Toni 25/09/2018
Desejo a todxs vocês a bênção de um dia ler um livro de amigx-ou-conhecidx-ou-crush e — pãrãrãrãm — gostar do que leu. Naquela frágil dinâmica das relações interpessoais, ser capaz de dar um retorno positivo e honesto será sempre fonte inesgotável de júbilo. Um júbilo condizente com esta edição caprichada da Lote 42, que se excede e desdobra em linhas e curvas—chiaroscuras—como os contos presentes no volume.
.
Digo contos, mas poderia chamá-los romance. Ainda que independentes, as ficções de Na outra margem, o Leviatã são interligadas por personagens recorrentes (que coadjuvam num dos contos e protagonizam outro) e compartilham de um risco narrativo que provoca a imobilidade e o cotidiano com cores de fantástico, de mal-estar social, de trauma histórico e memória afetiva, de resistência e confronto. (Aplaudi de pé, sozinho na sala, “Os recém-nascidos”, que explora a face carcomida da ditadura em nosso presente—Café e Panqueca confirmam a efusão).
.
Há, sobretudo, na urdidura dos sete contos, um trabalho com a linguagem do esfarelamento, da dissolução, da fragmentação e do desmanche. Todo um campo semântico a traduzir as transformações de grandes cidades no interior de seus exilados habitantes. Metrópole e indivíduo se amalgamam na ficção de Cristhiano Aguiar como faces de um mesmo instante, cuja mirada conjunta consegue apenas entrever, de tempo em tempos, o leviatã na outra margem.