Evy 20/01/2011 Morte e Chocolate "Primeiro, as cores.
Depois, os humanos.
Em geral, é assim que vejo as coisas.
Ou, pelo menos, é o que tento".
A Morte. Sim, essa citação é dela. A quarta capa do livro diz:
"Quando a morte conta uma história, você deve parar para ler”. Essa dona "Morte" é diferente de tudo que pensamos dela. Ela presta atenção nas cores. É verdade, e diz ela que:
"O único dom que me salva é a distração. Ela preserva minha sanidade. {…} Mesmo assim é possível que você pergunte: {…} De que precisa se distrair? O que me traz à minha colocação seguinte. São os humanos que sobram. Os sobreviventes. É para eles que não suporto olhar, embora ainda falhe em muitas ocasiões. Procuro deliberadamente as cores para tirá-los da cabeça".
Sim, a Morte que gosta das cores. A morte que é amável, agradável, afável, mas não é simpática. E o mais interessante, é que ela tem uma cor preferida para o céu, no momento em que
"dependendo de uma gama diversificada de variáveis", ela se erguerá sobre nós,
"com toda cordialidade possível" e nossa alma estará em seus braços.
"Pessoalmente, gosto do céu cor de chocolate. Chocolate escuro, bem escuro. As pessoas dizem que ele condiz comigo. Mas procuro gostar de todas as cores que vejo ─ o espectro inteiro. Um bilhão de sabores, mais ou menos, nenhum deles exatamente igual, e um céu para chupar devagarinho. Tira a contundência da tensão. Ajuda-me a relaxar".
Não é fantástico?
Esse livro quase desbancou o meu favorito "O morro dos ventos uivantes". Ficou ali em segundo por um décimo! É perfeito, suave e trágico ao mesmo tempo!
A história se passa nos anos entre 1939 e 1943, na época do Holocausto. Liesel Meminger encontrou a Morte neste período por três vezes e saiu viva das três ocasiões. A Morte, de tão impressionada, decidiu contar a história de Liesel e nos presenteou com esse livro mágico e encantador. Desde o início da vida de Liesel, ela precisou achar formas de se convencer do sentido de viver. Assistiu seu irmão morrer no colo da mãe e foi largada pela mesma aos cuidados de pessoas estranhas: Hans e Rosa Hubermann, um pintor desempregado e uma dona de casa rabugenta. Trazia escondido em sua mala, um livro: O Manual do Coveiro. O rapaz que enterrara seu irmão deixara o livro cair na neve por distração e este foi o primeiro dos vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes.
E foi essa paixão pelos livros que salvaram a vida de Liesel naquele tempo de horror, quando a Alemanha estava sendo transformada diariamente pela guerra. O gosto por roubar os livros e a sede por conhecimento foram o sentido que ela precisava dar a sua vida. Além é claro do amor de Hans que se mostrou imensamente amável com ela e seu grande amigo Rudy, o namorado que nunca teve. E sempre ao seu lado, como testemunha de todo o sofrimento e poesia, estava a Morte, a narradora desta história.
Simplesmente inspirador, triste e maravilhoso. No livro ressalta-se muito a força e a magia das palavras e como elas podem salvar ou condenar. Pensando nisso e ainda muito emocionada com o livro, lembrei-me de uma citação que merece ser registrada aqui:
"As palavras sempre ficam. Lembre-se sempre do poder das palavras. Quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo".
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Silvana Duboc .
Leitura recomendadíssima.