Ari Phanie 11/06/2022Assim como Helene Wecker e S.A. Chakraborty, Christelle Dabos também me fez amar a fantasia novamente.
Eu me lembro quando esse livro saiu, e me lembro de não ter sentido o menor interesse em ler ele. Eu estava entrando em uma ressaca de fantasia, e tentava começar o menos que podia livros novos do gênero. Anos mais tarde, depois de ler algumas críticas e ver a sinopse, coloquei ele no meu radar, mas só agora resolvi dá uma chance para o livro de estreia de Dabos, e peguei rezando para que eu me surpreendesse. Foi exatamente o que aconteceu.
Quando eu comecei a ler Os Noivos de Inverno, não entendi patativas. “O que é uma arca? O que é um Animista? O que é uma Decana? O que uma deusa grega tá fazendo aqui, a história é sobre mitologia grega? Tudo é ilusão nesse negócio? Como funcionam os poderes? O cachecol tem vida? Tô entendendo nada aqui, [*****]!” E é isso, a Dabos usa forte o conceito “show, don’t tell”, e pouco é explicado, as coisas são mais comentadas e você vai sacando (ou não) do que se trata. Isso me incomodou demais no início, comecei a sentir que estava lendo uma história que já tinha começado e eu não sabia. Mas não me desmotivou porque eu achei os personagens super interessantes e excêntricos.
Começo falando que a protagonista da história é um atrativo por si só. Ela é descrita como comum, sem graça, de interesses simples e personalidade tímida e ingênua. Alguns escritores começaram a usar muito a descrição da “garota comum” para atrair a população feminina, que é composta em sua maioria de “garotas comuns”, e isso começou a ser uma jogada de marketing e tudo bem, faz sentido, só que eu diria que Ophélie é de um certo tipo de garota comum. Ela é desconfiada, observadora, reservada, bastante desajeitada, não curte muito agradar por agradar, e se dá melhor com livros e objetos do que com pessoas. Eu me identifiquei bastante com ela. E pelos olhos dela, nós conhecemos esse mundo fantástico do qual a personagem não entende muito, assim como nós, e também conhecemos seus apoiadores e antagonistas. Dentre eles, os que mais se destacam nesse primeiro livro são o noivo, Thorn, que eu amo, não vou mentir, mesmo sem saber se ele é amigo ou inimigo. Eu simplesmente gosto da personalidade dele. Assim como gosto também do Raposa e da Gaelle. Já quando se trata da Berenilde e Archilbald não sei o que pensar, mas eles me intrigam. Esses são os personagens que mais me chamaram atenção, mas alguns outros também são bastante curiosos, como o guri do mal Cavalheiro e o tal do Farouk.
Agora falando desse mundo que foi “rasgado”, ele é um dos mais complexos e fascinantes que eu já vi. Tem muitos elementos intrigantes sobre os quais você quer saber mais, mas a autora não entrega tudo assim logo de cara. E o que ela entrega não é suficiente. Mas é tudo muito bem construído, com uma mitologia por cima de outras mitologias e teologia, não consigo nem classificar em que gênero essa fantasia se encaixaria porque ela mistura elementos e isso poderia dá muito errado, mas acaba dando muito certo. E eu acabei apaixonada sem nem perceber como aconteceu.
Enfim, o livro me prometeu nada e entregou tudo. Tem uma construção de mundo criativa e instigante, os personagens oferecem muita individualidade e ambiguidade, e o ritmo vai se intensificando à medida que você ler, com muitos momentos de tirar o fôlego. Sem dúvida, essa faz parte daquele rol de fantasias singulares que não se apoia nos clichês tão saturados do gênero. Não vejo a hora de pegar o próximo volume.