Luiz Pereira Júnior 16/10/2021
O como e o porquê
(Quase) Sempre é bom pegar um daqueles livros meio esquecidos nas prateleiras do “para ler” e alternar com os sucessos do momento. E sempre é bom perceber que a linguagem muda, a visão do mundo se alterna, mas a leitura sempre servirá para algo (e até mesmo para aquilo que pensávamos que ela não servisse).
Os contos de “A ideia de matar Belina” fazem parte desse mundo distante (mas nem tanto assim) no tempo, mas não no espaço (eu nunca havia lido contos que tomassem como referência o universo das corridas de cavalo).
Essa pequena obra é composta por uma série de contos detetivescos (sempre há um assassinato em cada um dos contos – e, mais uma vez, o homicídio por envenenamento dá as caras, nesse que é um chavão do gênero policial), em que os maiores motivos são o interesse, a ambição, o dinheiro e, talvez, lá no fundo do crime, um pouco do amor não correspondido, do amor insatisfeito, do ciúme de não poder ter aquele que se ama.
No prefácio, diz-se que o autor criou o primeiro detetive na ficção nacional (o velho Leite) e quem sou eu para desdizer essa informação? Seja como for, é uma leitura parecida com todas as obras de literatura policial que conhecemos.
Mas, um momento: se pensarmos bem e com justiça, cada gênero (literário, artístico, musical...) tem suas características próprias e, muitas vezes, o que podemos considerar como plágio é na realidade a busca dessas características próprias, sem as quais o próprio gênero parece mudar de forma, de aspecto, de semblante. Afinal, sempre haverá um crime, uma vítima (ou até mais de uma), um assassino (ou até mais de um) e um ou mais motivos que levaram ao crime.
Acredito (sim, é um ponto extremamente subjetivo, eu sei) que o mais importante no gênero policial não seja o crime, a vítima ou o assassino, mas sim os comos e os porquês (como o crime foi cometido? Por que o crime foi cometido? Como o crime foi solucionado?). E, dito isso, sempre haverá novos comos e novos porquês para um gênero tão detratado pelos adeptos da chamada literatura culta...