Proust Contra a Degradação

Proust Contra a Degradação Joseph Czapski




Resenhas - Proust Contra a Degradação


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Marcio 29/01/2022

Reflexões contra a degradação
Pequeno livro com reflexões e análise literária sucinta da obra de Proust E busca do tempo perdido. Na verdade, a história da feitura do livro é mais interessante que o conteúdo em si e contribui para a beleza da obra.
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Luiz Pereira Júnior 19/03/2023

Em busca da humanidade perdida...
Ler Proust virou sinônimo de esnobismo ou de mentira deslavada. Então, quem diz ter lido todos os volumes de “Em busca do tempo perdido” parece cair ou na categoria de metido a besta ou na de mentiroso cara de pau.

E, desculpem-me a sinceridade, alguns vídeos a que assisti acabaram me confirmando essa opinião. Como é que uma obra tão profunda, tão complexa, tão longa pode gerar comentários do tipo “Gente, tô surtando! Incrível! Tudo de bom! Muito legal! Leiam, gente, por favor!”? Sempre fica a irritante impressão daqueles booktubers animadíssimos porque acabaram de ler o melhor livro de suas vidas... até o próximo, que recebe exatamente o mesmo tipo de comentários tão animados quanto rasos.

Sim, eu li “Em busca do tempo perdido”. Sinto-me melhor leitor por isso? Não. Sinto-me um ser superior literariamente falando? Também não. Sou melhor do que quem nunca ouviu falar de Proust? É lógico que não. (Para mim, uma das piores frases já ditas em relação a um livro é justamente a que afirma que a humanidade se divide entre aqueles que leram Proust e aqueles que nunca o leram. Sem comentários.)

Li as quase 2500 páginas de “Em busca do tempo perdido” durante cerca de oito meses, com calma, sem pressa, sem marcar meta de leitura (para mim, se é obrigação, deixa de ser prazer) e foi uma das melhores experiências literárias que tive (que me perdoem os puristas, mas experiência contrária em relação ao tempo de leitura, mas tão prazerosa quanto, foi ler as centenas de páginas de “O cemitério”, de Stephen King, em dois ou três dias).

E o que isso tem a ver com “Proust e a degradação”, de Joseph Czapski? Primeiramente, pelo próprio título. O livrinho de Czapski é o relato de conferências sobre a monumental obra de Proust que Czapski fez aos seus colegas prisioneiros enquanto padeciam nos gulags da União Soviética.

Imagine um grande grupo de prisioneiros políticos (arquitetos, professores, engenheiros, médicos...), morrendo (literalmente, muitas vezes) de frio, de maus tratos, de doenças, de fome, que não aguentam mais a saudade de suas vidas anteriores e solicitam permissão aos carcereiros para fazerem uma série de palestras. Surpreendentemente, é-lhes concedida permissão e cada um deles fala aos demais colegas prisioneiros sobre o tema que dominavam em seus trabalhos antes de sua vida na prisão. Czapski era profundo conhecedor da obra de Proust e fez essas palestras aos colegas, que o escutavam assombrados com sua memória prodigiosa. Anos depois, ao ser libertado, Czapski conseguiu lembrar praticamente ponto por ponto as palestras que havia dado e as teve publicadas.

Resumindo: em um livro breve (105 páginas), Joseph Czapski nos dá uma magnífica aula sobre a obra-prima de Proust. Vale a pena? Se você leu Proust e o amou, valerá cada centavo. Se não leu nada do autor francês, pode ser que passe a ter vontade de lê-lo ou, por outro lado, não entendendo as referências, achar que gastou dinheiro tentando ler um livro sobre um livro que você nunca leu...
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Aguinaldo 15/10/2018

Proust contra a degradação
O polonês Joseph Czapski foi pintor, escritor, crítico de artes, ativista político. Em setembro de 1939, data que marca o inicio da segunda grande guerra na Europa, engajado como oficial do exercito polonês, Czapski foi aprisionado pelos russos (a União Soviética e a Alemanha dividiram entre si o território polonês). Prisioneiro em um convento abandonado, a mais de 400 Km de Moscou, e demasiadamente debilitado para os trabalhos forçados aos quais estavam condenados todos os demais, ele fazia anotações durante o dia sobre assuntos de suas áreas de especialização, sobretudo pintura e literatura francesa. A cada noite, parte destas anotações eram pronunciadas como palestras a seus colegas oficiais poloneses. Cabe registrar que Czapski foi um dos poucos sobreviventes dos quase 25.000 oficiais prisioneiros dos russos que foram mortos em Katyn - um leitor curioso deveria ver o belo e terrível filme já feito sobre esse assunto. Junto com Czapski sobreviveu o manuscrito de suas conferências, que resta transcrito nesta edição da Âyiné. Naqueles dias terríveis, Czapski fala de Proust e sua obra, sem o auxilio de livros, anotações ou cousa que o valha, citando longos trechos do livro de memória (mas não aquela cara a Proust, a memória involuntária). Ele emula aos colegas prisioneiros o que sabe de livros que havia lido vinte anos antes. Um leitor já familiarizado com Proust apreciará o livro sem reservas, encontrará em Czapski um confrade de longe, alguém com quem compartilhar espanto e admiração (don Renato Cohen certamente deverá ler esse livro). As passagens que ele rememora, escolhe e conta para seus colegas prisioneiros são aquelas que encantam qualquer leitor (a morte da avó do narrador, o sofrimento de Swann, a decrepitude de Charlus, o chá e as madeleines, as recepções na mansão da duquesa de Guermantes, a mundanidade encarnada nos personagens), mas é a forma como elas brotam da memória de Czapski que guardam algo de mágico. A bem da verdade ele não se limita a contar as histórias dos livros de Proust. Czapski fala de sua vida, contrasta autor e obra com todos os movimentos artísticos, não apenas na literatura, mas também nas artes plásticas, na música, na dança, do final do século XIX e início do século. Fala dos autores russos, que ele conhecia bem, de política, de psicologia, de filosofia, de autores poloneses - a passagem sobre Conrad é soberba. Trata-se de um livro curto e potente. Essas edições da Âyiné são excelentes, porém só oferecem um aperitivo ao leitor, não saciam sua fome, deixam o sujeito nervoso ao terminar a leitura; e custam caro. Paciência. Escrevo este registro na véspera do dia que é dito do professor aqui no Brasil. Uma passagem de Czapski me fez pensar muito sobre essa data e a terrível situação em que esse desgraçado país se encontra, em que legiões de escravos mentais vagam e votam, deixando a impressão que sua grande maioria é incapaz de tomar decisões sensatas, de colaborar para construir um futuro minimamente digno. Paciência. Mas o que Czapski registra e me fez lembrar, numa lição, é que Proust jamais foi estritamente didático, engajado ou tendencioso em sua obra, jamais foi professoral. Para Proust é a forma, o compromisso estrito, rigoroso, absoluto, com as formas puras na arte, que conseguirá transmitir verdades ao leitor. É a vontade de saber e de compreender todos os sentimentos, todos os estados da alma e gestos dos homens, mesmo quando incompatíveis entre si, que poderá fazer com que possamos alcançar alguma verdadeira sabedoria. Proust nos obriga, a cada leitura, a uma revisão de toda nossa escala de valores, a despertar nossas frágeis faculdades de pensamento e sentimento. Efeitos assim não se alcançam com livros panfletários, ideologicamente comprometidos, que parecem ser o repasto da maioria dos - poucos - leitores contemporâneos. (Nem incluo aqui das informações que as pessoas compartilham nas redes sociais, quase sempre admiravelmente eivadas de vícios e mentiras). É mesmo tempo de reler Proust, de blindar-se da degradação, afastar-se dos miasmas, da abominável ignorância que grassa por este país. Vale!
Registro #1338 (crônicas e ensaios #233)
[início 13/10/2018 - fim: 14/10/2018]
"Proust contra a degradação: Conferências no campo de Griazowietz", Joseph Czapski, tradução de Luciana Persice, Belo Horizonte: Editora Âyiné (coleção Das Andere #6), 1a. edição (2018), brochura 12x18 cm., 110 págs., ISBN: 978-85-92649-36-4 [edição original: Proust contre la déchéance: Conferences au camp de Griazowietz (Lausanne: Editions Noir sur Blanc) 1987 & 2011]

site: http://guinamedici.blogspot.com/2018/10/proust-contra-degradacao.html
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Pedro do Contra 20/01/2022

Ensaio que te levará a ler Proust
"Proust contra a degradação" é aquele livro que faz você pensar: "por que raios ainda não li Proust"? Esta é a sensação que agora ronda a minha mente. E pior, eu tenho a obra magna de Proust: "Em busca do tempo perdido", ou seja, nem a desculpa da ausência eu posso dar.

O livro aqui resenhado é a apresentação aprofundada do autor e da referida obra de Proust "Em busca do tempo perdido"; Joseph Czapski apresenta as condições artísticas, biográficas e até políticas que rondam o autor francês em seu ambiente de criação. Vai além da apresentação pura da obra, adentra antes nos contextos e condições em que Proust escreveu uma das obras mais laureadas da França no pós 1º Guerra Mundial.

A parte alta da reflexão do polonês é mostrar como a mente de Proust funcionava em seus anseios e dificuldade, e como essas dificuldades por ele enfrentadas acabavam como rampa para a subida de seu gênio. Czapski é um daqueles escritores que tem o dom de fazer você querer ler mais um pouco mais após o ponto final de uma estrofe densa. Característica rara nos críticos literários sérios.

A obra foi escrita em uma prisão soviética, após rara permissão para que os prisioneiros exercessem aulas comunitárias; o polonês crítico literário, que não morreu por obra do destino, acabou por deixar o manuscrito desse ensaio elementar no estudo de Proust e sua obra magna.

Por se tratar de uma obra de crítica literária, cabe ressaltar, nem todos se sentirão ansiosos e nem mesmo à vontade com a leitura deste ensaio, mas para aqueles que se interessam minimamente pela arte da escrita e da leitura, arrisco-me a dizer que esta é uma obra fundamental.
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G.Bay 28/12/2018

Mais sobre Proust do que Czapski
O livro trata mais sobre Proust e sua obra/vida do que sobre Czapski em si. Diferente de outros livros escritos por sobreviventes dos campos de concentração comunista aqui o tema é exclusivamente sobre Proust.
Não é necessário conhecer, embora seja recomendado, a obra de Proust para apreciar o livro!
Mas é quase inevitável que após a leitura se deseje então apreciar a obra de Proust...
No geral o livro foi muito bem traduzido, as margens são generosas mesmo em um formato compacto como esse. O papel (pólen) é ligeiramente mais espesso que o "padrão". A editora está de parabéns.
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Cheirinhodelivro 25/03/2024

Lembranças pra não enlouquecer
É muito triste saber que este resumo de uma obra grandiosa foi gerada em considerações tão desumanas.
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