Grasiela Lima 04/03/2018
Eu ainda tô no chão com esse livro
Resenha postado em 04/03/2018, da autora Débora de Mello.
Há menos de uma semana, uma autora que conhecia de nome e divulgação, apareceu no meu privado do Facebook. Tudo bem até aí. Depois de uma breve prosa aonde ela esqueceu o motivo de ter aberto a conversa, isso graças a minha demora em responder (acrescente uma face ruborizada aqui), finalmente chegamos no ponto principal do bate papo: uma resenha.
Débora, escritora que eu já admirava desde antes de conhecer, estava me perguntando se eu poderia fazer uma resenha caso ela me enviasse o PDF do seu livro. Eu fui ao chão. Teria o exemplar de Riso para ler e, melhor ainda, dar minha opinião à autora. É claro que aceitei, e aqui estou eu.
Para início de resenha, O Riso Da Morte é uma obra de Débora de Mello e está disponível na Amazon depois de muito tempo no Wattpad.
Sobre a criadora dessa obra, é importante ressaltar que ela é dona de muitos talentos, e você se verá surpreso com tudo feito pela mesma em Riso, a começar pela capa. Por já ter lido tudo, eu terei que me abster de tecer teorias sobre a ilustração, pois já sei seu significado e dizê-lo seria tirar seu prazer de descobrir por si só.
No entanto, não há spoiler em elogiar. A ilustração, além de ser muito bem feita, é ponto alto em simbolismo na obra, e mesmo sendo o quê é, consegue ser linda. É impressionante como tudo na capa harmoniza bem. As cores, fontes, posição delas.
É possível notar todo o cuidado com que a autora trabalha em todas as artes que faz. Seja elas livros ou manipulações no Photoshop.
Ao iniciar, eu já esperava me surpreender e embarcava sentindo o gostinho de profissionalismo dado ao acabamento do exemplar de PDF me fornecido. Consegui sentir desde o início a preocupação da escritora em me prender ali. Na verdade, você não vai notar se não se ater a isso, afinal, cada linha parece te segurar mais no livro e a única coisa que sabe é: todos são suspeitos.
Logo de início, há um sequestro, e você passará horas tentando ligá-lo a outro rapto que também ocorre dentro da trama. Se conseguirá ou não, é outra história. Eu falhei miseravelmente nisso e digo que meu queixo foi ao chão ao notar as ligações que há. Afinal, livro de suspense sem essas conexões, nem é suspense.
Enfim, os primeiros personagens com quem temos contato mesmo são os tenentes John Hale e Payne Hastings.
John é simplesmente um homem ao que, minhas caras e caros, vocês irão se render. Com personalidade e charme, ele parece exalar aquilo que eu apostaria que pode jogar um feitiço sobre os interrogados do caso do Artista de Houston, no entanto, não se engane, Payne interroga muito melhor que nosso amado John. Aliás, se há algo que verá lá com frequência, é ela mostrando todo o seu talento naquilo que decidiu para sua vida.
Os detetives têm traços físicos e de persona que se completam, dando a eles características muito bem encaixadas. Além disso, Payne é o retrato de uma mulher decidida e bem resolvida consigo mesmo e sua existência. Há, como bom personagem, traumas por trás da sua máscara de forte, mas é notável que ela lida da melhor forma possível com os ossos do passado em seu armário.
Por ser suspense, digo uma coisa que ressaltei aos berros no privado de um amigo: um erro não é um erro. Não pude me conter ao achar um errinho de continuação. Pensei logo em ir chamar a autora e avisar (tola, eu), afinal, a obra estava perfeita já, mas ficaria ainda mais sem aquilo. Depois de vários elogios que fiz a tudo em um bate papo com esse amigo, disse que havia achado um pequeno errinho no livro que estava lendo, mas que ele continuava ótimo. Algum tempo depois, eu estava voltando aos gritos para dizer a ele: erros não são erros em suspense. Guarde bem isso. Cores diferentes não são erros, são pistas. Essa é a pista que eu te dó para não fazer cara de pastel lá. (perdoa, mas é o que mais fará, pois não há como não se surpreender e fazer cada de: que está acontecendo, nossa senhora dos autores?)
Eu, estática, continuei a leitura ainda mais fascinada. Havia sido duplamente enganada e tinha amado isso. Essa é a graça do suspense, aliás.
Com o desenrolar dos capítulos, novos personagens e pistas foram surgindo. A trama de investigação foi enredada a vida deles, sem esquecer o foco e ao mesmo tempo dando a nós, leitores, o prazer de saber mais sobre cada um ali.
Nisso, Payne se mostrou ainda mais surpreendente e John não tão sério. Parecia que ambos finalmente haviam encontrado o parceiro ideal. Dentro das suas diferenças, se deram bem.
Enquanto se conhecem, a trama vai se desenvolvendo, sempre progredindo em relação a todos os personagens, sejam eles os que mais aparecem ou os que apenas dão leves momentos do seus dias, como o perito Liam Harrison. Personagem esse que me parece um pouco injustiçado (com relação a não se cansar de verdade, como Payne pensa em certo momento), mas, claro, sem esquecer que, realmente, Liam provoca e não é pouco.
Há ainda o legista Robert Hodges e seu estagiário, George Lewis. Robert é um profissional dedicado e com rituais que segue a risco dentro do seu necrotério. Aposto que aquele lugar será o primeiro local onde há mortos que você entrará e se sentirá confortável, como na casa de um velho amigo. Afinal, é como se fosse, pois para o legista ali é uma casa. As paredes, no início enfeitadas para o Dia das Bruxas, já estão tão familiarizados com ele que talvez o conheçam melhor que qualquer um. Lewis, por sua vez, foi alvo de muitas suspeitas minhas durantes alguns capítulos (a verdade é que todos fora e ainda são, mesmo após o termino da leitura, nunca se sabe, já que é uma série de livros.)
Dando sequência e antes que essa resenha fique maior que um capítulo, é válido ressaltar que há muitos outros personagens que eu adoraria falar sobre aqui, mas a simples menção de alguns deles seria spoiler, e tanto eu quanto você não queremos estragar sua leitura, não é?
O que se pode extrair de o Riso é que a autora sabe muito bem o que está fazendo ali, que cada detalhe, por menor que seja, foi pensado para te causar surpresa e, claro, confundir sua mente. Não se engane, as aparências são traiçoeiras e a escritora não tem a menor intenção te de mostrar quem é o assassino antes dá hora. Além disso, há também o fato de ser incrivelmente limpo, uma narrativa agradável também em termos de erros, que eu não achei um se quer, e com gosto de quero mais, sem esquecer o cuidado com os títulos de cada capítulo.
No resumo, uma obra feita de personagens bem estruturados, narrativa marcante com a presença de traumas, sonhos, desilusões, e até romance, tendo direito até a subtramas exploradas na medida certa, sem nunca esconder o verdadeiro mistério. Há também descrições esplêndidas, das mais belas as mais cruéis, merecedoras de quotes e colagem na testa, ambientação desenvolvida em um todo, sem roubar a cena e nem ser esquecida.
O que posso dizer para finalizar é que passei uma temporada em Houston e suas redondezas graças a esse livro e eu, como leitora, te convido a fazer o mesmo, e perceber, como percebi, que não há como esquecer daquelas ruas ou dos seus transeuntes e moradores. Os detetives Hale e Hastings esperam por você!