Racismos

Racismos Francisco Bethencourt
Francisco Bethencourt




Resenhas - Racismos


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Thiago 10/03/2021

Racismos, Francisco Bethencourt
Livro muito abrangente sobre o Racismo na história da humanidade. Apesar de ser um assunto bastante atual, o livro prova a existência do Racismo desde as mais remotas civilizações.

O núcleo da teoria é de que preconceitos são utilizados contra determinados grupos para justificar segregação e outras ações discriminatórias. E sempre isso é feito com alguma estratégia política.

O livro atravessa séculos e viaja o mundo demonstrando as variações de como tudo ocorreu. Quando nas civilizações originais, Europa e arredores, seguido pela expansão colonial, ao meu ver a época em que o Racismo teve sua maior evolução, firmando-se na cultura mundial.

A face mais brutal se mostra com o fim do imperialismo e o surgimento das democracias que, não obstante a noção de igualdade trazia das revoluções, faz emergir a necessidade da identidade da "nação". Nesse contexto, projetos ultra-nacionalistas, como o Nazismo, retomam preconceitos fundados em ascendência e supremacia branca, causando genocídios que mancharam a história da humanidade.

Para quem gosta de história, e se interessa pelas questões de racismo, vale muito a pena a leitura. A obra busca exaurir todos os fatos ligados ao Racismo. Pode ser cansativo em determinados momentos. Mas é compensador.
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TiagoCosta1 05/07/2023

Que livro top. Só me mostrou q a humanidade desde tempos remotos tem através de diversos tipos de preconceitos alimentado esse mau que se chama racismo. E sabe o q me chama atenção e o preconceito de povos que foram perseguidos. O perseguido que se torna perseguidor. Muito interessante, gostei do livro.
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Eliseu 22/10/2020

Racismos
Mais que um exercício de leitura, ler Racismos é uma maneira de compreender como o mundo e suas disparidades existem de forma tão sólidas.

O racismo, como aponta o autor, não é uma exclusividade dos povos europeus. Ele existe como ferramenta de dominação e segregação há milhares anos, para impor uma forma de existência que se julga superior e eliminar e/ou separar os grupos. Ao longo da história o ser humano provou ser capaz das mais bizarras atrocidades em nome de projetos políticos de dominação e segregação de grupos. O Holocausto, o genocídio armênio são exemplos de como o racismo arrastou sociedades inteiras para a barbárie. O combate ao outro, as minorias políticas, começa como um ideal político, um mecanismo para construção de um projeto político de dominação ampla, comum em governos totalitários ou de tendências totalitárias. Racismos é uma formidável,deve ser apreciad aos poucos pois, os pontos de impacto são muitos.
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Emme, o Fernando 01/05/2018

O racismo como resultado de projetos políticos !
Eu creio que a maior dificuldade desta obra é justamente a quantidade enorme de informações (uma obra de fôlego). O leitor se perde no meio de tantos dados e facilmente pode se perder em relação ao que realmente importa: "o racismo foi motivado historicamente por projetos políticos".

A leitura dos três primeiros capítulos pode se tornar lenta e um tanto cansativa, por estar cheia de dados amostrais e tratar de realidades já bem distantes da nossa. Mas vale a pena insistir na leitura para compreender melhor as partes IV e V, as partes mais interessantes do livro e que tratam literalmente da construção do mundo em que vivemos. Muitas das ideias mostradas nas duas últimas partes continuam sendo ditas por aí, às vezes com nova roupagem, às vezes sem sequer o pudor de mudar-se uma vírgula que seja.

O que fica muito claro desde o começo do livro é que o racismo não é igual em toda parte, ele depende dos grupos étnicos envolvidos e das relações de poder entre esses grupos.

Analisando o contexto medieval das cruzadas e posteriormente do sul europeu, o autor mostra dados e práticas coletadas de fontes primárias que deixam claro que a construção de identidades e a consequente discriminação negativa de determinados setores da população de uma região estão diretamente relacionadas às relações de poder e à competição por recursos nos meios sociais (postos, cargos, propriedade...) e também status.

Não é o racismo que determina as práticas sociais como uma ideologia segregacionista, mas o contrário: a competição dos grupos no meio social cria práticas de discriminação negativa que precisam ser JUSTIFICADAS pelos grupos que estão no poder com vista a perpetuar o seu status.

O racismo, assim como qualquer ideologia, serve para esconder a real fundamentação das práticas sociais.

Quando o autor passa a abordar a realidade colonial, isso fica cada vez mais claro: uma elite europeia pequena, mas poderosa, adopta práticas de discriminação negativa (com a consequente necessidade de identificação e catalogação), não apenas para utilizar-se da força de trabalho de grupos segregados, mas principalmente impedir que esses grupos adquiram poder político e econômico o suficiente a ponto concorrer com essas elites.

No capítulo 13 da parte 3, o autor relata como os preconceitos coloniais dominaram as políticas públicas durante o desenvolvimento da malha urbana das cidades. Indiretamente o autor contesta vários preconceitos que nós aprendemos na escola sobre as diferenças entre os modelos de colonização ibérica e britânica/holandesa:

"A natureza rural do longo período de colonização britânica contrastava coma elevada urbanização existente desde o início nas áreas de expansão espanhola. Na América espanhola foram criadas 330 povoações antes de 1630, não havendo, um século depois, nada de comparável na América britânica. A comparação da dimensão das cidades espanholas também é reveladora: em finais do século XVII, a Cidade do México tinha cerca de 100 mil habitantes, Nova York 11 mil e Filadélfia 13 mil, valores muito abaixo de sete cidades americanas espanholas (México, Lima, Havana, Quito, Cuzco, Santiago bde Chile e Caracas) e de quatro cidades americanas portuguesas (Salvador, Rio, São Paulo e Ouro Preto). A medíocre urbanização significava menos oportunidades para contactos interétnicos devido à existência limitada de mercados e de serviços."

Na parte IV "Teorias de Raça" são apresentados o Racialismo Científico e o Darwinismo Social (dois capítulos que merecem ser lidos e relidos sempre).

O livro vai da "mania" do século XVIII de classificar tudo até o uso explicitamente político de teorias supostamente científicas para justificar a desigualdade social. É isso que o autor comprova nessa parte do livro:

"Esses três contextos históricos distintos - (1) novos desafios à desigualdades sociais da Europa, (2) desigualdade racial nos Estados Unidos e (3) domínio imperial europeu na Ásia - nunca foram considerados influenciadores conjuntos do desenvolvimento do racialismo científico. O objetivo do presente capítulo é fazer isso".

As classificações se tornam cada vez mais agressivas, indo do apanhado secular de estereótipos e preconceitos de Lineu em seu Systema Naturae:

"os americanos eram definidos como acobreados, coléricos, e eretos, com cabelo preto, liso e grosso, narinas largas, rosto anguloso e barba rala...regulados pelos costumes. Os europeus eram pálidos, sanguíneos e musculosos, com cabelo sedoso amarelo ou castanho e olhos azuis; eram ágeis, perspicazes e inventivos .... regulados pelos costumes e pela lei. Os asiáticos eram escuros, melancólicos e rígidos...severos, orgulhosos e ambiciosos. Governados pela opinião. Os africanos eram negros, fleumáticos e descontraídos....indolentes, negligentes e astuciosos; untavam-se com gordura e eram governados pelo capricho."

Passando por Virey:

"O negro era uma raça distinta. ... era estúpido, um imitador, tal como o macaco, indolente, sensual ('ele sente mais do que pensa'), voluptuoso, despreocupado, preguiçoso, feio, sujo e malcheiroso - problema agravado pela aplicação regular de sebo ou do uso de peles em decomposição como roupas."

O autor ressalta o uso político dessas ideias:

"Na Europa, a reflexão sobre raça e a busca científica pelas origens da variedade humana tornaram-se ferramentas essenciais para provar as supostas origens inerentes da desigualdade, numa tentativa de minar o poderoso movimento pela igualdade, mostrando-o como artificial e antinatural."

O autor se refere aqui ao contexto do iluminismo, do abolicionismo, e das revoltas de 1848 a 1851, que criaram um liberalismo internacional antinacionalista.

A reação conservadora foi a criação de discursos e ideologias supostamente científicas que tinham como intenção justificar as desigualdades sociais, fossem elas entre brancos X negros, classe proprietária X classe operária/classe média, europeus imperialistas X colônias asiáticas e africanas.

Bethencourt classifica Toqueville, por exemplo, como liberal moderado e aristocrata e faz questão de colocá-lo como sensato ao chamar os trabalhos de Gobineau como 'produto de um vendedor de cavalos'.

Essas ideias e teorias supostamente científicas eram frágeis, mas mesmo assim eram assinadas por autoridades influentes à época.

A classificação das raças praticamente vai ao gosto do freguês: o que é uma raça? Quantas raças existem? Quem pertence a qual raça?

A resposta a essas perguntas quase literalmente depende das necessidades do "especialista", sendo esta a característica mais notável dos "trabalhos" do escocês Robert Knox, conservador que se opunha ao humanismo liberal de Blumenbach, Prichard e Humboldt. Em Races of Man, ele sequer consegue estabelecer as fronteiras de identificação entre as raças (aliás, coisa que de facto nenhum racialista consegue), classificando as supostas raças no território europeu como em um trabalho de patchwork psicodélico guiado pelas suas próprias simpatias e antipatias. Nada diferente de supostos filósofos da atualidade - ao ler os "trabalhos" de Knox, o leitor tem tudo de que precisa para ser um idiota ;-)

Segundo, os critérios são "maravilhosos": Samuel George Morton em Crania Aegyptiaca, 1844, "revelou mais um ponto de seu programa político: os egípcios que haviam construído as pirâmides eram naturalmente brancos - uma afirmação provada pelo ângulo facial e pela dimensão do crânio.

Outra coisa interessante nessa parte é a visita de Agassiz ao Brasil, viagem em que o cientista procurava encontrar provas para contestar a teoria de Darwin sobre a origem das espécies e confirmar a sua teoria das raças.

"a escravatura tinha aspectos ainda mais odiosos no Brasil do que nos Estados Unidos, devido à 'raça menos enérgica e poderosa dos portugueses e dos brasileiros ... comparada com os anglo-saxões.' Defendia que 'em inteligência, os negros livres estão à altura dos brasileiros e dos portugueses', que transmitiam 'o espetáculo único de uma raça superior sendo influenciada por outra mais baixa, de uma classe educada adotando os hábitos e descendo ao nível dos selvagens.' ... O resultado do 'contacto ininterrupto entre raças é uma classe de homens em que o tipo puro desaparece tão completamente como as boas qualidades, físicas e morais, das raças primitivas, dando origem a um bando de mestiços tão repugnantes como os cães sem raça definida'.'"

Outro ponto importante dessa parte IV é que, ao contrário do que tenta pintar a atual ideologia nos EUA, o conceito de igualdade e fraternidade nos estados do norte eram restritos aos brancos. Os projetos de abolição da escravatura e de suposta igualdade na verdade escondiam a ideia de eliminação dos negros e dos índios.

"O livro de Agassiz condensava a verdadeira essência do racialismo científico nos Estados Unidos: um desenvolvimento ativamente político da teoria das raças a favor das políticas sulistas de exclusão, segregação e discriminação que duraram até a década de 1960, sob o olhar impávido dos pragmáticos brancos nortistas que partilhavam os mesmos preconceitos raciais básicos."

No último capítulo da parte IV (Darwin e a evolução social) estão condensadas as origens de várias ideias contemporâneas a respeito da liberdade e igualdade entre as pessoas e sobre os possíveis destinos da sociedade.

O autor ressalta a posição "ambígua" de Darwin e de vários outros intelectuais da época:

"Para Darwin, a igualdade perfeita entre os indivíduos que compunham as tribos da Terra do Fogo havia retardado sua civilização. Os povos governados por monarcas hereditários eram considerados mais capazes de aperfeiçoamento. [...] Darwin equiparava a igualdade à baixeza: pedaços de tecido oferecidos aos foguenses foram rasgados em tiras e distribuídos; nenhum indivíduo seria mais rico do que os outros."

"Não obstante, a falta de empatia de Darwin em relação aos selvagens não abalou suas convicções abolicionistas. Darwin expressou a sua indignação quando se deparou coma crueldade diária contra os escravos no Rio de Janeiro, onde viu os instrumentos usados para torturá-los, ouviu os gritos dos escravos sendo castigados e, em várias ocasiões, interveio para deter novos sofrimentos."

Nas escolas e faculdades, ressalta-se apenas a segunda parte. Mas, mais interessante ainda é a exposição do autor da posição de Darwin em relação à eugenia:

"Darwin citou William Greg, Wallace e Francis Galton quanto ao fracasso da seleção natural nas nações civilizadas como resultado da vacinação, das leis dos pobres e dos asilos - cuidados médicos e assistência social para os mais desafortunados, o que promovia a sobrevivência e a propagação dos elementos mais fracos da sociedade, levando à deterioração da parte mais nobre da nossa natureza."

Opinião lúcida de Marx sobre Darwin: citando o próprio Marx:

"Darwin redescobre, entre animais e plantas, a sociedade inglesa, com sua divisão de trabalho, concorrência, abertura de mercados, 'invenções' e 'luta' malthusiana 'pela existência'. Essa visão é um 'bellum omnium contra omnes' de Hobbes e é reminiscente da Fenomenologia de Hegel, em que a sociedade civil surge como um 'reino animal intelectual', ao passo que em Darwin o reino animal surge como 'sociedade civil'."

É importante deixar claro que Darwin não inventa o darwinismo social. Existe uma série de intelectuais que tentaram projetar as leis naturais (ou mais precisamente a sua interpretação) para o entendimento da sociedade. Um desses intelectuais é Auguste Comte e a invenção da sociologia na tentativa de entender as "leis do progresso social".

O autor contrapõe sucintamente os trabalhos de Marx e de Comte e discute a validade do termo "darwinismo Social" como o uso político e social dado às ideias evolutivas da Darwin entre 1859 e Segunda guerra Mundial e conclui:

"Pode haver bons motivos para manter a designação darwinismo social, pois as ideias de Darwin influenciaram a análise social. No entanto, a ligação entre a transformação da natureza e a análise social precedeu Darwin."

Outra análise que enriquece o capítulo e deixa ainda mais claro o uso social, político e ideológico do darwinismo social é a discussão sobre as ideias de Benjamin Kidd:

"Kidd considerava a violência uma expressão de rivalidade e de seleção natural numa sociedade cada vez mais competitiva e sujeita a tensão e a um ritmo acelerado de mudanças, na qual as formas menos adequadas iriam desaparecer. [...] 'negros descuidados, indolentes e facilmente contentados dos Estados Unidos e das índias Ocidentais' ficariam para trás... [...] a luta pelo progresso era um fato da vida humana..."

TOMAM FORÇA TERMOS COMO FORÇA, EFICIÊNCIA, COMPETIÇÃO .... OS MESMOS TERMOS QUE SERÃO RESSUSCITADOS NO PÓS GUERRA PELO NEOLIBERALISMO E PELA TEOLOGIA DO EMPREENDEDORISMO....

"kidd opunha-se às soluções socialistas, pois eram antinaturais, promovendo assim o autor a naturalização explícita da desigualdade social e material."

"As teorias de evolução social ofereciam uma diversidade de formas e de significados que podiam incluir a inversão dos princípios progressivos de seleção natural, permitindo assim a ideia de um arianismo primordial e superior destinado ao declínio. Digno de referência é o livro de G. Vacher de Lapouge, de finais do século XIX, que se opunha às 'políticas sentimentais' inspiradas no cristianismo. [...] O autor considerava ficções os ideais centrais da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade), já que, para ele, a realidade era formada pela força das leis, das raças e da evolução natural ..."

"A SELEÇÃO SOCIAL ELIMINARIA OS MELHORES ATRAVÉS DA GUERRA E DO PODER DAS MASSAS, COM ESTAS ABRANGENDO A VISÃO NEGATIVA DE LAPOUGE SOBRE SINDICATOS LABORAIS, MOVIMENTOS E ASSOCIAÇÕES FEMINISTAS E SOCIALISTAS"

Em um único capítulo, Bethencourt resume bem como a sociologia do final do XIX e as teorias supostamente científicas se uniram em prol de um reacionarismo conservador que tinha como principal móvel conter, massacrar e aniquilar os direitos dos negros livres após a abolição, dos direitos das classes operárias, das mulheres e fixar a ideologia de que qualquer ideal de igualdade, fraternidade e liberdade era mera ficção.

Fica claro que, a partir do racialismo científico e do darwinismo social do século XIX, quando estudamos o racismo, não estamos a tratar apenas da violência contra negros, estamos a tratar da violência de classe, da violência contra as mulheres, da violência contra todos aqueles sem status social....

O autor ressalta que foram os desdobramentos das ideias do Racialismo Científico (mais do que o Darwinismo Social) que mais influenciaram os projetos nacionalistas no século XIX e o desenvolvimento dos estados totalitários do começo do século XX levando a fusão das ideias de nacionalidade e de raça.

Uma das coisas mais interessantes durante a leitura foi perceber como discursos "atuais" se parecem com os discursos do Racialismo Científico e do Darwinismo Social. Por exemplo o discurso de um Lapouge e o suposto discurso "libertário" de uma Ayn Rand. Os argumentos da desigualdade natural e da violência atávicas de Kidd e as ideias de von Mises e outros...

Enfim, os mesmos argumentos do racialismo científico e do darwinismo social presentes nas ideologias, preconceitos e justificativas ainda hoje na boca de filósofos, "liberais", "neoliberais" entre outros paladinos que supostamente lutam contra o politicamente correcto ...., que por vezes não alteram nem as vírgulas em um suposto pessimismo e uma suposta comprovação de que a igualdade seria artificial e antinatural.

Chega a ser desconsertante ver o grau de similitude entre os discursos do passado e os discursos do presente.....

Uma das coisas que eu acho que falta à obra para que ela fosse mais completa é uma análise contemporânea das questões raciais no mundo. Não que isso prejudique a comprovação da tese do autor, pelo contrário, mas faz falta uma abordagem do cenário contemporâneo após a segunda guerra.

Eu digo principalmente em relação aos EUA, que com seu projeto político continua produzindo não só discursos pseudocientíficos racistas como, na minha opinião o mais grave, IDENTIDADES RACIAIS.

Frequentemente partem de universidades ianques estudos pseudocientíficos que tentam apontar, por exemplo, a existência de um determinado gene que seria mais frequente em etnias de descendência africana que faria a pessoa ter menos foco e atenção nos estudos e no trabalho e PORTANTO brancos teriam maior capacidade de atenção e desenvolvimento em atividades intelectuais......

Por mais que esses estudos sejam frequentemente denunciados como pseudocientíficos pela comunidade científica séria, é inegável a sua influência já que eles partem de PhDs em grandes universidades.

Mas o mais grave é a produção de identidades, seja a identidade nacionalista "Americana", como se a América fosse um país e não um continente (todos os brasileiros, todos os canadenses, todos os mexicanos....são igualmente AMERICANOS!), contra toda a lógica e contra toda a racionalidade tentando dividir na marra, à força bruta, um continente em identidades nacionais categorizáveis a partir do ponto de vista ianque, sejam as identidades claramente raciais como a "LATINA".

Eu creio que não há nenhuma expressão mais precisa da continuidade das práticas racistas do que a invenção de uma identidade LATINA. Uma identidade tão artificial e fabulosa como qualquer identidade racial, mas que, justamente por não se referir a nenhum estado nação específico e a nenhuma identidade étnica precisa, mas a um conjunto de pessoas que precisam ser discriminadas, excluídas do monopólio das elites ianques brancas sobre os recursos políticos e sociais, tornar-se mais óbvia a sua criação e a sua utilidade em prol de um discurso racista que visa a um projeto político (a tese dessa obra).

É uma identidade fabulosa aplicada apenas aos imigrantes de países periféricos. É notável, por exemplo, no discurso da extrema direita ianque a reabilitação da identidade francesa como "os franceses falam uma língua latina, mas eles não são latinos". Ou a expressão América Anglo-Saxônica, como se os Visigodos nunca tivessem invadido a península ibérica ou, mais fabuloso ainda, como se houvesse uma CONTINUIDADE étnica das tribos latinas de Roma até os 'latino-americanos'.

Uma outra coisa que me incomodou foi a rapidez como o autor passa pelos linchamentos do sul dos EUA. Eu entendo que trata-se de um livro de história, mas valeria a pena como memória e denuncia contra as tentativas atuais de apagamento demorar-se um pouco mais sobre essa prática. Os brancos do sul dos EUA chegaram a um nível de selvageria e sadismo dificilmente vistas em outros momentos da história. É difícil entender como pessoas que se acreditavam cristãs, civilizadas, superiores por serem brancas praticassem algo que só pode ser descrito como "abominação sádica".

Vale a pena assistir ao documentário da BBC "A História do Racismo e do Escravismo", embora o documentário seja obviamente bem mais resumido.

Talvez eu tenha extrapolado as conclusões a que eu poderia chegar a partir da leitura do livro. Mas certas conclusões ficam tão óbvias após a leitura atenta, que eu não poderia ter deixado de fazê-las.
Salomão N. 01/05/2018minha estante
Sul dos EUA foi a maior vergonha do país, indubitável isso.


Salomão N. 01/05/2018minha estante
E o Tocqueville é amorzinho demais, sensato independente de ideologia. *-*


Emme, o Fernando 01/05/2018minha estante
Em relação aos linchamentos de negros nos EUA eu acho que só algumas torturas do mundo protestante se equiparam...


Emme, o Fernando 01/05/2018minha estante
E em relação ao Tocqueville rsrsrs, eu não podia deixar de colocar essa parte....




Filipe 18/09/2019

As origens do preconceito racial
Dialogando constantemente com o leitor através de uma linguagem direta, Racismos é uma coletânea de fatos históricos que discute as bases do preconceito racial nos âmbitos cultural, regional e, principalmente, político. Ainda que ligeiramente didático e prolixo, é um livro cheio de informações precisas e convincentes, que esclarece da melhor maneira a formação, propagação e perpetuação do pensamento racista, enraizado primariamente nos alicerces de uma sociedade imutável, embasada em opiniões retrógradas e falaciosas.
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Arisa.RC 24/07/2022

Parte histórica boa, a parte mais recente deixa a desejar
É um bom livro de história, que apresenta como a política, a religião, a economia e a ciência influenciaram discursos e práticas discriminatórias. Porém, o autor em vários momentos trata o termo racismo como sinônimo de discriminação ou preconceito, o que, considerando os estudos atuais sobre o tema, não parece adequado. As análises sobre EUA e Brasil são bastante superficiais e as conclusões problemáticas. Em mais de um momento o autor fala como se a questão do racismo, inclusive nesses países, já estivesse superada. A sua tese central é de que o racismo é construído a partir de projetos políticos, pelo que a conclusão, a partir de uma visão limitada de institucioidade pode até fazer sentido, mas é um pouco decepcionante perto das descrições detalhadas e análises mais aprofundadas sobre períodos anteriores.
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pi 14/07/2020

https://drive.google.com/file/d/1ARitsCdBMMa8khHYBSje6V4Fdp8PoTFG/view?usp=sharing
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