otxjunior 27/12/2020Férias de Natal, W. Somerset MaughamMais uma peculiar "história de Natal" para fechar o ano e outra entrada entre as melhores leituras que fiz nos últimos meses. Vai ver que é meu nicho literário, mas Férias de Natal tem pouco de festivo, para falar o mínimo. Terceiro livro que leio de W. Somerset Maugham, ou escritor britânico "secundário", como é introduzido nesta edição. O título pouco apreciativo pode ser justificado por sua excelência como contador de histórias: domínio da narrativa não parecia ser um requisito para a literatura do século passado. Por outro lado, os temas caros a WSM são próprios da época, principalmente no aspecto político entreguerras. São estes, o sentido da vida e autoconhecimeno, tensão entre classes, amor e arte como os únicos fatores que tornam a existência tolerável. O que muito me interessa e torna a identificação com o protagonista fácil. Ao ocupar seu tempo entre galerias e concertos, Charley reflete o leitor em sua busca interminável por beleza e sentido. Eu sou Charley, não somos todos?
Figuras ainda mais nítidas povoam o romance, cirúrgico em número de personagens, lugar e tempo, com destaque para o amargo Simon e a trágica Lídia. A história desta ocupa maior espaço do texto, aos moldes de uma trama policial existencialista de André Gide, citado expressamente, ou Albert Camus. Não por acaso, o herói está em Paris; e sua busca por diversão descompromissada em terras estrangeiras, sozinho pela primeira vez, é frustrada ao passar os cinco dias de férias na presença quase integral de uma prostituta russa, também de férias curtas de suas atividades, pode-se dizer. Pois passam o tempo principalmente conversando, mas uma conexão real se dá, materializada na emocionante cena final. Outros diálogos mais acalorados ocorrem a partir da retomada de uma amizade de infância, agora quase irreconhecida, em trechos que justificam releituras. Na verdade, quanto mais penso nessas passagens, mais gosto do livro. O último parágrafo ainda é o perfeito arremate da jornada, que assim como a de Charley, é transformadora.