spoiler visualizarFeliky 22/10/2023
Ótima leitura
No que diz respeito à parte da edição, A Odisseia está semelhante com A Ilíada já que ambas são traduzidas por Frederico Lourenço nesse box Caixa Homero da Companhia Penguin. A tradução aqui é feita de modo a tornar a leitura mais simples e fluida, porém sem colocar muito em risco a fidelidade ao material original. Apesar do tradutor ser português, não precisa ficar preocupado em ser muito diferente do que seria do português brasileiro porque não é algo que fique notável no texto. Os textos de apoio são igualmente prazerosos de ler que nem os da Ilíada, e a na realidade recomendo o box porque os textos de apoio de ambos se complementam em certos aspectos. No final, há notas explicativas, então recomendo ao final de cada Canto ir procurar se há notas para aquele Canto específico no fim do livro. O problema continua sendo a capa, que é feita de uma material muito fácil de ficar marcado ou amassado, porém entendo que provavelmente fizeram isso pra baratear o custo e preferiram investir no texto mesmo.
Eu, particularmente, preferi A Ilíada em grandes partes porque acho Aquiles mais interessante que Odisseu, mas A Odisseia foi mais rápida porque ela é muito mais cheia de aventuras que A Ilíada. Há quem diga que os primeiros Cantos, a parte da "Telemâquia", que segue o ponto de vista de Telêmaco ao invés do de Odisseu, é entediante, mas discordo. Mas também eu seja suspeita para falar porque gosto bastante do Menelau desde A Ilíada e ele tem maior destaque em A Odisseia por causa do Telêmaco. Outra diferença entre as duas obras de Homero é que A Odisseia descaradamente tem mais personagens femininas e elas são, em grande parte, mais interessantes do que foi mostrado em A Ilíada. Penélope e Circe foram o destaque, claro, mas temos Calipso, Ino, Nausícaa, Areta, entre outras. Odisseu constantemente recebe auxílio de mulheres e mesmo a divindade que mais está ao seu lado é Atena, uma deusa e não um deus. Aliás, ironicamente Homero, que data de muito antes de Cristo, consegue colocar mais personagens femininas úteis e diversas do que vários autores modernos.
A Odisseia brinca muito com a ideia hospitalidade e é possível ver tipos de anfitriões e tipos de hóspedes enquanto lemos. Por exemplo, temos os pretendentes de Penélope, que são hóspedes terríveis em tudo que se propõe a fazer. Por outro lado, o próprio Telêmaco é um bom hóspede para Menelau e Nestor quando os visita. Temos Calipso representando uma anfitriã que é boa em acolher, porém ruim em não permitir que o hóspede vá embora. Temos Circe, que inicialmente é uma anfitriã ruim de acolhimento, porém boa ao permitir que o hóspede vá embora e ainda por cima lhe dê presentes (conselhos muito úteis, aliás). Temos Polifermo, que é um anfitrião ruim em tudo que se propõe. Temos Menelau, que é um exemplo de bom anfitrião em todos os aspectos. E claro, os Féacios se enquadram na mesma categoria de Menelau.
Aqui, vemos um pouco dos guerreiros de A Ilíada quando Odisseu os visita e vê seus fantasmas. Pátroclo apenas aparece e não fala e nem é realmente comentado, mas temos explicações a respeito do suicídio do Ajax Telamônio (que posteriormente Sófocles irá escrever uma tragédia sobre) e vemos como ele ainda está sentido com Odisseu. Além disso, Agamêmnon (que alude a história que outros escritores contarão anos depois, como Ésquilo em A Oristeia) e Aquiles são de longe os fantasmas dos heróis de Troia com maior destaque no texto.
Mais lá para frente, o livro ficou um tanto quanto arrastado para mim, mas nada de tão ruim. É uma ótima leitura e serviu de inspiração para muitos "tropos" em histórias de aventuras que viriam a surgir após Homero.