helena 03/04/2023
A beleza é áspera
é dificílimo tentar falar sobre livros assim, intangíveis e quebradores de alma.
por pouco mais de um mês, vivi entre estes personagens e suas manias, e entendi o desejo intenso do richard de ser parte desse grupo, de viver o mundo pela perspectiva deles. essa vivência, no entanto, acaba se desenrolando em um peso culposo, em mentiras imparáveis e atrocidades suavizadas.
algo que se manteve marcado durante a minha leitura foi a solidão de richard, um tanto lírica, cercado de todos esses amigos-amores e ainda sim, se sentir profundamente só. em nenhum momento ele vê essa solidão como uma situação que ele mesmo se colocou, ou sequer interpreta como uma solidão de fato. é poético, doloroso, arrastado.
além do mistério, que é o de menos importância. no prólogo do livro sabemos o assassino e quem foi assassinado, o que nos dá uma falsa sensação de controle sobre os atos das personagens. você se sente parte daquele grupo, admitido por saber o mais sujo de seus segredos, e é surpreso pela quantidade de histórias secretas que estão escondidas.
os personagens são, ao mesmo tempo que acessíveis, sempre um elemento desconhecido. em especial, henry e julian. herny é magnético, manipulador e insaciável. julian é uma figura quase teocrática, uma divindade por entre as páginas e um salvador para as personagens.
apesar de todos os bons aspectos, não é um livro perfeito. é arrastado e longo, com alguns acontecimentos "estranhos". sinto que poderia ter 100 páginas a menos.
nada mais retrata que uma história bela e crítica, a ascensão e a decadência de uma elite que se vê tão esperta ruindo pela própria espada.
beleza é terror.
o que nos chamamos de belo nos faz tremer.