Helaina 29/03/2022
Quem nunca ouviu falar de Sherlock Holmes?
Poucas pessoas devem fazer parte desse grupo, se é que existem, principalmente no mundo literário. No entanto, quem nunca leu uma história de Sherlock Holmes? Até o começo de 2020 eu era uma dessas pessoas. Tinha interesse, mas não muito, então sempre deixava para depois. Não vou dizer que me arrependo, porque nunca é tarde demais para embarcar em uma boa história, mas pretendo recuperar o tempo perdido lendo e relendo as aventuras do detetive narradas pelo seu melhor amigo, John Watson, tantas vezes quanto tiver vontade.
Comecei minha aventura com os e-books dos dois primeiros livros escritos por Conan Doyle, Um Estudo em Vermelho e O Sinal dos Quatro. Gostei tanto que precisava comprar as edições físicas antes de continuar a leitura. Queria a sensação das páginas, o cheiro, os marcadores coloridos, vocês entendem, né? E foi assim, que pedi e ganhei de aniversário a Obra Completa das histórias do detetive Londrino.
A coleção é composta por 4 livros de capa dura que vem em uma caixa para o armazenamento. Adorei a apresentação das edições, e apesar de ser mais fã de brochura, por conta do peso e do preço. De qualquer forma, ficaram lindos na estante!
O primeiro volume contém os livros: Um estudo em vermelho, O Sinal dos Quatro, e As Aventuras de Sherlock Holmes, com os contos: Escândalo na Boêmia, A liga dos ruivos, Um caso de identidade, O Mistério do Vale Boscombe, Os cinco caroços de laranja, O homem de lábio torcido, A pedra azul, A banda pintada, O polegar do engenheiro, O nobre solteiro, A coroa de berilos, As faias roxas.
Como disse, já havia lido os dois primeiros romances quando ganhei essa coleção, mas resolvi reler e gostei muito de revisitar os casos, apesar de já saber o desfecho. Estou adorando acompanhar as percepções do Doutor Watson sobre seu mais novo amigo, Sherlock Holmes, e me identificando um pouco (muito) com o próprio narrador e seus hábitos peculiares.
"Faço objeção a qualquer tipo de barulho, porque estou com os nervos abalados. Além disso, costumo levantar-me em horas impróprias e sou terrivelmente preguiçoso. Ainda tenho outros defeitos quando estou bem de saúde, mas, no momento, estes são os principais." Pág.18
Chamou minha atenção, pra não dizer que me surpreendeu, foi o experimento que Sherlock fez com sangue no início de ‘Um estudo em vermelho’. O escrevi fazendo um experimento muito semelhante na fanfic (Memórias Anônimas) que publiquei antes de qualquer contato com as histórias e senti como se tivesse uma conexão com Sir. Arthur Conan Doyle! (assustada). Já inclusive recebi um comentário dizendo que minha escrita se parece com a dele, mas até agora não sei como reagir a isso.
Acho que nunca amei tanto um livro escrito em primeira pessoa, mas sei que essa sensação agradável se deve ao fato de eu ter me apaixonado pelo John Watson, interpretado pelo ator Martin Freeman na série da BBC. Inclusive foi o que me fez querer conhecer a história além da série. Também amo muito o Sherlock Holmes de Benedict Cumberbatch, mas o laço que criei com John, me faz sentir como se fosse ele mesmo lendo as histórias para mim.
"Não vou lhe dizer muito mais sobre o caso, Doutor. Como sabe, um mágico perde o prestígio quando o truque é desvendado." Pág. 42
A leitura é muito fluída e eu acabei fazendo pausas desnecessariamente longas entre os capítulos só para não acabar rápido. A forma como Conan Doyle apresenta todos os detalhes, e não são poucos, é longe de ser cansativa e se eu lesse até me cansar, teria terminado esse livro em bem menos tempo.
No romance ‘O signo dos quatro’, temos John Watson apaixonado e ao invés de sentir ciúmes, eu gostei ainda mais da maneira como ele se encanta com Mary Morstan, cliente que procura de Sherlock Holmes pedindo ajuda.
"Meu espírito foi atrás da nossa visita, o seu sorriso, o tom quente e profundo da sua voz, o estranho mistério que pesava sobre sua vida. (...) Doce idade, quando a mocidade perde sua inibição e torna-se mais sensata pela experiência." Pág.149
Já li resenhas de pessoas que não gostaram muito da personagem, mas a mesma não apresentou motivos. Dependendo do quais forem, deve-se levar em consideração dois aspectos importantes. Primeiro, o ano da publicação (1890), o comportamento das mulheres naquela época era totalmente diferente de hoje, além disso, é um livro narrado em primeira pessoa pelo homem que está declaradamente apaixonado e apresentando o que ele vê, não apenas os fatos. Eu gosto da Mary que o Doutor Watson mostrou e tenho certeza que há muito mais além da observação dele.
"Fiquei maravilhado depois, mas naquele momento, parecia a coisa mais natural aproximar-me dela e, como ela disse muitas vezes depois, havia nela também o instinto de voltar-se para mim em busca de conforto e proteção. De modo que ficamos de mãos dadas como duas crianças e uma grande paz invadiu nossos corações, apesar de todas as coisas obscuras que nos rodeavam." Pág. 167
Eu amei esse livro onde eu esperava muito mistério e investigação, e recebi também romance e humor. Já li duas vezes e pretendo ler de novo. Sinceramente, a forma com que um dos bandidos tentou fugir ainda me faz rir toda vez que eu imagino a situação.
Nos contos consegui desvendar alguns dos casos junto com Sherlock, e às vezes antes dele. Há inclusive um caso onde ele faz uma dedução errada, que não me enganou. A questão é que, lendo com bastante atenção, um caso serve de instrução para o outro. Você vai aprendendo a arte da dedução com o detetive. Só precisei ficar atenta aos detalhes. Mas é óbvio que não consegui solucionar tudo e o fato de eu ter acompanhado a série da BBC também ajudou já que há muitas referências à história original na versão de Steven Moffat e Mark Gatiss.
"A vida é infinitamente mais estranha do que qualquer fantasia concebida pelo homem. (...) Pode acreditar, não há nada mais insólito do que o corriqueiro." Pág.294
Sobre essa edição da Haper Collins Brasil, achei ruim o fato de que algumas citações não terem sido traduzidas acabei recorrendo ao Google tradutor durante a leitura para saciar minha curiosidade. A não compreensão das frases não atrapalha a compreensão da história, mas acho que notas de rodapé seriam mais práticas.
Eu realmente amei ler essas primeiras histórias de Sir Arthur Conan Doyle e elas já têm um lugar especial no meu coração. Sigo completamente apaixonada pelo casal Mary e John Watson, amando a narrativa do médico sobre as investigações conduzidas por Sherlock Holmes e minha opinião sobre o detetive, bem, eu entendo a irritação dele com a lerdeza das pessoas. (E às vezes compartilho desse sentimento). Vibro cada vez que ele joga o óbvio na cara delas e não estou conseguindo vê-lo como arrogante ou algo do tipo. Eu adoraria ser amiga de Sherlock Holmes.
"Creio que sou mais denso que meus semelhantes, mas sempre me senti oprimido por uma sensação de minha própria estupidez quando lidava com Sherlock Holmes." Pág. 286
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