Dani 15/08/2023
Choque, desconforto e fel
O complexo de Édipo, e arrisco a dizer o de Jocasta também, é popularmente conhecido e por esse motivo, não há a quebra de expectativa quando se descobre ao final o que de fato aconteceu e como se sucedeu a ordem dos acontecimentos. Porém, se propusermos fingir que esquecemos como acontece a história e analisarmos como se nunca tivéssemos ouvido falar sobre a tragédia grega, você consegue sentir em primeiro impacto o choque pela possibilidade, o desconforto com o desenrolar da história e o gosto do fel junto a confirmação, mas o amargor não para por aí, caminha até o final da peça de um jeito cada vez mais profundo pela forma como é descrito o final de Jocasta e de Édipo. Na conclusão fica a curiosidade sobre como Édipo viverá até os seus últimos dias carregando essa culpa, como a descendência dos frutos do incesto lidará com esse peso e a incerteza do grau de culpabilidade de Jocasta, pela clara indiscrição com o desespero ao momento em que aparece o Pastor, que nos leva a perguntar se ela sabia desde o princípio ou se deduziu no desenrolar da investigação.