Lauraa Machado 30/07/2019
Complexo, intrigante e viciante!
Quando vi falarem que este livro é uma mistura de Six of Crows com Código Da Vinci na Belle Époque, tive que comprar! Sempre procurei um livro parecido com Six of Crows, adorei O Código Da Vinci e amo ficção histórica, principalmente as que se passam no século dezenove! Personagens diversificados, magia, aventura e Paris no ano da exposição que trouxe a Torre Eiffel para nossas vidas (amo a torre, admito!), não tinha como ficar melhor! Ainda tenho algumas críticas para fazer, mas já posso respirar aliviada, porque The Gilded Wolves é realmente ótimo e aguenta fácil o peso da expectativa que eu coloquei em cima dele!
Infelizmente, essa comparação com Six of Crows, na verdade, foi algo que dificultou um pouco a leitura dele para mim! Os personagens têm algumas características que me lembraram demais dos de Six of Crows, como a Laila trabalhar em um cabaret e sua fantasia ser de pavão (me lembrou da Inej) e o Séverin ter uma posição no grupo que é tão parecida com a do Kaz no outro livro. Isso me atrapalhou, porque eu não conseguia separar a personalidade deles. A Laila é bem incrível, mas ficou difícil no começo eu ver isso, porque só conseguia me lembrar da Inej quando ela aparecia. E o Séverin é bastante diferente do Kaz, então compará-lo não poderia levar a nada bom.
Chegou a um ponto em que eu percebia que estava imaginando-os como os personagens de Six of Crows e me forçava a parar e tentar esquecê-los. Não foi fácil, mas talvez seja só porque sou extremamente apegada a eles. Se você não leu Six of Crows (meu deus, o que você está esperando? Faça um favor a si mesmo e comece o quanto antes!) ou se simplesmente não é seu livro favorito, vai conseguir desfrutar dos personagens aqui bem mais!
No final das contas, meus grandes favoritos foram Enrique - o historiador filipino espanhol e bi, que é super sarcástico e amado! - e a Zofia - a engenheira polonesa judia e autista que eu queria guardar em um potinho! Melhor ainda, só a interação entre eles! O Tristan foi bacana também, apesar de não ter me conectado tanto a ele (talvez por ser um dos que não tinha ponto de vista na narrativa). Até cheguei a achar que ia compará-lo ao Wylan, mas eles são bem diferentes para isso. Adoro o jeito inocente dele, como tem afinidade com as plantas, mas principalmente seu amor pelo Goliath, sua tarantula de estimação! E o Hypnos - o "socialite" rico, negro, francês e haitiano e gay (ao que tudo indica) - é tão legal! Mesmo nas horas em que era para eu odiá-lo, não conseguia! Espero que no próximo livro ele esteja cada vez mais presente!
O enredo do livro todo é muito legal! Está sempre movimentado, mas não a ponto de ser só ação e você mal conseguir respirar. Adorei as partes em que me senti em um jogo de Tomb Raider e queria mais dessas! Mas até os problemas comuns das missões deles foram super interessantes! Além disso, a ambientação em Paris ficou bacana! Senti que às vezes poderia ter sido mais intensa, que me colocasse mais naquela época, mas acho que o que impediu isso foi o sistema de magia.
Aliás, a autora em nenhum momento chama de magia. É como os poderes Grisha, na verdade, (da duologia Six of Crows e outros livros) uma habilidade com afinidade para certas coisas, mas que precisa de um trabalho em cima daquilo, que não sai literalmente como mágica. Eu achei a ideia interessante, mas tive dois problemas com ela. Primeiro, a autora explicou demais e mesmo assim ficou confuso. No começo, tem explicações claras, praticamente infodumps, mas que não teriam me incomodado tanto se tivesse ao menos ficado bem claro como tudo funciona. Acho que teria sido melhor também se não fosse por outra coisa, que é o segundo problema que tive: não dá para entender quanto o resto do mundo sabe sobre essa habilidade. Em um primeiro instante, fiquei com a impressão de ser algo secreto, mas depois vi tantas e tantas coisas que tinham sido feitas por essa magia, que não tinha muito jeito de ser secreto. Mas, se for algo aberto para todo mundo, que todo mundo sabe que existe, fica difícil acreditar que a tecnologia da época continuaria no mesmo nível que esteve no nosso mundo real, entende? Aqui, o máximo que essa tecnologia/magia parece mudar é em detalhes decorativos ou recreativos, em vez de coisas mais práticas. Por exemplo, com engenheiros que têm essa habilidade mágica (como a Zofia), não faz sentido eles ainda usarem cavalos em carruagens na cidade, pelo menos, não a alta sociedade.
Essa não foi a única coisa que ficou incerta aqui. Nesse livro, existe uma Ordem de Babel, à qual fazem partes Casas (famílias) diferentes em países diferentes. Confesso que toda essa separação e o propósito desse sistema fez pouco sentido para mim também. Tenho certeza de que vou reler o livro, só para poder entender melhor! Essa Ordem foi outra coisa que deu a entender ser secreta, mas faziam bailes enormes e cheios de convidados para ela. A autora menciona demais a matriarca de tal Casa, mas se esqueceu de deixar bem claro que, apesar de não serem os chefes das Casas, todos os membros das famílias também fazem parte da Ordem. Se pelo menos algum tivesse sido nomeado, nem que fosse com "o filho da tal", juro que teria ficado mais claro. Só posso deduzir mesmo que é assim que funciona!
Além disso, e juro que vai ser minha última ressalva, o mistério que eles desvendam, o simbolismo e as charadas, é um pouco confuso também. Quer dizer, as explicações são claras, mas as teorias e tudo mais vêm de tantas culturas diferentes, que ficou um pouco complicado de sentir mais firmeza nas respostas. Eu tenho cadernos de resumos dos livros que leio (porque leio mais livros do que minha memória aguenta!) e super precisei escrever o resumo desse para me ajudar a entender! Mas não chegou a ser algo que atrapalhasse mesmo a história, confesso! E gostei de ver que as culturas não são ocidentais!
Para quem está esperando romance nesse livro, preciso avisar que ele é só um detalhe! Dá para ter vários ships - eu tenho dois, confesso, - mas a autora claramente não queria correr com o romance, já que será uma trilogia e esse nem poderia ser o foco da história! Estou, afinal, bem satisfeita com isso!
Por último, só queria ressaltar o questionamento dos personagens sobre preconceito, já que, na Exposição Universal de 1889, eles tinham uma "Vila de Negros" a qual visitavam como se fosse um zoológico. A raiva que me dá só de escrever essa frase é absurda! Imagina pensar que realmente aconteceu! Mas não é só em relação a essa visão completamente doentia dos europeus daquela época, como também sobre antissemitismo e a diferença que a cor da pele faz, mesmo entre pessoas da mesma raça. Mal posso esperar pelo próximo livro, que os levará à Rússia na época em que já estavam perseguindo judeus por lá, porque sei que posso confiar na autora para questionar e abordar esse preconceito sem medo!
Pois é. Tive bastante coisa para falar! A verdade é que esse não é um livro fácil, mas foi muito bem feito e tem uma ideia excepcional! Mais do que isso, até, os personagens são excelentes e a história é muito apaixonante! Eu lia cinquenta páginas ou mais sem nunca parar para ver em que página estava (sim, eu tenho a mania de acompanhar o número da página, então isso é raro para mim!). Recomendo absolutamente!