Pri 20/10/2017Outro lado da morteRéquiem é uma história de terror e fiquei um pouco receosa quando comecei a ler, mas curti a leitura. A Bianca tem uma escrita muito cativante, seja lá qual for o gênero que ela resolva escrever.
"Nada de novo nos desejos humanos — desde que o mundo é mundo se deseja imortalidade, poder e amor."
Amadeus é professor de história da arte e guarda muitas dores em seu coração. Sofreu perdas que o deixaram marcado, mas que fizeram com que despertasse nele uma paixão pela arte sepulcral.
Um dia, quando estava no cemitério — um lugar que muito o encanta — montando uma de suas aulas, ouve um barulho estranho. À princípio, isso não o assusta, mas quando percebe o que realmente é, não sabe bem como reagir. Por anos imaginou que, ao finalmente ter seu encontro com a morte, iria recebê-la como uma velha amiga. No entanto, ao encontrá-la tão inesperadamente, seu primeiro instinto é lutar para sobreviver. Ele jamais poderia presumir que ela se apresentaria de tal forma.
"Era um mal necessário. Era natural e cruel. O ciclo da vida se fazendo valer. Aceitei que todo fim encontrava seu recomeço e nessa poesia vislumbrei um novo sentido para a morte. Decidi então persegui-la; assim, quando chegasse minha hora, eu a encararia de frente e diria: 'Há quanto tempo espero por você?'"
O conto é bem curtinho e surpreendentemente rápido de ler. Quando acabei, fiquei pensando "ué, já chegou no final?". rsrs
Amadeus é um personagem interessante, que poderia ser melhor trabalhado em uma história maior, mas que também não vejo necessidade de um livro. Ele passou por tristezas na vida, mas aprendeu a conviver com elas e se dedica a fazer bem o que gosta.
A história fala sobre perdas, solidão, mas também mostra que tudo na vida tem um lado belo, basta estarmos dispostos a enxergar essa beleza mesmo em meio às adversidades. E, claro, tem o lado da fantasia e do terror. A Bianca inseriu uma criatura pouco vista na literatura, que, por sinal, eu nunca tinha lido a respeito. É ela quem dá o toque macabro ao conto.
"Naquele dia de abril, descobri algumas verdades. A primeira delas era a de que um homem se forja na dor."
Até que eu não achei assustador, mas acho que o objetivo realmente não era dar susto. Ainda mais que a transição que a autora faz durante a história é tão suave, que quase não percebemos o que de fato está acontecendo.
A narrativa é em primeira pessoa, pelo ponto de vista de Amadeus, e se reveza entre o presente, lembranças do passado mais distante e acontecimentos do passado mais recente, ou seja, como ele chegou na atual situação. E aí começamos a prever o que vai acontecer.
Eu consegui perceber o que aconteceria no final, mas confesso que, mesmo assim, quando finalizei a leitura, me bateu um sentimento de tristeza. Em tão poucas páginas, me apeguei a ele, e fiquei torcendo por um final alternativo. Mas a vida é assim mesmo, né? Não está nem aí para o que queremos. rs
Para quem curte fantasia com nuances de terror, ou quer começar a se arriscar no gênero, fica a dica de uma história rapidinha, mas envolvente.
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http://www.sigolendo.com.br/2017/10/resenha-conto-requiem-bianca-sousa.html