N.Barbosa 13/05/2020
É o fim do amor?
O modo estrutural como a sociedade se organiza acaba por interferir decisivamente na forma como nos relacionamos uns com os outros, na forma que que selecionamos o que iremos acompanhar e, sobretudo, na forma como desenvolvemos nossos sentimentos. Nesse caso, destaco especificamente o amor. E nisso há algo que sufoca o sentimento afetivo.
Em sua obra, ?Agonia do Eros?, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han tenta compreender as raízes desse processo. Para ele, ?estamos constantemente comparando tudo com tudo, e com isso nivelamos tudo ao igual, porque perdemos de vista justamente a experiência da atopia [diferenças] do outro.? Assim, tudo e todos são iguais. Nossa visão transforma o outro, portanto, em um simples objeto de consumo.
Han desta ainda que estamos voltados constantemente para o nosso universo, no modelo narcísico. Mas, nós mesmos não somos suficientes as nossas próprias necessidades, que deveriam ser preenchidas pelo outro. Dessa maneira, surge um indivíduo depressivo-narcisista loucamente em busca de sucesso, para a alta produtividade no trabalho ou qualquer outra área que se dedique. Han afirma que ?não se pode amar o outro, a quem se privou de sua alteridade; só se poderá consumi-lo.?
Nesta linha, esses fatos contribuem para uma falta de contemplação do outro, da fase de enamorar aquilo que nos falta. O amor nega o trabalho e o mero viver. O amor pressupõe intensidade e imprevisibilidade. Assim, não há espaço para os ?novos escravos?. Han destaca que ?por isso, o escravo, que se apega ao mero viver e trabalho, não é capaz de experiência erótica, de cupidez erótica.?
Mesmo com tanta liberdade, mesmo diante de tantas opções de escolha, nossa sociedade fica centrada em si mesma e entra na crise da fantasia, do desaparecimento do outro, do sufocamento do amor e, por fim, da agonia do eros. O excesso de trabalho, de produtividade e informações impedem que possamos enxergar e gerar empatia e amor ao outro. Enfim, ficamos impossibilitados de amar.
Livro curto, mas de uma densidade impressionante. Vale a leitura, vale questionar os sentimentos e dar uma oportunidade ao amor.