Leticia 03/09/2020Livros sobre livrosEu não gosto de ler livros sobre livros.
Veja, não é algum tipo de preconceito ou arrogância da minha parte.
Mas eu prefiro manter a fantasia do processo de escrita, da criação de uma história, como algo mágico. É como se ler sobre a intimidade de um escritor o tornasse humano demais.
Pura imaturidade da Letícia leitora.
Escritores são como nós, tem variados sentimentos, vivem variadas coisas, boas e ruins, tem diversas personalidades, estabelecem variadas relações humanas, algumas que podem destruir e outras que podem edificar.
Não são santos ou enviados divinos com uma missão maravilhosa de consolidar em um amontoado de palavras uma inspiração inalcançável para um mero mortal.
Pelo contrário. Muitas vezes, essa capacidade de escrever vem acompanhada de grande sofrimento, de muita ansiedade. O valor do seu trabalho, o filho de quem você se orgulha, depende diretamente da avaliação de centenas ou milhares de pessoas, já pensou na pressão?
Com A louca da casa, da Rosa Montero, eu espiei debaixo do véu dessa divindade: o escritor. E gostei muito do que vi!!
"Acabei perdendo o medo do medo e aceitando que a vida tem uma porcentagem de escuridão com a qual precisamos aprender a conviver. Hoje chego a considerar essas crises como um verdadeiro privilégio, porque foram uma espécie de viagem extramuros, uma pequena excursão turística pelo lado selvagem da consciência. Minhas angústias me permitiram espreitar a escuridão; e somente se você já esteve lá, ainda que superficial e brevemente como eu estive, pode entender o que significa viver do outro lado. Naquele lugar aterrador aonde os outros não chegam, exilado da realidade comum, encerrado no silêncio e em você mesmo. Minhas angústias, enfim, me tornaram mais sábia".