Ruh Dias (Perplexidade e Silêncio) 08/01/2019
Sugestão de leitura
Embora "A Vida Compartilhada em Uma Admirável Órbita Fechada" seja o segundo volume da série, ele funciona muito bem como um livro individual. Por isso, mesmo que você não tenha lido o primeiro volume, é possível compreender a estória tranquilamente.
A premissa da trilogia é que o cosmos é governado pelo Galactic Commons (GC). É este governo, que contém um representante de cada planeta, que estipula quais são as regras de navegação e comércio através do espaço sideral. Assim, para viajar longas distâncias, as naves podem acessar uma subcamada da matéria-escura e, através desta, criar um túnel, criando um buraco de minhoca artificial e bastante perigoso. Oito planetas compóem o GC: Terra, Marte, Aganon, Hagarem, Hashkath, Porto Coriol, Risheth e Sohep Frie.
Wayfarer é o nome da nave espacial que liga todas as estórias da série. Todas as personagens principais tem relação com a nave e seu trabalho de construção dos túneis.
Neste volume, a protagonista é Pepper. No livro anterior, Pepper aparece como coadjuvante na trama, responsável por fornecer peças e ferramentas para o conserto da Wayfarer e, também, ajudando Jenks a conseguir um corpo para Lovelace, a Inteligência Artificial (IA) da nave por quem ele se apaixonou. Infelizmente, as personagens do primeiro volume não aparecem aqui, o que me deixou saudosa, sobretudo de Sissix, minha crush.
O enredo é dividido em capítulos que alternam o tempo presente com flashbacks do passado de Pepper. No tempo presente, Pepper resgata a IA da Wayfarer e a coloca em um corpo que imita uma humana, e a esse corpo eles chamam de kit. O kit simula todas as funções do corpo humano, como pulmão, coração e expressões faciais. A IA, dentro do corpo, se dá o nome de Sidra. Pepper decide ajudar Sidra a se ajustar ao seu corpo e ao seu novo estilo de vida, o que se mostra muito complexo. Sidra, como IA, está acostumada a ser onipresente e onisciente e sente muita dificuldade em ficar "enclausurada" num kit. Além disso, kits são ilegais e tanto ela quanto Pepper precisam tomar cuidado para que ninguém descubra esse segredo.
Nos flashbacks, sabemos que Pepper, na verdade, é Jane 23. Ela é uma humana modificada geneticamente para trabalhar em fábricas de reaproveitamento de tecnologia, daí sua incrível habilidade para consertar naves. Todas as Janes - mais de 70 espécimes - foram desenhadas para este objetivo e possuíam a mesma aparência física. Havia também Beths, Marys e tantos outros "modelos", cada um especialista em uma determinada função. Jane só conhece a realidade de sua fábrica e o ambiente restritivo e punitivo dela. Um dia, a fábrica explode matando todas as Janes, mas ela consegue escapar e busca refúgio numa nave abandonada.
Nesta nave, Jane se apega a Owl, a IA, com quem mora por mais de dez anos, até conseguir reconstruir a nave para fugir daquele planeta.
Becky Chambers escreve as personagens de maneira incrível. É fácil se conectar às personagens, sejam elas alienígenas, humanas ou IAs. E, consequentemente, é fácil se emocionar com a estória. Pepper é personagem muito real, com suas falhas de caráter e suas motivações, e logo eu estava completamente ligada à sua jornada de reencontro da Owl. E, além disso, as "crises existenciais" de Sidra são muito coerentes e Becky extrapolou todos os desdobramentos do que é ser uma IA. Seu trabalho foi preciso e coeso, digno de figurar no hall dos melhores escritores que já li.
Assim, sem dúvida, recomendo muito a leitura não só deste livro, mas também do volume anterior. Nenhum fã de ficção-científica digno deste nome deve deixar de conhecer a maravilhosa Becky Chambers.
site: https://perplexidadesilencio.blogspot.com/2019/01/sugestao-de-leitura-wayfarers-vol-2.html?fbclid=IwAR1mCbIF1eLJOAbZvRLSx7RLYpPnepBtMoykvF8DtIdLsNXol1xxgCB3Ans