personagens entram em cena apenas para sair logo em seguida. a própria passagem pelos "maiorais do inferno" me passou muito rápido. contudo, a peça se encerra assim como no mito, de maneira trágica mas muito mais poética.
"Juntaram-se a Mulher, a Morte a Lua
para matar Orfeu, com tanta sorte
Que mataram Orfeu, a alma da rua
Orfeu, o generoso, Orfeu, o forte.
Porém as três não sabem de uma coisa:
Para matar Orfeu não basta a Morte.
Tudo morre que nasce e que viveu
Só não morre no mundo a voz de Orfeu."