O Garrancho 25/02/2023
Espetáculo com aplauso mais do que garantido
Com seleção de Eduardo Portella, a coletânea “Melhores Contos”, de Lygia Fagundes Telles, dá ao leitor uma mostra representativa da contística da grande dama da nossa literatura brasileira.
A publicação, que sai pela editora Global, reúne 16 contos de Lygia, dos quais 10 foram releituras para mim.
Desde março de 2022, estou me dedicando a ler todas as obras que tenho da autora e que ainda não havia lido. E a cada volume me surpreendo – ora, não é à toa que La Telles foi cotada a receber o maior prêmio literário de todos, o Nobel.
Aqui li pela primeira vez “Herbarium”, “Pomba enamorada e uma história de amor”, “Seminário dos ratos”, “Noturno amarelo”, “A presença” e “A mão no ombro”.
Pode parecer lugar comum, mas preciso reiterar o quanto o texto ficcional de Lygia nos seduz com seus personagens enigmáticos, atormentados por sua (e nossa também, é claro) incapacidade de fugir da velhice e, portanto, da própria morte. Numa dinâmica não entreguista nem facilitadora, os finais em aberto dos contos convocam seus leitores à decifração, ou melhor, à imaginação. O que a escritora desejava mesmo, como ela sempre nos disse, é que fôssemos seus 🤬 #$%!& mplices.
É possível destrinchar, esmiuçar a sintaxe lygiana com vistas a investigar a sua construção narrativa – quantos já o fizeram, não é verdade? Agora, esse mesmo olhar apurado não raro esbarrará numa matéria bruta, que é o biscoito fino do texto de Lygia, a palavra – precisa e sempre despida de afetações.
E que talento para a criação de ambientes! Sem medo de cometer exageros, afirmo: o conto “As formigas”, nesse e em outros quesitos, flerta com a perfeição.
“Quando minha prima e eu descemos do táxi já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima. – É sinistro.”
Para Ricardo Ramos, a obra de Lygia “merece a melhor atenção da crítica e o aplauso do grande público”. De minha parte, é o que tenho feito – lendo, relendo e panfletando com entusiasmo as histórias de um dos maiores nomes da ficção brasileira.
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