Leonel Cupertino 01/03/2020
Conciso, mas belo
Uma vez que trata-se do primeiro romance escrito pelo genial Machado de Assis, podemos compreendê-lo como uma espécie de introdução ao seu estilo literário - embora já à época do seu lançamento o nosso querido autor fluminense já estivesse mais que adaptado aos contos, poesias e peças teatrais.
É um romance relativamente conciso, com poucos personagens, mas que nem por isso deixa de ser brilhante. Sua escrita é de um português impecável, cuja fonte nos dá gosto de beber.
A trama é folhetinesca - como tem que ser, realmente, contudo os nossos protagonistas são figuras de personalidade forte, o que torna a descrição romântica algo ainda mais complexo.
Se há a idealização do amor romântico, há também ao longo do romance um duro choque de realidade, que suaviza os traços dos personagens. O Dr. Félix, aliás, não é nenhum exemplo de herói, e tampouco a viúva Lívia se apresenta como uma dama sem defeitos.
Os demais personagens coadjuvantes, com exceção de Raquel, embora interfiram na trama, têm passagens relâmpago. Ao final do romance fico me perguntando o motivo pelo qual o nosso autor não deu a ele mais e mais reviravoltas - um longo desenrolar da história era perfeitamente possível. Talvez Machado tenha se sentido temeroso com as críticas e quis nos brindar com algo "água com açúcar". Não há muita ousadia, embora já seja possível percebermos a interação do narrador com o leitor. Trata-se de um recurso perigoso, mas que Machado sabe utilizar como ninguém.
Recomendo a leitura.