Matheus.Correa 13/03/2022
Para ler em uma tarde
"Hoje, a diferenciação está ligada à exposição hiperbólica, ao exagero pleno, ao grotesco. Nos nossos tempos, o grotesco se tornou altamente sedutor. É a mulher com a bunda do tamanho de melancia, o seio explodindo de silicone,o lábio inflado como uma boia de sinalização. É o homem com os músculos estourando, com o cabelo hiperproduzido, com a vaidade desvairada de uma diva ou uma violência desmedida a troco de nada. A hipérbole é mais necessária para quem está por baixo. Veja o exemplo dos Estados Unidos da América da década de 1970, quando a nação mais militarizada do Ocidente foi humilhada pelos vietnamitas. Para resgatar sua autoestima, hiperbolizou a figura do herói de guerra, do Rambo. Antes disso, era um país que cresceu dizimando os índios e, por isso, precisou hiperbolizar a figura do “mocinho” e do cowboy. Essa compulsão ao exagero faz com que a penumbra e o anonimato sejam ainda mais desesperadores. Essa, de verdade, é a divina comédia humana." Quando me deparei com a obra de Cortela, fiquei receoso pela sua vertente tão diferente dos textos que consumi em minha vida toda, porém esse livro segue um retrato daquilo em que um homem acredita; a sua visão constante sobre a felicidade, em um pensamento, diferente do ser, e se apegar ao estar, credenciado que apenas alguém que já teve a ausência de algo, tem a percepção do que é estar feliz, faz sentido. Adoramos a dopamina, a sensação de estarmos extasiados após um feito. Assim como existem pequenos seres que são enfeitiçados pela luz, somos por aquilo que temos a ausência. Tantos temas abordados, como por exemplo o "ser visto" a necessidade de ser notado e a impaciência de muitos quando isso não acontece. O livro aborda sobre ética, sobre o amor e a paixão e faz as suas deduções, cheias de referências em que o autor da o seu devido crédito em cita-las.
O livro por sua vez pode ser colocado como aqueles livros que falam sobre o óbvio que não é visto e nem falado. Sobre aquilo que em seu âmago, você sabe que é, mas a correria dos dias nos fazem simplesmente não pensar sobre isso. Fazer filosofia também é pensar.
Recomendo para quem gosta da visão do autor, para quem não concorda e os que discordam com veemência, ler algo "enciclopédico" nos faz refletir um pouco sobre quem somos e quem podemos ser. Sou do grupo que não concorda com tudo que há nessa obra, principalmente alguns conceitos que acho "fechados em demasia" como a visão generalizada de um grupo e a forma como isso é aplicado na narrativa. Porém isso, em nenhum momento, me tirou da obra. Apenas me fez expressar uma caretinha de leves. Mas quem nunca, não é mesmo?