Erudito Principiante 25/08/2022
Um monumento da literatura!
Nunca havia lido nada do grande escritor russo Liev Tolstói, de quem até então só tinha lido sobre Anna Kariênina e Guerra e Paz. Resolvi adquirir justamente sua obra mais grandiosa (inclusive em tamanho) e mais aclamada: Guerra e Paz. E esta foi minha primeira leitura de Tolstói. Optei por me abster de falar sobre o autor, já que a fama o precede, e parti direto para falar da obra.
Iniciei a leitura com óbvia expectativa pois já tinha ouvido muito falar desse colossal monumento da literatura. Infelizmente parei quase no fim do primeiro volume por razões das quais não me recordo, mas certamente não foi por desgosto, já que havia ficado empolgado e fascinado com a escrita refinada, crítica e com descrições pormenorizadas dos personagens, tendo como pano de fundo a expectativa da sociedade russa às voltas com o avanço do exército francês liderado por Napoleão, até então invicto em combate.
Tolstói nos apresenta a alta sociedade russa, da qual ele próprio fazia parte, utilizando o idioma francês frequentemente, debatendo sobre futilidades e política sem muita profundidade, atentos às últimas modas e afins. No centro da narrativa não se percebe um protagonista como normalmente estamos acostumados, mas sim alguns representantes de algumas famílias aristocráticas, que são os Bolkónski, Rostóv e Bezúkhov. E seus respectivos representantes são os irmãos Andrei e Mária (filhos do príncipe Nikolai Bolkónski), os irmãos Natasha e Nikolai (filhos do conde Ilia Rostóv) e finalmente Pierre (filho bastardo do Conde Bezúkhov). A história acompanha esses personagens em toda sua extensão.
O autor fez uma extensa e minuciosa pesquisa histórica sobre os eventos que vão desde a vitória do exército francês em Austerlitz contra a aliança austro-russa em 1805 até a heróica resistência russa diante da invasão francesa em 1812 que chegou à Moscou, na qual Napoleão sofreu sua primeira derrota militar, sendo rechaçado pelo exército da Rússia. Tolstói insere vários personagens históricos (há uma lista desses personagens na edição) como o tzar Alexandre e o próprio Napoleão, além de generais e vários outros políticos, tratando-os como personagens ativos de sua história. Ele também dedica vários trechos à relatos históricos, fazendo questão de deixar registradas suas opiniões e críticas aos historiadores da época, por vezes questionando a veracidade dos fatos e pondo em xeque a aclamada genialidade estratégico-militar de Napoleão.
A narrativa de Tolstói é clara e refinada, nos trazendo descrições ricamente detalhadas dos personagens e suas emoções, anseios e personalidade, nos deixando cientes de todas as suas fraquezas e falhas de caráter disfarçados pelo verniz da sociedade. Em Guerra e Paz não temos heróis e tampouco vilões, temos seres humanos agindo conforme suas necessidades e vontades, as quais detectamos graças à genial sutileza da pena de Tolstói que consegue identificar vários personagens pela sua maneira de falar e seus trejeitos.
Não tenho a ousadia de dizer que esta obra monumental é o melhor livro já escrito na literatura mundial, nem mesmo que é o melhor que a Rússia nos ofereceu, mas com certeza foi o melhor livro que já li.