R...... 16/08/2019
Edição L&PM, traduzida por Alexandre Boide, publicada em 2019
Em termos práticos, acredito que a obra representa uma visão popular sensacionalista em reação ao darwinismo, que estava em projeção no contexto.
O destaque não está na metodologia científica (super grotesca, abusando do absurdo, o lado sensacionalista do livro), mas na idealização do homem como ser com ancestralidade animal, numa percepção visceralmente impactante. Do darwinismo, esse foi o aspecto que o autor privilegiou, sem querer ser fiel à teoria, apenas sensibilizando à essa visão, o que afinal estava em debate (e assim até hoje) junto ao público.
Delineando-se o romance, podemos partir para suas singularidades que, convenhamos, tornam esse um dos clássicos de terror mais trashs, pelo menos em minhas leituras... e isso não é uma crítica pejorativa.
No tal processo evolutivo, coisas como seleção natural da teoria são substituídas por vivissecção, sem muito papo explicativo, onde temos um projeto de humanos, o povo-bicho, a partir dos devaneios e loucuras de Moreau, o Dr Frankenstein dos animais.
É isso, o básico que entendi do livro, mas sei que é aberto a mais percepções como: a permissibilidade e ética na ciência; a exploração e escravismo através de ideologia manipuladora; e o confronto de ideias entre o que chamam de racionalismo científico e a espiritualidade do criacionismo.
Particularmente, esse último aspecto é trabalhado com bastante sutileza pelo autor, principalmente no derradeiro capítulo, quando o protagonista é invadido e perturbado por uma loucura que confronta as duas coisas. Em seu íntimo, sugere que não tem respostas para muitas coisas, desejando entender, tornando-se um racionalista materialista, desapegado a explicações espirituais, mas estranhamente encontrando certo alívio quando vê no céus um mistério incompreendido (as coisas necessariamente não estão expressas com essas palavras, mas tem esse sentido). Traduzindo em miúdos, é como se aceitasse o racionalismo científico como verdade explicativa, mas mesmo assim, encontrando paz apenas no espiritual para seus questionamento (sugestionando-se Deus).
Foi o que entendi, e quem quiser que conte outra.
Não posso encerrar sem dizer que não sou adepto do evolucionismo e creio no Deus único, criador dos céus e da Terra, salvador e redentor através do Senhor Jesus Cristo, a quem dou graças pela vida!
Sobre a edição, deixa a desejar, como na falta de informações sobre o autor ou texto introdutório. E a capa, hein! Pra lá de furreca! Exemplos de simplicidade que não curto.