A mulher ferida

A mulher ferida Linda S. Leonard




Resenhas - A mulher ferida


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Carla.Parreira 11/10/2023

A mulher ferida
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Segundo a autora, um dos papéis paternos é conduzir a filha do protegido ambiente materno e doméstico até o mundo exterior, ajudando-a a enfrentá-lo em seus conflitos. Sua atitude em relação ao trabalho e ao sucesso dará o tom da atitude da sua filha. Se for confiante e bem-sucedido, isso será transmitido a ela. Se tiver medo e não for bem sucedido, isso será transmitido a ela e é possível que ela adote a mesma atitude temerosa.
Tradicionalmente, o pai ainda projeta os ideais para a filha. Funciona como modelo de autoridade, de responsabilidade, de tomada de decisões, de objetividade, de ordem e de disciplina. Interessante saber que é frequente haver certos pares num casamento. O pai que é um eterno menino tem, em geral, uma mãe como esposa. Nesses casos, é esta quem na maioria das vezes domina a casa e estipula a disciplina para a família. Através dela vêm os valores, a ordem, a autoridade e a estrutura que, normalmente, viriam do pai. Quando o pai é fraco e indigente e a mãe é forte e controladora, a filha tem um duplo problema. Não só o pai não consegue funcionar como modelo masculino, como não enfrenta a esposa nem ajuda a filha a se diferenciar dela.
A filha talvez fique ligada à mãe e com ela se identifique. Se isso acontecer, é provável que inconscientemente adote as mesmas atitudes rígidas de sua mãe. O par contrastante é formado pelo velho rígido que tem uma garotinha como esposa. Nessa situação, tanto a mãe como a filha são dominadas, e a mãe, em sua dependência passiva, não fornece um modelo de autêntica independência feminina. Por conseguinte, a filha corre o risco de repetir o padrão de dependência feminina ou, caso se revolte, o fará como reação de defesa contra a autoridade do pai, e não como manipulação de seus valores e necessidades femininas próprias.
Também é possível tanto ao pai como à mãe serem eternos jovens, quando então o mais comum é haver pouca estabilidade, estrutura ou autoridade em ambos os genitores. Nesses casos, o compromisso deles é normalmente tênue: o casamento e a família podem se dissolver, deixando a filha num estado de caos e ansiedade.
Pode ser, por outro lado, que eles sejam rígidos e idosos e que governem com rédeas curtas. Nessa família, a filha será duplamente privada das fontes da espontaneidade e dos sentimentos. Creio ser este ultimo o meu caso.
Mais um livro confirma a tese de que o ideal da beleza reduz o valor da mulher a uma mera projeção do desejo masculino e a coloca na posição infantil de dependência típica da menina. A obediência respeitosa a reduz ao status de serva do patrão masculino. Quando o masculino é desprovido de valores femininos, quando não permite ao princípio feminino manifestar-se a seu próprio modo, a partir de seu centro natural, o masculino se torna brutal e sacrifica não só a mulher exterior, mas também o lado feminino interior.
O livro fala sobre quatro tipos de mulheres dependentes e submissas: a bonequinha queridinha, a menina de vidro, a despreocupada e a desajustada.
O que se exige de uma mulher 'eterna menina' em seu processo de autotransformação é que renuncie a seu apego à dependência, à inocência e à impotência infantil para que aceite a força que já está dentro de si, ou seja, que realmente se valorize. Se ela aceitar sua força e poder, sua inocência de menina irá se manifestar como elã jovial e feminino, como vigor, como espontaneidade e abertura para novas experiências que possibilitem um relacionamento criativo e produtivo.
Também cita mulheres que se identificam com a força e o poder masculino renunciando a própria feminilidade. Assim como acontece com as submissas, o livro classifica as 'poderosas' em quatro tipos: superstar, a filha conscienciosa, a mártir e a rainha guerreira. O principal de tais mulheres é o desejo de controlar. Junco com o controle, no entanto, costuma vir uma dose exagerada de responsabilidades, deveres e a sensação de exaustão.
Essas mulheres precisam aprender a valorizar sua vulnerabilidade e os aspectos incontroláveis de sua existência para criar uma nova fonte de forças. Um novo aspecto da transformação é se libertar da ideia de que precisa ser como um homem para ter poder. Tornar-se forte dá o mesmo trabalho que tornar-se fraco. Por isso, o guerreiro não perde seu tempo com fraquezas, mas assume a responsabilidade por seus atos e vive de modo estratégico, atendo às sincronicidades e ao que é. O guerreiro não tem medo porque é guiado por um propósito inabalável, está em foco e alerta.
Dessa forma, pode enfrentar todas as ameaças e os terrores. Firma-se em si e, ao mesmo tempo, entrega-se ao fluxo da vida imprevisível: esse é o estilo do guerreiro. Nessa medida, incorpora a integração do receptivo e do criativo, vivendo e amando os paradoxos da vida, equilibrando o terror e a maravilha de ser humano. Vale relembrar que nos sonhos as figuras masculinas são a representação interna do pai externo, enquanto as femininas provém da mãe (independente da aparência de idade dessas figuras).
Há uma diversidade de figuras paternas, imagens do pai arquetípico dentro de nós. O mesmo ocorre com relação as figuras maternas. Os homens sempre definiram a feminilidade através de suas expectativas conscientes do que as mulheres podem ou não fazer e através de suas projeções inconscientes nela. Isso teve como resultado uma visão distorcida não só das mulheres, mas também do lado feminino interior nos homens. As mulheres precisam se tornar conscientes dessas definições e projeções, identificando aquelas que as definem e aquelas que não.
Assim como os homens, nós mulheres também definimos a masculinidade através de nossas expectativas consciente de homens-príncipes-encantados ou pelas projeções inconscientes do pai interno irresponsável, sádico, infiel, admirável, etc. Quando as mulheres começarem a sentir confiança e a exprimir os valores de seu próprio modo de ser, serão capazes de curar o masculino, o qual, nelas, nos próprios homens e na cultura, está ferido por causa de seu precário relacionamento com o feminino.
Um homem amoroso, comprometido e sensível valoriza o feminino nas mulheres e em si. Uma mulher independente, eficiente e confiante valoriza o masculino nos homens e em si. O desafio é ter e ser todas essas qualidades vivenciando a potencialidade de sermos andróginos.
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