Um Escritor na Guerra

Um Escritor na Guerra Vassili Grossman
Lyuba Vinogradova
Lyuba Vinogradova




Resenhas - Um Escritor na Guerra


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Tiago 25/03/2017

UM ESCRITOR NA GUERRA
Eram 15 repúblicas, 14 línguas, 290 milhões de habitantes, um único partido comandado pelas mãos de ferro de um único líder. A desfragmentação final da união soviética só ocorreria em 1991, mas em junho de 1941 a catástrofe que se abateu sobre a gigantesca nação vermelha colocaria a prova o regime erguido por Lênin e a força patriótica do povo soviético. Nos quatro anos da guerra na frente russa 1710 cidades foram destruídas, setenta mil aldeias arrasadas, 65 mil quilômetros de trilhos ferroviários danificados, 15.800 locomotivas, 428 mil vagões e 4.280 embarcações destruídas, 1,2 milhão de habitações urbanas e 3,5 milhões de residências rurais arrasadas. Em algumas regiões o potencial industrial foi reduzido a 1,2% e o numero total de mortos alcançou a imensurável marca de vinte milhões.
Nunca na historia um evento foi tão feroz e destrutivo como a luta que se travou no front soviético durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O que para alguns era o retrato vivo do apocalipse, para outros era a oportunidade para mostrar ao mundo que o caráter exponencial da violência humana era não apenas um fato, como também um dos mais trágicos elementos do século XX. Lançado no Brasil pela editora Objetiva a obra “Um escritor na guerra. Vasily Grossman com o Exercito Vermelho 1941-1945”, é quase uma epopéia realista da historia russa do ultimo século. A edição conta com comentários do historiador britânico Antony Beevor que situa o leitor à medida que se desenvolve o conflito.
Recusado para o serviço militar por inaptidão física Vasily Grossman, químico e escritor soviético, conseguiu ser incorporado ao exercito em 28 de julho de 1941, como correspondente do jornal Kranaya Zvezda. Grossman testemunhou as derrotas sofridas pelo exercito vermelho no verão de 1941, a defesa desesperada de Moscou, acompanhou de perto os combates na Ucrânia e presenciou a gigantesca batalha de Kursk. Munido de um simples bloco de anotações ele registrou o que viu no front e levou a seus leitores a realidade brutal da guerra.
Foi o correspondente soviético que por mais tempo cobriu a sangrenta batalha de Stalingrado: “Eu vinha imaginando como seria a guerra, tudo pegando fogo, crianças gritando, gatos correndo, e quando cheguei a Stalingrado vi que era realmente isso, apenas um pouco mais terrível.” Esteve entre os primeiros a entrar no campo de extermínio de Majdanek, na Polonia, após sua libertação. Descreveu em detalhes as instalações do menor e mais letal campo de extermínio nazista: Treblinka. As dimensões reduzidas de Treblinka deixava claro seu único propósito: matar. Seu impressionante artigo “Um inferno chamado Treblinka” seria posteriormente utilizado como prova durante o julgamento de crimes de guerra em Nuremberg.

Apesar de todo o horror visto nos campos de batalha nada seria capaz de preparar Grossman para o choque que teria ao chegar à pequena cidade de Berdichev, na Ucrânia. Entrevistando os sobreviventes ele descobriu que em 15 de setembro de 1941, poucas semanas após o inicio da invasão, vários destacamentos da SS haviam reunido os moradores na praça do mercado e os executado. Os idosos e incapazes de andar foram mortos dentro de suas próprias casas. Alguns moradores haviam sido levados em marcha para um campo de pouso nas proximidades da cidade e fuzilados. Dentre as centenas de idosos executados naquele dia estava Yekaterina Saviélievna: mãe de Grossman.
Sem duvida um dos trechos mais intensos e emocionantes do livro é a carta de despedida que ele escreve para sua mãe logo após descobrir sobre o seu trágico fim. Posteriormente ele dedicaria seu magistral romance "Vida e Destino" a sua mãe:
“Querida Mamãe, soube de sua morte no inverno de 1944. Cheguei a Berdichev, entrei na casa onde você morava e que tia Anyuta, tio David e Natasha havia deixado, e senti que você havia morrido. Mas lá longe, em setembro de 1941, meu coração já sentia que você não estava mais aqui. (...) Tentei dezenas de vezes, talvez centenas, imaginar como você morreu, como você caminhou para encontrar a morte. Tentei imaginar a pessoa que a matou. Foi a ultima pessoa a vê-la. Sei que você estava pensando muito em mim o tempo todo (...)”
Pelos olhos e pela caneta de Grossman ficaram marcados e registrados as ruínas de Varsóvia após o sangrento levante de 1944 e a violência das batalhas pelas ruas de Berlim, quando a Alemanha de Hitler dava seus últimos suspiros. Em dado momento ele havia escrito: “um soldado do Exercito Vermelho está deitado na grama depois de uma batalha, dizendo para si mesmo: ‘os animais e as plantas lutam por sua existência. Seres humanos lutam por supremacia”.
Qual seria o aspecto mais característico da guerra? Por que ela nos afeta de forma tão profunda? Essas são perguntas que nos fazemos durante toda a leitura dessa impressionante obra. A guerra se alimenta da expectativa que ela produz através do recrudescimento constante do comportamento que permeia as relações humanas. Nesse caso o uso da força é visto como a canalização de um ideal cujo objetivo é atingir um propósito comum. Quando chegou a Landsberg, a poucos quilômetros de Berlim, Grossman anotou:
“Crianças estão brincando de guerra no telhado plano de uma casa. Nossas tropas estão liquidando com o imperialismo alemão neste minuto, mas aqui os meninos com espadas e lanças de madeira, de pernas compridas, cabelo cortado curto na parte de trás da cabeça, franjas louras, estão gritando com vozes estridentes, apunhalando uns aos outros, pulando, saltando loucamente. Aqui está nascendo uma nova guerra. Isto é eterno, não morre.”
Infelizmente ele estava certo: a paz é uma fabula sintética da humanidade!

AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO

site: http://cafe-musain.blogspot.com.br/2016/05/um-escritor-na-guerra-vasily-grossman.html
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Wes Janson 02/09/2009

Bela reportagem de guerra!
Um belo relato de um escritor competente que trabalhou como correspondente na Segunda Guerra, mostrando um lado do conflito pouco conhecido no Ocidente, o front oriental, acompanhando de perto o Exército Vermelho.

Talvez por ser judeu e não ser comunista fervoroso, redigiu seus textos de forma mais imparcial e honesta, sem o endeusamento que outros procuravam dar, devido ao rigor de Stalin.

Emocionante é a descrição de um campo de morte, Treblinka, onde chegou pouco após a libertação, fazendo uma descrição chocante de como funcionava essa fábrica de horrores dos nazistas.

Recomendado a quem gosta do tema guerra, mas também a jornalistas!
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MARIO FILHO 14/03/2009

RESISTENCIA DOS RUSSOS
A narrativa vibrante e no calor dos acontecimentos é o que nos comunica Vasily Grossman reporter, descortinando um verdadeiro "Jornalismo de Guerra". O escritor enfatiza também os erros do ditador Stalin ao longo do desenvolvimento da Guerra.... Muito boa a forma narrativa..
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Leo 28/01/2012

Pode não ser excepcional...
...para quem não é ligado em história mas é interessante para se conhecer o dia a dia do Exército Vermelho na Segunda Guerra.
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Renan Vianna 13/08/2017

A cruel verdade da guerra
Os escritos de Grossman mereciam uma cuidado muito melhor. Há uma discrepância gritante entre os comentários e as contextualizações imprecisas do editor americano Antony Beevor e a prosa elegante de Grossman. Acontece de muitas vezes não existir nenhum nexo entre o que Beevor diz e o texto comentado. Sem falar na gafes biográficas, como afirmar que Grosmman nunca foi membro do Partido e em menos de 200 páginas depois contradizer-se.

Tirando essas questões, que em última instância são secundárias, há coisas muito interessantes no livro. O relato logo no início, da desolação e melancolia com que os russos receberam o avanço avassalador do exército alemão. A descrição épica da batalha de Stalingrado, e de sua heroica 308° divisão de rifles que chegou até Berlim. O relato perturbador acerca do inferno que era o campo de extermínio em Treblinka de como os moradores de vilarejos próximos a ele precisavam abandonar suas casas e fugir para a floresta, porque não aguentavam ouvir os gritos das mulheres e crianças que eram mortas por membros da SS a quilômetros de distância.

Todas essas histórias impressionantes, ganham vida na escrita de Grossman, e não só as histórias, como as pessoas que vivenciaram assim como o próprio autor esse evento apocalíptico que fora o front oriental. Front que abatera "No covil a besta fascista" como dizia um cartaz do Exército Vermelho em uma rua de Berlim nos últimos e ensolarados dias do fascismo alemão na terra.
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