Deus é inocente : a imprensa, não

Deus é inocente : a imprensa, não Carlos Dorneles




Resenhas - Deus é inocente : a imprensa, não


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Raphael Bonini 06/04/2012

Mais do que a guerra do Iraque
Carlos Dorneles retrata em um estudo de caso amplo, onde foi analisado um ano inteiro de imprensa americana, europeia e brasileira, como funciona a manipulação da imprensa de um modo onde os próprios meios de comunicação se tornam condescendentes com o governo e se acomodam com declarações infudadas de fontes oficias.

Portanto, torna-se mais do que uma demonstração de manipulação e abre os olhos para jornalistas e leitores de como não deve se praticar jornalismo onde ouve-se apenas uma voz e entra-se na história com uma ideologia montada na cabeça.

De quebra, o livro é exemplo de como se cobrir uma guerra, podendo-se imaginar dentro do campo de batalha e onde buscar fontes e como não é possível confiar em declarações de quem comanda a guerra de longe pois terá influência em uma aperência que se quer exibir.

O erro do livro é chover no molhado, onde alguns capítulos se tornam mais do mesmo e conta-se a mesma história pelo menos três. Além disso, algumas amostras de pró-jornalismo são falados enquanto se critica a própria mídia, ficando confuso e torna-se uma própria tentativa do autor de sempre se manter criticando, evitando elogiar alguns momentos de lucidez de alguns (poucos) jornalistas.
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Luchenriques 18/09/2014

Clipagem de guerra
Na obra Deus é inocente, a imprensa não, publicada em 2002, Carlos Dorneles traz o resultado de um amplo estudo sobre a atuação da imprensa em cobertura de guerras. Em um ambiente polvoroso e cercado de interesses políticos e omissões, o jornalista analisa como as notícias e declarações são feitas e o comportamento da mídia perante elas. Ao avaliar o trabalho realizado pela imprensa americana, brasileira e europeia, Dorneles revela diversos episódios de favorecimento americano, falta de apuração jornalística nas matérias e tratamento unilateral da informação, além de omissão da mídia perante estes acontecimentos.

Em quase 300 páginas de exemplos e comentários sobre cada matéria, manchete, enfoque, foto e texto escolhido para jornais e revistas, o repórter faz as denúncias necessárias, mas incomoda o leitor com um texto cansativo, chato, ruim, quebrado e que abusa dos superlativos, onde tudo é bombástico, fantástico, inacreditável, aterrorizante, o que tira o poder de decisão de quem lê, além de achar tudo demasiado, perdendo o valor e o peso real das situações. Na tentativa de cobrir todos os pormenores, o jornalista confunde o receptor, que mal compreendia o tema e já era inserido em outro assunto, em uma nova história, diferentes personagens e contextos. Este fato também faz com que poucos episódios sejam realmente aprofundados, deixando-os citados para logo serem esquecidos.

Como se fosse uma espécie de megaclipagem (resumo de notícias veiculadas na mídia), Dorneles esmiúça caso a caso, escolhe uma matéria de algum jornal, revista, telejornal ou até um articulista e faz aquilo que, segundo ele, a mídia não fez: questiona por que só um lado foi ouvido e outro ignorado, critica o favorecimento às políticas americanas e a inoperância da ONU nas guerras contra o Iraque e o Afeganistão.

O livro é importante para que o receptor, consumidor de notícias, leia, ouça e pense diferente daquilo que é mostrado pela imprensa, que questione suas produções, seus interesses (especialmente eles) e os efeitos causados. Dorneles mostra a capacidade que a mídia tem de omitir fatos, ferir seu código de ética, valores profissionais e os prejuízos destas ações para a sociedade.

Um ponto interessante do livro, pouco aprofundado por Dorneles, é o questionamento sobre o verdadeiro poder bélico estadunidense. Segundo ele, em vários momentos de guerra, os Estados Unidos evitam o confronto no chão ou terceirizam o combate, no qual guerrilheiros e outros países realizam o combate em campo. O conhecimento das áreas atingidas pelos aviões americanos também é colocado em cheque, desta vez com reportagens de jornais que não atuam em prol dos interesses norte-americanos, mostrando bombardeios em locais vazios, alguns no deserto, outros jogados em civis ora por engano, ora por questões de guerra e, em determinados casos, em tropas do próprio país. Evidentemente, estes episódios eram negados por Bush e demais mandatários, o que fazia com que agências de notícias não dessem a devida atenção, refletindo nas publicações brasileiras.

Ao final da obra, Dorneles explica os contextos do Iraque e do Afeganistão num pré, durante e pós-guerra, de uma forma simplista e pouco aprofundada, o que dá certo conhecimento para o leitor, embora superficial para a magnitude do tema. E essa é a sensação que se tem ao final: muita informação desorganizada e pouco conteúdo entendido.

Fica a indicação de outro livro escrito por Dorneles, em 2007: Bar Bodega. Neste, lançado cinco anos depois do anterior, o jornalista coloca o sapato na lama e traz uma história com personagens, vítimas, outro crime de imprensa, mas com a profundidade que o assunto demanda, o que envolve e desperta o interesse do leitor.
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