Lina DC 24/05/2019Arrebatador!"Sonhos e as pedras no caminho" é a biografia do Felipe Rima, um jovem que mudou drasticamente de vida ao encontrar a poesia.
"Meu nome é Ribamar Felipe Souza Miranda, nome dado por meus pais. Depois dos 16 anos me dei um nome, ou melhor, a rua me batizou de Felipe Rima, em alusão ao dom que descobri que habitava em mim, dom de poetizar, fazer rimas e poesias." (p. 17)
Tudo começa na comunidade da Zareia, no bairro Papicu, em Fortaleza, onde conhecemos Ribamar Felipe Souza Miranda, um garotinho proveniente de uma família humilde, que é muito observador e que desde cedo é exposto às drogas e a violência.
Felipe narra o lado bom e o lado ruim de crescer em uma comunidade carente: as brincadeiras de rua, o uso da imaginação ao criar brincadeiras e brinquedos, a pequena casa acolhedora, a família humilde mas trabalhadora. Por outro lado, ele também observa o crime como algo cotidiano, um definidor de status na comunidade e por que não, uma carreira promissora no futuro. Afinal de contas, todos nós somos um reflexo daquilo que se encontra ao nosso redor e quando somos expostos a criminalidade como uma situação normal do cotidiano, não enxergamos a necessidade de almejar algo diferente.
Ele conta a história de seus pais, a dona Luziane e o seu Ribamar, que se conheceram ainda adolescentes e formaram cedo uma família. Dona Luziane, uma mulher esforçada que trabalha como empregada doméstica e ainda cuida da própria casa e da família, que mantêm todos unidos diante das adversidades apresentadas pela vida. Seu Ribamar, um comerciante dono de uma bodega, mas também envolvido com o crime e com as drogas, e que infelizmente, precisou chegar ao fundo do poço para se reerguer.
"Minha mãe sempre trabalhou fora de casa como doméstica. Eu me questionava por que ela ainda continuava trabalhando fora, mesmo a gente não precisando tanto, mas na verdade, quando não faltava dinheiro, falta honestidade, de certa forma. E era isso que ela enaltecia e mantinha em pé nos ensinamentos. Ela sempre trabalhou, deixava claro que para viver com dignidade e respeito, o trabalho era o que edificava o ser humano." (p. 26)
Todo esse cenário tem uma grande reviravolta quando Mariano, amigo e vizinho de Felipe, comenta sobre um projeto de hip hop, que tem aulas de grafite. Lá, os jovens conhecem a socióloga e professora Glória Diógenes, que durante uma roda de conversa, começa a falar sobre a poesia do Drummond, em particular o poema "No meio do caminho".
"No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra."
Esse poema muda radicalmente a compreensão de Felipe sobre a poesia (antes ele acreditava ser algo romântico e meloso) e faz com que ele mergulhe de cabeça no projeto, abrindo assim a possibilidade um novo futuro.
O livro ainda conta com depoimentos de pessoas chaves na vida de Felipe, como seus pais, seu amigo Mariano, a socióloga e professora Glória Diógenes e Bulan, um jovem que também foi resgatado através das artes.
O que falar sobre um livro tão real e comovente, que demonstra a vida de um rapaz simples com o qual nos identificamos imediatamente?
"Sonhos e as Pedras no Caminho" é um testemunho único sobre segundas chances, uma biografia forte e emocionante que todos deveriam ler.
A Editora CeNe mais uma vez publicou uma edição belíssima, cheia de detalhes internos e com um cuidado único em cada página.
"Eu acredito nas possibilidades. Acredito nas mudanças. Acredito no ser humano e na capacidade de dar a volta por cima, de superar obstáculos, de criar para si um novo rumo em uma estrada de vitória." (p. 76)
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