AsaReader 23/03/2022
Superou e muito as minhas expectativas.
Terminei a leitura do romance Ressurreição de Machado de Assis. Foi seu primeiro romance publicado em 1872, ainda no período romântico, um ano depois da aprovação da Lei do Ventre Livre em 1871.
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O enredo gira em torno da personagem Félix, um médico e rico herdeiro que não acredita ser capaz de amar. Seus afetos não ultrapassam os seis meses. Ele é volúvel, inseguro e ciumento. O romance começa com ele terminando seu caso com a última amante que é deixada aos prantos, mas logo isso vai mudar. Félix vai a uma festa e lá reencontra a irmã de um amigo. Uma linda e jovem viúva que desperta imediatamente o seu interesse. Será que desta vez um homem volúvel, como ele, vai finalmente ser bem sucedido em um relacionamento? Até que ponto a personalidade de uma pessoa a inviabiliza para um relacionamento saudável? Até onde uma coleção de relacionamentos casuais de fato pode nos dar a experiência para lidar com o amor verdadeiro? Essas são questões que se destacaram para mim nessa leitura. É uma história envolvente e com um final surpreendente.
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A leitura cronológica das obras de Machado mudou a visão que eu tinha do autor. Ele saiu da posição de massante e chato para queridinho. Eu nunca gostei de Machado desde meu primeiro contato com ele ainda na escola. Sempre o achei descritivo demais e enfadonho. Depois de adulta temia me reencontrar com ele e postergava a leitura, embora achasse que não poderia morrer sem ter conhecido a obra do maior escritor brasileiro e um dos maiores do mundo.
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Não por acaso, recentemente, comprei o livro do Ítalo Calvino, por que ler os clássicos, nele, o autor diz que as leituras da juventude podem ser pouco proveitosas em razão da impaciência, distração, inexperiência da vida e etc. Fiquei refletindo sobre isso... Fazia muito sentido. Por isso quando soube da leitura cronológica das obras de Machado, achei que tinha chegado o momento de retomar e concluir a leitura das obras desse autor.
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De minha parte o que posso dizer é que amei demais esse primeiro romance. Ele serviu para destravar a minha leitura desse autor, embora, não negue, ainda estou apreensiva com a sua fase dentro do realismo naturalismo que talvez seja o motivo do meu desgosto. Ainda assim, estou animada, porque para quem está desbravando Proust em seu realismo psicológico que dificuldade insuperáveis poderia ser encontrada no realismo naturalista de Machado? Sinto que já estou a meio caminho da vitória.
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Sendo assim, enfrentem seus autores mais temidos, lembrando que talvez dessa vez, com mais idade, maturidade e vivência descubram o prazer que outrora não puderam encontrar.