Márcia 27/08/2023
O que é lugar de fala? - Djamila Ribeiro
Esta resenha do livro “Lugar de Fala”, escrito por Djamila Ribeiro em 2019, faz parte da coleção “Femininos Plurais”, coordenada por essa mesma autora. O livro tem como objetivo discutir diversas questões relacionadas ao feminismo negro e lugar de fala.
O primeiro capítulo, intitulado “Um pouco de história”, aborda a trajetória de lutas das
mulheres negras ao longo do tempo, a autora apresenta uma contextualização histórica antes
de iniciar a discussão sobre lugar de fala. Para isso a autora traz a história de Sojouner Truth,
que “nasceu em um cativeiro e foi abolicionista afro-americana, escritora e ativista” . A autora cita o discurso feito por Truth na convenção de direitos da mulher em 1851,
que se tornou conhecido mundialmente após ser registrado pela feminista Frances Gages em
um grande compêndio, de sua autoria, com materiais sobre a luta das mulheres negras .
A autora aponta que o discurso de Truth, denominado “E eu não sou uma mulher?”,
trouxe para o século XIX uma grande questão a ser debatida. Era uma luta de muitas pautas,
como identidade de gênero, orientação sexual e raça.
O segundo capítulo "Mulher negra: o outro do outro", aborda a percepção, a fala,
saberes e produções pela ótica das mulheres negras. Ribeiro recorre a diversos autores para
corroborar seu objetivo, entre eles a intelectual francesa Beauvoir, em sua perspectiva teórica
com relação ao gênero e à forma como a mulher é retratada, sendo considerada o "outro".
Recorre também a Grada Kilomba, que, conforme citado por Ribeiro em seus escritos,
sugere que outra forma como a mulher negra é vista é sendo “o outro do outro”.
É somente a partir do terceiro capítulo, "O que é lugar de fala?", que a autora aprofunda
a discussão que define o título do livro, recorrendo a teóricos para explicar o conceito. Ela
aponta que "a partir da teoria do ponto de vista feminista, é possível falar de lugar de fala" .
Ribeiro reforça a ideia da importância de discussões da pauta de feminismo
negro como uma forma de dar visibilidade a essas mulheres. Um dado que aponta é a pequena participação e presença de mulheres negras em cargos na área de Comunicação.
No último capítulo, "Todo mundo tem lugar de fala", a autora aborda brevemente os
diversos lugares de fala e afirma "que todas as pessoas possuem lugares de fala, pois estamos falando de localização social" . Também, pontua a importância de determinados
grupos privilegiados se perceberem a partir desse lugar, sabendo a que lugar eles pertencem.
O espaço virtual tem favorecido algumas pessoas a se perceberem como pertencente aos
grupos de lutas sociais sem visibilidade, utilizando meios para divulgar e apresentar sua fala.
Muitos têm tido visibilidade através das redes sociais, blogs e criação de vídeos