Berta Isla

Berta Isla Javier Marías




Resenhas - Berta Isla


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juuuwidy 12/05/2023

"(...) pertence a essa classe de pessoas que não se veem protagonistas nem mesmo da sua própria história, abalada por outros desde o princípio; que descobrem no meio do caminho que, por únicas que todas sejam, a dele não merecerá ser contada por ninguém, ou será somente um objeto de referências ao contarem a de outra, mais agitada e cativante, e principalmente mais querida. Nem mesmo como passatempo de uma conversa prolongada à mesa ou de uma noite ao pé da lareira, sem sonhos. É o que costuma acontecer com as vidas que, como a minha e também a dele, na verdade como tantas e tantas, somente estão e esperam."
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Marina 08/05/2022

Terceiro título que leio do autor e gosto que sempre há algo como um mistério a ser resolvido, mas o principal são as digressões dos personagens, os pensamentos obsessivos. Tem muita ação acontecendo apenas na cabeça deles, o que também acontece em grande parte do tempo com a gente.
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João Carlos 20/04/2022

Até os espiões tem problemas no casamento
É longa a tradição de novelas de espionagem - para não falar do gênero mais amplo em que se encontra, do suspense policial. E com sítios bastante frequentados da literatura, sempre se tem a curiosidade com frutos novos: se irão atualizar de maneira inventiva lugares comuns, ou se conseguirão trazer algum frescor criativo ainda não visto. O caso de Berta Isla talvez seja o segundo.
Com sua prosa sofisticada, frases longas e recheadas de meditações de cunho filosófico, sociológicos e algumas vezes até historiográficos, Marías consegue submeter a trama policialesca ao drama de suas personagens centrais, o casal formado por Tomás Nevilson e Berta Isla.
Assim, das aventuras de Tom como agente do MI6 ou do MI5 - nem dos detalhes pueris o autor nos dá garantias - ficamos apenas com as desventuras em seu casamento com Berta, fruto de suas ausências prolongadas e silêncios dogmáticos.
Assim, as quase seiscentas páginas são preenchidas com meditações sobre as lacunas de um relacionamento baseado na distância e no silêncio, no cinismo e na conveniência. Não há que ser um espião da Coroa para compreender esses temas.
Além disso tudo, é pouco verossímil - mas não por isso menos prazeroso - alguns diálogos entre o casal onde fica claro que Marías os criou cultos e sofisticados apenas para vê-los debater temas prosaicos (brigas de casal, afinal)a sua imagem e semelhança.
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Biblioteca Álvaro Guerra 25/11/2021

" O decisivo nunca se mostra, nem mesmo se comunica, ou não na hora; ao contrário, se esconde e se silencia sempre, ou por muitíssimo tempo: eventualmente alguém conta quando já não interessa, quando é passado remoto, e para o passado as pessoas não dão a mínima, acham que ele não os afeta e não pode ser alterado, e têm razão neste último ponto."

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!


site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535933130
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Disotelo 04/10/2021

Palestrinha
1-Enredo:
Berta Isla é a esposa de um agente secreto e precisa enfrentar os dilemas gerados pelas ausências e segredos do marido, esses dilemas são ponto de partida para diversas digressões do autor.

2-Avaliação

A- Acessibilidade: Ótimo. Linguagem clara.
B-Conteúdo: Bom, o autor mostra sensibilidade e faz algumas reflexões bastante interessantes.
C-Trama: Boa, bem descrita e costuradinha, embora seja, continuamente, quebrada pelas longas digressões.
D-Intensidade: Razoável, até os 40% a história me manteve empolgado, entre os 40% e os 70% eu tive que me esforçar pra não abandonar o livro. Dos 70% o livro volta a ser interessante.
E-Concisão: Deixa a desejar. Fica a imagem de que o autor é o típico macho-palestrinha, de vez em quando ele enrosca numas divagações ou explicações desnecessárias, felizmente ele não enrosca em descrições, as descrições são bastante funcionais e diretas.
F-Verossimilhança: Razoável, nota-se que o autor não conhece o mundo da espionagem tão de perto, existem algumas falas um pouco caricatas, mas ao mesmo tempo existem dilemas e situações que conseguem gerar impacto, como o encontro com o casal de espiões e a sub-trama do toureiro.
G-Personalidade: Bom, a mistura entre espionagem e intimismo, entre narrações e ensaios, a vitalidade das descrições e de algumas digressões dá uma certa singularidade a obra.


3-Recomendação:Não deve ser o melhor livro do autor, mas pra quem gosta de digressões intimistas pode até agradar.
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André Vedder 28/07/2021

Berta Isla
Javier Marías já me conquistou desde as primeiras linhas de Berta Isla. E em nenhum momento das mais de 500 páginas senti algum cansaço ou enfado na leitura, mesmo sendo um enredo aparentemente simples: a visão de uma esposa de um agente secreto do governo britânico. Mas na verdade é muito mais que isso, é um livro sobre espera, escolhas e consequências, esperança, amor, mundo e muito mais.
Sua escrita é digna dos grandes autores contemporâneos e permeada de ótimos diálogos.

" O povo, que muitas vezes é vil, covarde e insensato, os políticos nunca se atrevem a criticá-lo, nunca brigam com ele nem criticam sua conduta, ao contrário, invariavelmente o enaltecem, embora ele costume ter pouco de enaltecedor, o povo de nenhum lugar. É que ele se erigiu em intocável e faz as vezes dos antigos monarcas despóticos e absolutistas. Como esses, possui a prerrogativa da veleidade impune, não responde pelo que vota nem pelo que elege, pelo que apoia, pelo que cala e outorga ou impõe e aclama. Que culpa teve pelo franquismo na Espanha, pelo fascismo na Itália ou pelo nazismo na Alemanha? Nenhuma, nunca; sempre se torna vítima e jamais é castigado. O povo não é nada mais que o sucessor daqueles reis arbitrários, volúveis, só que com milhões de cabeças, isto é, descabeçado. Cada uma delas se olha no espelho com o indulgência e alega dando de ombros: "ah, eu nem imaginava. Eles me manipularam, me induziram, me enganaram e me desencaminharam. Como eu poderia saber, eu, pobre mulher de boa fé, pobre homem ingênuo?".

" Há muitas mulheres desesperadas para ter um homem, qualquer um. Tantas quanto homens desesperados para ter uma mulher, qualquer que seja. Costumam acabar se juntando uns aos outros, e assim vai o mundo insatisfeito."

" Não há nada mais inamovível do que a conjunção de sentimento e vontade."
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Valéria 01/09/2020

É o relato de uma espera em toda sua solidão. São silêncios que gritam através dos sentidos de Berta, que se mantém firme na ilha de um casamento permeado de ruído e pressa, intercalado por longas ausências, de muitas dúvidas e poucas perguntas, que nos faz pensar sobre amar, abraçando as sombras de quem nunca conheceremos por inteiro.

Este com Todas as Almas, Seu rosto amanhã e Os Enamoramentos, faz de Javier, essencial.
Alê | @alexandrejjr 23/09/2020minha estante
Fiquei curioso pra saber qual foi a tua nota, Valéria. Cinco estrelas?


Valéria 26/09/2020minha estante
Sim, é perfeito!




Paulo Sousa 28/07/2020

Leitura 36/2020
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Berta Isla [2017]
Orig. Berta Isla
Javier Marías (ESP, 1951-)
Companhia das Letras, 2020, 552 p.
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?A história é cheia de mulheres que ficam e esperam, que olham para o horizonte todos os dias ao entardecer tentando divisar uma figura familiar e que justamente se dizem isto: ?Hoje não, hoje também não, mas quem sabe amanhã sim, amanhã quem sabe?? (Posição Kindle 4547).
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Berta Isla, terceiro livro que leio deste autor maravilhoso que é Javier Marías, é um primor da literatura, um livro que mistura espionagem ao já tradicional talento do escritor espanhol (é para mim o atual maior escritor vivo com o trágico desaparecimento de Philip Roth), para dissecar os relacionamentos. Conta a história de amor canhestra e disfuncional entre Berta Isla, uma jovem professora de literatura, que se apaixona por Tomás Nevinson, um jovem estudante de Oxford, meio espanhol, meio inglês, a cujas habilidades notáveis para aprender línguas e imitações impecáveis de sotaques o fizeram ser recrutado para o serviço secreto britânico.
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Uma vez casados, Berta tem de lidar com os segredos do marido, com essa eterna aura de mistério e desfaçatez, suas ausências cada vez mais espaçadas, a cujo hiato cada vez mais espaçado entre os dois se consolida de vez com o súbito desaparecimento de Tomás.
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Marías leva o leitor para o turbulento interior dos pensamentos de Berta, choramos com ela, nos angustiamos pela longa e infecunda espera, como que junto a ela espreitamos pela fímbria da janela a esquina vazia nunca preenchida pelo retorno de seu marido. Os anos passam e Berta é envolvida por essa atmosfera esfumada - palavra que permeia todo o romance, onde nada lhe é dito, mas tudo é cogitado, levando esta personagem fascinante aos píncaros do desespero.
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Marías, brilhante como sempre, mescla referências literárias (Shakespeare, Beckett, Eliot e Balzac), históricas (a Guerra das Malvinas e a revolução na Irlanda do Norte) com essa habilidade incomum de assombrar com palavras poderosas com alto teor filosófico para falar do sentimento de perda, de abandono, de desesperança, de reviravoltas, de traições, de reconciliações, de fuga, de reencontro e, por fim, de renovada esperança, esse ciclo tão presente à vida que conhecemos. É um bálsamo, um enorme alento ante tanta aridez plástica, impessoal, trôpega, presente em livros dispensáveis com os quais sempre topamos e que jamais deveríamos perder tempo.
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Delano Delfino 24/07/2020

“O próprio Tomás, desde jovem, desde adolescente, nunca esteve interessado em se conhecer nem em se decifrar, em averiguar que tipo de indivíduo era. Aquilo lhe parecia um exercício de narcisistas e uma perda de tempo. Pode ser que nisso não tenha mudado, apesar do longo caminho vivido, ou pode ser que se conheça desde os primeiros passos de sua consciência. E por que eu deveria me empenhar em entender alguém que não se observa? Temos muitas pretensões: pretendemos decifrar as pessoas, sobretudo quem dorme e respira ao lado do nosso travesseiro.”
A escrita poética de Javier Marías, nos faz refletir sobre os relacionamentos. Sobre a entrega que temos a cada relacionamento na nossa vida e sobretudo sobre a nossa responsabilidade nisso tudo. Como as vezes, mesmo não sendo plenamente felizes, nos agarramos a certezas antigas e mantemos relacionamentos fadados ao fracasso por medo de admitir para nós mesmos que estamos errados.
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Aguinaldo 15/10/2017

Berta Isla
É pouco provável que seja verdade, mas nos acostumamos a identificar em um homem, Homero, o autor de duas das maiores criações da espécie humana, que são os poemas épicos que chamamos Ilíada e Odisseia. Se no primeiro poema se canta a ira de Aquiles, um breve episódio da longa guerra entre gregos e troianos, no segundo se conta as aventuras de Ulisses/Odisseu em sua longa jornada de volta à Ítaca. Pois ao terminar esse notável "Berta Isla", livro mais recente de Javier Marías, senti-me como um efebo grego do século VIII antes do inicio desta nossa era (in)comum, que ao redor de uma fogueira, após terminada a frugal refeição do cair da noite, pede a um velho aedo que conte uma vez mais os sucessos daqueles heróis que alternavam batalhas sangrentas com holocaustos e libações aos deuses. Javier Marías, venerável aedo contemporâneo nosso, com seu engenho inventou um novo portento, tão bom e instigante quanto seu "Tu rostro mañana", de forma que para mim "Berta Isla" está para a Odisseia como Tu rostro mañana está para a Ilíada. Vamos a ver. "Berta Isla" é longo, quase 550 páginas, dividido em dez cantos/capítulos, ora narrados por um observador onisciente, em terceira pessoa, ora pela heroína da historia, Berta, em primeira pessoa. O que o leitor encontra no livro são as lembranças de Berta (lembranças contemporâneas, de 2016, 2017), sobre as circunstâncias de como conheceu nos anos 1960 um rapaz, Tomás Nevinson, casou-se e teve um casal de filhos com ele, nos anos 1970, e ficou treze anos, de 1982 a 1994, sem ter a certeza se esse seu marido estava morto ou vivo. Trata-se, como o próprio Marías diz em um teaser, da história de uma espera, uma espera como a de Penélope na Odisseia. Tomás (ou Thomas ou Tom) é daquela estirpe de protagonistas de Marías que tem um especial talento para línguas, para imitação de acentos e comportamentos, posturas, para interpretar rapidamente o caráter de seus interlocutores (como Jaime Deza em Tu rostro mañana ou narrador sem nome de Todas as almas, entre tantos outros). Após conhecer Berta em um colégio interno na Madrid franquista, na segunda metade dos anos 1960, Tomás, filho de uma espanhola com um cidadão inglês, viaja para a Inglaterra para seus estudos universitários, onde acaba conhecendo Peter Wheeler (o grande hispanista, professor de Oxford, que já conhecemos de Tu rostro mañana) e, por um desvio do destino, que define todo o livro, o diabólico Bertram Tupra, também personagem daquele livro e que talvez seja mesmo o alter ego ideal de Javier Marías (sempre imagino Marías dizendo para mim don't linger or delay, toda vez que postergo uma tarefa ou decisão). Ao voltar para Madrid e casar-se Tomás assume um posto importante na embaixada inglesa, mas suas viagens recorrentes e ausências logo fazem Berta entender que seu marido atua não em tarefas burocráticas, mas em algo relacionado a espionagem, ligado ao serviço secreto inglês. Não me atrevo a descrever mais detalhadamente o livro, pois estaria roubando do leitor o prazer de uma miríade de descobertas. Não se trata de um romance de época, onde se fala da sociedade espanhola ou europeia dos anos 1970, 1980 ou 1990, que retrate panoramicamente estes anos, o ambiente e acontecimentos destes anos. Todavia, ao acompanharmos as reflexões e digressões de Marías, aprendemos algo sobre como o destino dos indivíduos é aleatório e único, como é impossível que uma acepção simples, como "anos 1980", por exemplo, identifique algo que seja válido para não mais do que apenas um punhado de pessoas que viveram naquela época ou estudaram detalhadamente sobre aqueles tempos. Enfim, mesmo a lembrança dos fatos que vivemos é construída. Talvez eu volte a esse registro e escreva mais. Escreva sobre Little Gidding, poema de Eliot, tão presente no romance; sobre as metamorfoses de Tomás Nevinson; sobre o caráter de Tupra; sobre como Lord Wheeler lembra as Moiras gregas; sobre Eric Southworth, amigo real de Marías, inserido no livro, como já vimos Marias fazer com Francisco Rico em "Los enamoramientos"; sobre o papel do cinema na imaginação de Marías; sobre uma passagem retirada do Henry V, de Shakespeare; sobre a figura dos fantasmas; sobre a manipulação, de indivíduos e de toda a sociedade, em todos os tempos; sobre o fato de também Ulisses ter ido a guerra de Tróia por força de um ardil; sobre a força da frase: "Desde cuándo la gente ha elegido sus vidas?"; sobre os livros que há em Berta Ilsa (há uma boa compilação deles no Librotea); e sobre tantas outras coisas. Mas não consigo fazer isso agora. Paciência. Preciso e vou reler o livro. Não consegui conter-me e o li quase de um fôlego só, um longo fôlego de quatro dias. Marías terminou de escrever "Berta Isla" em abril deste ano, o livro foi impresso em agosto e lançado oficialmente no 02 deste setembro que hoje termina. Recebi o livro na manhã do dia 10 (não pelo inútil serviço dos correios brasileiros, claro, mas pela DHL, graças aos esforços da Casa del Libro espanhola), comecei a ler naquele dia mesmo e terminei na quarta-feira, dia 13. Que dias felizes! Termino de escrever esse registro hoje, 30 de setembro, véspera do plebiscito que poderá definir a independência da Catalunya e uns poucos dias antes do anúncio do prêmio Nobel de literatura (e eu sempre aposto no Marías, claro). Evoé Marías, evoé!
Registro #1218 (romance #326)
[início: 10/09/2017 - fim: 13/09/2017]
"Berta Isla", Javier Marías, Madrid: Alfaguara (Grupo Santillana de ediciones / Penguin Random House Grupo Editorial), 1a. edição (2017), brochura 15x24 cm, 544 págs. ISBN: 978-84-204-2736-2

site: http://guinamedici.blogspot.com.br/2017/09/berta-isla.html
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