Paulo 22/05/2021
Coleção de ensaios de um dos mais respeitados críticos e teóricos de cinema do mundo, André Bazin. Demorei mais ou menos três meses para ler esse livro, não só pelo tamanho, que tem uma menor parcela de “culpa”, mas pela escrita, que creio não poder chamar de academicista, apenas, talvez, de difícil; acabo de ler em algum lugar que esses textos de Bazin são acessíveis, mas de forma alguma. Cheguei a cogitar, e alguém na internet também sugeriu isso, que talvez a tradução para o português não seja muito boa, porque às vezes a escrita parece um pouco desconexa, talvez seja apenas a forma naturalmente elaborada de se expressar de mais um grande intelectual. E como Bazin em um dos seus vários artigos sugere que é necessário um conhecimento prévio para compreender determinados assuntos ou temas, da arte, se bem me lembro, me parece também que seu leitor necessita de certa “bagagem” intelectual, natural se considerarmos que isso é um livro de teoria, Bazin, por exemplo, se refere diversas vezes à ontologia.
Admito não saber como ou onde Bazin se instruiu, mais especificamente em relação ao cinema, claro, mas seu conhecimento em relação à história do cinema e suas reflexões críticas sobre os filmes mostram propriedade nessa linguagem, que por sua vez e naturalmente faz uso de outras linguagens e ciências humanas, como política, sociologia e filosofia, as quais ele usa para analisar e teorizar sobre essa arte.
Em seus vários artigos aqui reunidos, Bazin discorre sobre os gêneros, como o Western, também fazendo comparações e observações sobre os gêneros literários; sobre algumas escolas, como o cinema soviético, em que analisa seu histórico não apenas de forma cinematográfica, mas social, apontando, por exemplo, sua função propagandística não só de enaltecimento à URSS, mas mitificando Stálin, e aqui Bazin pontua outra coisa interessante, a mitificação de alguém ainda vivo; e talvez o maior, ou um dos maiores destaques desses seus ensaios, é o neorrealismo italiano, que encerra o livro com variados artigos sobre o movimento, filmes específicos e seus diretores.
Ismail Xavier abre esta edição com notas, uma apresentação e um prefácio, e o encerra com um interessante texto sobre o nome de Bazin no Brasil e sua influência sobre nossos críticos e até sobre o Cinema Novo, mencionando, por exemplo, que Glauber Rocha à princípio apenas respeitava o crítico, mas que depois passou a fazer sobre ele “críticas mais cáusticas”, e que apesar de seu renome, houve uma demora para que seu primeiro texto fosse publicado no Brasil.
Este livro está em muitas listas de obrigações para estudantes do cinema assim como seu autor, que mesmo tendo vivido apenas até o início dos anos 50, falecido aos 40 de leucemia, é um dos maiores nomes da crítica e teoria do cinema.