Fernanda631 31/07/2023
Os Cinco Porquinhos
Os Cinco Porquinhos foi escrito por Agatha Christie e foi publicado em maio de 1942.
Caroline Crale foi condenada à prisão perpétua pelo assassinato de seu marido, o mulherengo e famoso pintor Amyas Crale. Dezesseis anos depois, Carla Lemarchant, a única filha do casal, uma criança à época do ocorrido, retorna à Inglaterra ansiosa pro comprovar se as últimas palavras da mãe para ela eram ou não verdadeiras: em uma carta que a filha deveria ler apenas ao completar 21 anos, a Sra. Crale disse ser inocente.
Para isso ela procura o genial e nada humilde, Hercule Poirot, um dos mais queridos detetives da ficção policial. E é assim que começa “Os Cinco Porquinhos”, mais um excelente livro da Rainha do Crime, Agatha Christie.
Para reconstituir o crime tanto tempo depois de ele ter sido cometido, Poirot não apenas fará uso de suas células cinzentas (que sim, são o grande destaque da metodologia Poirot de resolução de mistérios, para quem não está familiarizado com a obra de Christie), como também terá de recorrer aos que estiveram presentes na investigação do crime e no julgamento de Caroline Crale, como o advogado de defesa, o promotor do caso e o superintendente de polícia.
Segundo eles, foi surpreendente a resignação e passividade com a qual Caroline Crale portou-se diante o júri, alegando que o marido cometera suicídio, bem como a expressão de paz que a dominou quando foi condenada à prisão perpétua e trabalhos forçados e isso tudo demonstraria que de fato ela era culpada.
O principal desafio do detetive é remontar os acontecimentos que culminaram no crime. Para isso, ele delimita os suspeitos as cinco pessoas que estavam no momento da morte do pintor, a saber: a amante dele (a amante morava com o casal), a governanta, a esposa do pintor, e um casal vizinhos que frequentava a casa. A amante fazia-se de modelo, e vice-versa, na casa de Amyas. Ele pintava um grandioso quadro e, às escuras, fazia juras de largar a esposa e fugir com a modelo/amante.
A esposa passou a perceber a situação, e, segundo o julgamento do caso, foi isso que motivou a esposa a cometer o assassinato envenenando a cerveja dele entre uma pincelada e outra no jardim.
O óbvio, para Poirot, contudo, sempre é motivo de descofiança. E lá vai o pequeno detetive belga abordar as pessoas que estavam na casa de Amyas Crale no dia em que ele tomara cerveja envenenada com coniina. Philip Blake, homem do mercado financeiro e melhor amigo de Amyas; Meredith Crale, irmão mais velho de Philip, o qual apreciava botânica e a farmacologia das plantas; Elsa Greer, modelo para a pintura na qual Amyas estava trabalhando ao morrer; Cecilia Williams, governanta e Angela Warren, irmã mais nova de Caroline, então com 14. Pelos relatos fornecidos por essas cinco pessoas, às quais Poirot associa a cantiga dos cinco porquinhos (e por isso o título do livro), o detetive traça os perfis psicológicos de todos os envolvidos, mas principalmente de Caroline e Amyas, em cuja análise da relação e dos perfis psicológicos Poirot acreditava que encontraria motivações e explicações para os acontecimentos do fatídico dia.
É um livro à altura do legado da rainha do crime: um mistério intrigante; ágil, porém com personagens habilmente construídos e dotados de profundidade e individualidade; absolutamente envolvente, do tipo que viramos compulsivamente as páginas para descobrir que segredos guarda o parágrafo seguinte.
“Os Cinco Porquinhos”, traz Hercule Poirot em mais uma excepcional demonstração de sua astúcia quanto a compreender a mente humana e mais uma prova de porque ele é tão querido entre os fãs da literatura policial.
Poirot está com sorte: todos os suspeitos e ainda alguns magistrados que participaram do julgamento ainda estão vivos. Com esse benefício, o desenvolvimento da história flui com entrevistas do detetive com os suspeitos daquela época.
A surpresa é que cada suspeito e advogado têm opiniões diferentes sobre a esposa do pintor, dificultando que Poirot determine a personalidade da condenada. Para driblar isso, Poirot se concentra no exame minucioso de fatos paralelos, chegando até a pedir que cada entrevistado escreva os acontecimentos que culminaram na morte do pintor.
O detetive recebe essas descrições e a partir do exame de peculiaridades ao longo daquele dia, consegue dar um parecer diferente do proferido dezesseis anos antes.
O estilo de Christie, ou pelo menos o que ela imprime enquanto é a títere por trás de Poirot, é essencialmente minucioso e dialogista. Ela trabalha com diferentes personagens e consegue imprimir personalidades distintas em cada um deles. Um trabalho notável que desenlaça alguns perfis que faziam parte da sociedade do início do século XX.
Em Os Cinco Porquinhos temos o artista obstinado e cheio de vícios, a esposa fiel e resiliente, a jovem paixão que confunde-se com poder financeiro, novos burgueses, ciúmes entre casais, a governanta severa que preza pela solidez das instituições básicas, etc.
Diferentemente de outros trabalhos, nesse, Poirot não é tão veloz quanto antes, ele dá tempo ao entrevistado/suspeito e os interrogatórios por vezes se desenrolam em minúcias aparentemente sem importância, mas que para a mente tétrica do investigador, carregam a solução do caso.
Por fim, é um belo livro, os desenlaces finais são fiéis a lógica interna da narrativa e conferem um ótimo desfecho – uma característica de todos os livros de Agatha Christie.