Os Possessos

Os Possessos Fiódor Dostoiévski




Resenhas - Os Demônios


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Vinícius 26/08/2020

Já no século XIX
Em meio ao turbilhão de ideias socialistas eles que dizem saber o que é melhor para todos, cometem assassinatos e provocam angústias em outros, nada diferente do que ocorre até nos dias de hoje. Tudo em prol da causa.
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Julio.Argibay 09/07/2020

Pulsilanimidade
Os demônios, Dostoievsky. Vamos começar nossa resenha / histórico por Varvara. Ela uma personagem bem complexa, altiva, dominadora, inatingível. A senhora vive da renda de suas propriedades, é uma aristocrata. Além de bens, ela possui alguns amigos, dentre eles, destaca-se o Sr Stiepan. Ele é um antigo amor do passado, que nunca foi oficializado, como tal. Stiepan foi professor, muito inteligente e culto, apesar de fraco e dependente dela. Depois de uma temporada na Suiça, paga pela amiga, ele ficou ainda mais melancólico no decorrer do romance. Outra figura que orbita sob a influência de Varvara é Praskovia Ivanovna, amiga que mora em sua casa. A jovem Lizavieta Nikoláievna é uma protegida dela e é a possível pretendente de Nikolai, seu filho. Varvara escreve de vez em quando para ele, que raramente a vê, pois mora no exterior e a relação entre eles não eh das melhores. De uma hora para outra, Varvara propõe que Liza case com Stiepan. Motivo, não sabemos. Essa menina sempre teve uma boa educação a seu dispor, inclusive com o próprio Stiepan. A menina faz parte da família Drozdov. O amigo professor, tem um filho, Piotr Stiepánovitch Vierkhoviénski, esse não eh flor que se cheire (um dos demônios). A propriedade onde mora Stiepan pertence ao filho e foi herança de sua primeira esposa. Nikolai perde muito dinheiro no jogo. Esse filho tinha um certo envolvimento com os comunistas quando estava no exterior. Devido a alguns aspectos desse noivado. (O interessante aqui é que o narrador da estória é amigo de Nikolai). Stiepan conhece Mavrikii Nikoláievitch, amigo de Liza. Parece que Liza e Nicolai tiveram um relacionamento no estrangeiro. Chatov levou o narrador a casa do capitão Lebiadkin, que mora com uma irmã num quartinho, em péssimas condições, praticamente na miséria. Mudamos de cernário, a governadora da província: Yulia Mickhailovna chega a cidade. A mãe de Lizavieta, Praskóvia Ivánovna. é amiga de infância e tem uma rixa com Varvara, que não fica explicita. Neste momento, estamos numa reunião com praticamente todos as personagens na casa de Varvara e são discutidos diversos assuntos que afligem quase todos eles, nesse momento chega Nicolai na casa da matriarca. Piotr tenta explicar o mal entendido a Varvara, sobre um evento do passado entre Nicolai e uma jovem louca no estrangeiro. Nessa reunião na casa de Varvara ouve de tudo até uma agressão a seu filho. Após uma semana, há um clima ainda de mistério... será que realmente os acontecimentos foram devidamente explicados, ou há algo no ar? Em breve saberemos, espero. Temos uma conversa com alguns conhecidos de Nicolai: Kirilov, Liputin, Stravroguin e Chatov; eles estão aprontando algo e parece ser muito grave. Nessa reunião falaram sobre: ateísmo, felicidade, etc. Aqui temos uma informação importante, Nicolai confirma que já se casou com Mária, a louca, e eles discutem sobre a moralidade dessa relação e em que condições este fato ocorreu. Eles se associam secretamente e já tinham pensado nisso desde a viagem a Amárica e numa estadia na Europa a algum tempo atrás. Após a reunião, Nicolai conversa com Chatov e Lebiadkin na casa deles. Temos direito ainda a um duelo entre Nicolai e Artemi, o motivo: já esqueci; Acho que foi uma agressão sofrida por Nicolai patrocinada por Chatov. Uma parada para conhecermos o marido de Yulia, Von Lembk, o governador e saber como se caracteriza a relação de amizade entre ele. Yulia e Piotr. Varvara e Stiepan tem uma discursão sobre a relação deles. Yulia pede a Piotr para animar mais o governador. Piotr pede por Chatov, responsável por ser parte de uma conspiração, na forma de distribuição de panfletos revolucionários. Karmasinov chega a cidade e Piotr vai visitar. No grande dia da festa sonhada e organizada por Yulia, aconteceu diversos inconvenientes que a deixaram deprimida, na verdade, nada deu certo: confusão, incêndio, etc. Os revolucionário estavam envolvidos, será? Devido a seu histórico Chatov é dispensado. Kirillov é um personagem importante na conspiração de Piotr, tendo em vista a vontade desse último. Pois sim, existe uma conspiração a caminho. Conforme foi planejado, Kirillov vai amarrar todos os nós e por isso eles acham que tudo vai acabar bem. (Será?). Mudamos de ares, agora Stiepan sai pela estrada sem destino em consequência de tudo que houve na festa. Ele acaba chegando a um vilarejo, lá ele conhece uma moça, mas logo em seguida adoece e Varvara chega para socorrê-lo. A polícia continua investigando os crimes ocorridos na cidade. No final das contas um dos jovens: Liamchin acaba contando como tudo aconteceu as autoridades. Piotr está envolvido, também nos crimes, assim como os demais companheiros revolucionários, mais isso não é o pior. Outro teve um destino pior. Aqui termina esta grande obra e assim concluímos o último dos cinco grandes livros de Dostoievsky, dentre eles: Crime e castigo, O idiota, Os irmãos Karamasov, O adolescente e Os demônios. Pra completar, vamos botar na lista livros menores, mas não deixam de ser importantes: Notas do subsolo e Noites Brancas. Qual será o próximo? Vamos ver. Considerações gerais: o romance é cheio de reviravoltas, há muitos personagens, principalmente aqueles que fazem parte do grupo revolucionário e a criadagem. Numa análise mais introspectiva eu acho que esses romances me deixam meio perdido, devido a quantidade de personagens envolvidos na trama. Normal né? O autor explora de forma magistral a psique dos personagens, explorando cada um: suas angústias, traumas, sofrimentos, idiossincrasias. Nesses romances há uma obsessão pelo suicídio, nessa sociedade e a essa dualidade entre servos x aristocratas. Aqui também eh mostrada as convulsões sociais das classes confrontadas e a forma como essas ideias envolvem tanto a aristocracia quantos aos trabalhadores, recentemente livres da servidão. Um caldeirão social bem intrigante e ao mesmo tempo confuso. Uma sociedade em ebulição e em transformação.
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EdwardF 02/07/2020

Os Demônios
Ontem, ao terminar a leitura de mais um "Dostoiévski", eu não quis ou, melhor, não consegui escrever uma resenha pois estava abalado com essa leitura, ainda que já tenha lido outras obras desse mago! Então, ao invés de fazer fazer uma resenha técnica, para qual eu acredito nem ter a capacidade, eu decidi apenas falar com sentimentos! Por isso me perdoem se isso soar chato ou sem graça, mas eu gostaria apenas de dizer que é um dos melhores livros que eu já li e, até hoje, o melhor "Dostoiévski". Ahhhh, seu bruxo!!! Ainda que realmente seja uma obra panfletária, eu ri, literalmente, quando Chatov corre de casa em casa, pedindo ajuda com o parto de sua esposa, eu chorei, ainda que metaforicamente, com a morte de pai, mãe e filho, eu vibrei de alegria com a prisão de pessoas más, fiquei com vontade de jogar o livro na parede, quando vilões escaparam ilesos ou quase escaparam (?), assim como vibrei quando alguns desses mesmos vilões se ferraram... eu já li livros ótimos, na minha humilde opinião, mas poucos mexeram comigo como este....
Só queria dizer: leiam, se quiserem viajar à Rússia e entender um pouco dessa cultura dura, selvagem e linda!
Dostoiévski, você é o carrancudo mais incrível que existe, o chato mais legal que existe!
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herbert40 21/06/2020

elegante e inteligente
"sua ideia é sórdida e imoral e exprime toda a insignificância da sua evolução. peço que não se dirija mais a mim."
virou minha frase de cabeceira, e vou usá-la para refutar pensamentos imbecis que sou obrigado a ouvir quase que diariamente. um livro necessário e obrigatório.

site: https://filmow.com/usuario/herbert_
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steh.alencar 10/06/2020

Em Os Demônios, Dostoiévski nos mostra uma narrativa madura e reflexiva. Com alguns personagens principais, o começo chega a ser confuso, mas logo os caminhos vão se ligando e nos mostrando um panorama maior do que estava acontecendo. Recomendo ler antes sobre a Rússia da época, vai ajudar muito a perceber o contexto histórico e entender alguns diálogos do livro.
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Cadu 02/05/2020

Premonição: retrato realista dos dias atuais
Uma leitura de Dostoiévski nunca é fluida, clara e inocente: espere por uma trama repleta de informações nas entrelinhas, leitura densa proporcionada por personagens complexos, clima pesado e obscuro, trama intrincada que obriga a constantes interrupções, para fins de análise e reflexão na tentativa de compreender melhor, o que torna a leitura lenta e por vezes cansativa mas não menos prazerosa. Conhecer o contexto histórico e sócio-político, tanto do momento retratado na narrativa como da época em que foi escrito, auxilia o entendimento daquilo que o autor quis transmitir.
Após a ?Reforma Camponesa? de 1861 houve uma proliferação de grupos de esquerda (ditos revolucionários) na Rússia, principalmente nos anos 1860 e 70 e a atuação política desses grupos era foco constante da atenção de Dostoiévski.
Em novembro de 1869 o assassinato do jovem I.I. Ivanov, membro de um desses grupos, pelos próprios companheiros chama a atenção do autor e inspira a criação de ?Os Demônios?, que assume abertamente um tom panfletário e isso não é segredo. Inclusive o líder do grupo envolvido no assassinato real, o estudante S. G. Nietcháiev, inspira a construção do personagem Piotr Stiepánovitch. Porém, não obstante esse assunto que domina o rumo dos acontecimentos existe mais de uma trama no romance, centradas em vários personagens que de alguma forma acabam se cruzando em algum momento da história, como em outros livros do autor.
A edição da 34, traduzida diretamente do russo, traz um último capítulo (?Com Tíkhon?) cuja inclusão foi feita posteriormente pelo autor e terminantemente recusado pelo editor, acrescentado à obra de forma póstuma, constituindo ponto culminante (e perturbador) da narrativa e que foi responsável por elencar o personagem Nikolai Vsievolódovitch Stavróguin no hall dos meus personagens prediletos de Dostoiévski ao lado de Ivan Karamázov, Rodion Raskólnikov e Parfen Rogójin.
Por fim o posfácio do tradutor Paulo Bezerra (que na minha opinião deveria ser ao invés um prefácio) sintetiza com primor os principais pontos da narrativa e revela a assustadora atualidade da obra, tomada como ?romance-profecia?, e vale cada minuto da nossa atenção.
?Dostoiévski (...) mostra em *_Os Demônios_* como idéias grandiosas e generosas, uma vez manipuladas por indivíduos sem consciência cultural nem princípios éticos, podem se transformar na sua negação imediata, assim como a utopia da liberdade, igualdade e da felicidade do homem pode degenerar na sua negação, no horror, na morte, na destruição. Idéias grandiosas não podem ser geridas por mentes pequenas que não fazem senão amesquinhá-las (...) Sem valores elevados é incoerente professar ideais elevados?.
Isso atinge de forma cirúrgica os acontecimentos no campo sócio-politico-cultural que tem dominado as últimas décadas não só no Brasil como no mundo.
Mais atual, impossível!!
Leitura obrigatória!!
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Cassius 27/04/2020

Uma história densa e profunda
É sem dúvidas o melhor livro que eu já li. Cheio de dúvidas, de questões em aberto... Suspense e várias emoções giram em torno dessa grande obra. Uma grande investida contra as forças niilistas da época de Dostoievski
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sherloking 09/04/2020

Não sei se comecei pelo livro errado, ao me interessar pela literatura russa rss, mas achei a leitura cansativa e detalhada demais em muitos momentos - algo que, de fato, não gosto. Detalhes são bons, ajudam na imaginação, mas existem momentos em que se tornam desnecessários e senti isso em diversos trechos da narrativa.

A quem gostar, a construção do cenário da sociedade aristocrática russa, bem como os personagens, nos aproxima bastante do tempo e espaço em que a história se dá.

O ápice do livro fez com que a história melhorasse e me deixou bastante curiosa pelo que viria depois, porém já estava praticamente no final ?

Enfim, espero ter outras experiências (e melhores) com autores russos depois.
Ziza 09/04/2020minha estante
Quer uma dica boa? Comece pelos contos.


sherloking 13/04/2020minha estante
Vou tentar! Agradeço.




IgorPessoa 07/04/2020

Os Demônios
Livro sensacional. Ler Dostoiévski é sempre um mergulho na alma humana, e aqui temos personagens complexos que nos fazem enxergar o perigo do "nada". Vemos ali durante a história,personagens engajados numa causa comum, que de comum não tem nada, já que cada um tem uma visão dessa causa e que quanto mais distante do topo se está, menos se entende dessa causa, e menos ainda se sabe a respeito dela. Um dos casos mais curiosos pra mim, foi quando após a noite fatídica que desencadeia o fato desse livro, um dos personagens do livro Liputin, pergunta ao chefe dessa célula revolucionária se eles seriam os únicos Revolucionários em toda a Rússia, ou se haveriam mais espalhados pelo país, isso deixa óbvio a falta de informações que os membros da base tem em relação a toda essa Causa Comum, e o quão distante do "Uno" esses membros estão.
Dostoiévski é profético, como Paulo |Bezerra bem pontuou no posfácio desse livro. Foi além do mero grupelho revolucionário numa cidade interiorana da Rússia do Século XIX ,E viu os horrores que isso viria a ser no século XX com milhões de mortos pela ideologia revolucionária.
O livro vale a pena ser lido também pela história, mas principalmente por seus personagens bem trabalhados, pela queda da maioria, pela redenção de poucos e pelo sangue que o autor não nos poupa.
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Diego Rodrigues 19/02/2020

Obra atemporal
"Os Demônios" talvez seja o romance mais político de Dostoiévski. A obra foi inspirada em um fato ocorrido na Rússia do século XIX, mais precisamente no ano de 1869: o assassinato do estudante I. I. Ivanov pelas mãos do grupo niilista liderado por S. G. Nietcháiev. Esse acontecimento chocou e gerou reflexões tão profundas no autor que, mesmo estando envolvido na construção de outras obras, se sentiu obrigado a fazer uma pausa para escrever sobre o episódio.

Apesar de ser inspirado em um acontecimento real, Dostoiévski cria seus próprios personagens para representar as pessoas reais envolvidas e assim compor sua ficção baseada em fatos. Muito criticado na época de sua publicação, "Os Demônios" se tornou muito mais do que um registro político, mas também histórico, social, filosófico e religioso. Além de retratar muito bem o que era a Rússia na época em que foi escrito (temos aqui um amplo mergulho do cenário psicológico do povo russo) o livro também foi profético ao explicar os princípios do "Chigaliovismo", um vislumbre do que viriam a ser as ideias adotadas por Stálin e Hitler. Ainda na atualidade, "Os Demônios" serve como um alerta do que pode acontecer quando política e ignorância se fundem resultando no fanatismo e quando mentes pequenas tentam alcançar o poder pelo poder a qualquer custo.

Como é típico de Dostoiévski, o livro é denso e com uma grande gama de personagens. Foi uma leitura lenta porém não desprovida de prazer e de reflexões. O romance é um pouco truncado mas ao concluí-lo e perceber que aqui o principal personagem é o cenário político temos uma compreensão mais ampla da genialidade que o autor teve para construir essa obra atemporal. Com certeza fecho esse livro com a mente mais enriquecida e ciente de que os demônios da Rússia do século XIX infelizmente ainda assombram a nossa sociedade nos dias de hoje.

site: https://discolivro.blogspot.com/
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Alisson 06/11/2019minha estante
Muito boa a resenha! Deu até uma vontade maior de ler em seguida...




Roberto 14/09/2019

Os Possessos
Li uma edição portuguesa dessa obra do grande Dostoiévski em ebook. Achei a tradução fraca, um pouco confusa e a edição mal cuidada.
No entanto, trata-se de um Dostoiévski na mais pura acepção que tal nome empresta a uma obra literária.
A maneira como ele mergulha na alma humana e na sociedade de seu tempo me impressiona profundamente.
Preciso reler um edição decente dessa obra.
Vou fazê-lo porque ela merece e eu mereço "me estatelar no chão" (como a skoober Lisa) novamente com essa história.
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Luísa Coquemala 24/04/2019

Gente, que livro! Depois dessa leitura, Dostoiévski é oficialmente meu romancista preferido. A comparação sempre me parece inevitável, então lá vai: de Tolstói, considero Ana Karênina e A morte de Ivan Ilítch duas obras primas. Gosto muito de Guerra e Paz e Ressurreição, mas já os enxergo como se estivessem um degrauzinho abaixo em relação ao meu gosto. Isso, na verdade, me parece um movimento natural. Não dá pra amar todos romances que se lê de um só autor. Da mesma forma, gosto de Doutor Fausto e de A montanha mágica mais que de Os Buddenbrook.
Só que com os romances de Dostoiévski eu não consigo. Entre Crime e Castigo, Os irmãos Karamázov, O idiota e Os demônios, eu não consigo imaginar uma escadinha na minha mente. Todos são excelentes e todos têm seus pontos altos. Não consigo pensar em outro escritor que tenha escrito tantos romances tão bons. Talvez Proust em Em busca do tempo perdido, se a gente considerar cada um dos sete volumes como um romance à parte. Inclusive, se alguém quiser me sugerir um nome, estou aceitando.
Quando peguei Os Demônios pra ler, pensei: “esse aqui não pode ser tão bom como os outros”. E aí, mais uma vez, uma cacetada na minha cara. Mais um livro que, depois do fim, eu fico estatelada no chão pensando em quando vou encontrar outro livro tão bom.
Li muitas resenhas na internet falando sobre a primeira parte do livro ser arrastada, mas não concordo. Dostoiévski usa ironia, até uma certa dose de humor e, como de costume, ótimos diálogos. Como resultado, a primeira parte prepara uma situação que se desenrolará nas outras duas partes.
O que se passa é o seguinte: Varvara Pietrovna e Stiepan Trofímovitch são amigos/affairs de longa data. A relação é claramente desigual porque a generala Varvara sobe em cima de Stiepan e faz o que quer com ele. Ambos vivem em uma cidadezinha pacata da Rússia do século XIX e têm dos filhos que moravam longe, mas que estão a caminho da cidade.
Um deles é o belo e enigmático Nikolai Stravogin, que quatro anos antes, em uma passagem rápida pela cidade, causou furor – com direito a mordidas em orelhas e ofensas à sociedade. Nikolai tem uma espécie de força atrativa em sua figura e, por conta disso, os outros personagens principais da obra giram em torno dele. Depois que causou na Rússia, foi passear um tempo no exterior e, na Suíça, reencontrou uma família amiga (e, mais importante para Varvara, rica!). Bom, o jovem Stavrogin se engraça com Lizavieta e a jovem fica caidinha por ele. Ao mesmo tempo, porém, rolam boatos de que na mesma viagem Nikolai também teria se envolvido com Dária Pavlovna, filha de um falecido criado de Varvara e protegida desta. Tudo chega ao ouvido da generala enquanto todas essas figuras estão de volta ou voltando para a pacata cidadezinha. Só que tem ainda mais: além de todo burburinho relacionado com as duas moças, há ainda uma outra fofoca envolvendo a figura de Nikolai. Há quem diga que Nikolai teria se casado clandestinamente com Mária Lebiádkina, uma coxa pobre da cidade e cujo irmão é um bêbado perdido que bate nela.
Também estão na cidade Chátov e Kiríllov. Ambos são figuras bem mais sombrias (e, a meu ver, os dois melhores personagens do romance). Chátov e Kiríllov passaram uma temporada morando nos EUA e vivendo com os proletários. O que aconteceu nessa experiência é que ambas as teorias dos dois se aprofundaram. Chátov, que é irmão de Dária, voltou com ideias completamente diferentes, eslavófilo e acreditando em Deus (ou pelo menos tentando acreditar); Kiríllov volta com ideais fortemente niilistas e tem a intenção de se matar como forma de reafirmar seu arbítrio e a inexistência de deus (se deus não existe, ele diz, então eu sou meu próprio deus e morrer e viver deveriam ser coisas indiferentes).
Por fim, aparece Piotr Verkhovienski, filho de Stiepan Trofímovitch. Piotr é um jovem com ideias à esquerda e revolucionárias. Piotr tem ideias muito firmes e se inspira em outra figura do romance, Chigálliov. Para ambos, a sociedade deveria ser dividida em duas partes: 1/10 detém todo o poder e manda no resto da população – que, para manter a “causa”, precisa se autovigiar e delatar. Não há espaço para talentos, não há espaço para debate de ideias. Como Piotr diz, ele não é bem um político, mas um patife. Bom, Piotr está voltando para a cidade com um objetivo: ele quer espalhar panfletos revolucionários e instalar o caos para que as estruturas sociais se enfraqueçam e outro regime política possa vir a tomar o poder. Chátov, Kiríllov, Piotr e Nikolai – cada um sendo quase como que a encarnação de uma ideia – já foram parte de um mesmo grupo e tudo que Piotr planeja envolve essas figuras.
Todos esses personagens sobre os quais falei são apenas os mais centrais. De onde vieram esses, há muito mais! Agora vocês peguem todas essas pessoas, coloquem elas na mesma cidadezinha e acrescentem uma dose da maravilhosa escrita de Dostoiévski. Está feita a obra prima e está armado o barraco (aquele barraquinho bem escrito que Dostoiévski faz como ninguém). As ideias políticas e filosóficas e as questões sociais da Rússia da segunda metade do século XIX estão aqui, neste romance. Dostoiévski captou tão bem o que estava se passando à época que, acredito eu, a semelhança que muita gente vê entre Piotr e Stálin não é nada mais do que resultado de uma sensibilidade ímpar em perceber como uma ideia degringola em pesadelo e autoritarismo quando regida por uma pessoa como Piotr.
Isso tudo só pra situar vocês!
Enfim, leiam. Vamos nos estatelar no chão juntos e agradecer aos céus por terem nos dados os romances de Dostoiévski.
João Ks 24/04/2019minha estante
Bela resenha Luísa! Despertou uma vontade de conhecer imediatamente a obra.


Jean446 25/04/2019minha estante
Só li metade da resenha por medo de spot ler, mas interessante demais. Só não concordo com o degrauzinho abaixo das obras citadas.


Roberto 14/09/2019minha estante
Cometi o deslize de ler uma edição portuguesa em ebook: Os Possessos.
Achei a tradução fraca e a edição descuidada.
Não obstante, Dostoiévski é o cara e, apesar da qualidade inferior da edição (não da obra) também me vi "estatelado no chão" várias vezes.
Vou reler uma edição física mais bem cuidada da obra e de hoje em diante não perderei mais tempo em fazer experimentos com os grandes.




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