Bru | @umoceanodehistorias 15/07/2018Previsível, mas não menos encantador“Somos um universo sob a pele. Guardamos dentro de nós planos, expectativas, frustrações, medos e amores sem que muitas pessoas saibam ou percebam. Enfrentamos desafios diários que nos fazem sentir derrotados ou capazes, a depender do resultado. Depois voltamos para nossos lares, nossos refúgios, e ninguém além de nós mesmos poderia imaginar o que vivemos.”
Alice tem 23 anos e sua vida está longe de ser como ela imaginava. Recém-formada na faculdade, ela está sete quilos mais pesada, levou um pé na bunda do namorado, perdeu o emprego (que não gostava, mas ok), ainda mora com seus pais e, pior, está tendo que conviver com o Transtorno de Ansiedade Generalizada e crises de pânico.
Uma das poucas coisas boas na vida de Alice são seus amigos, Malu e Cris. Eles estão lá para tudo, mas é uma pena que Alice não os deixem ver além da superfície. Gustavo, seu ex-namorado, é um canalha. Ele tinha relacionamento com várias mulheres ao mesmo tempo e a magoou de verdade, pois ela gostava dele, mas, quando nossa protagonista menos espera, duas pessoas do seu passado surgem e mudam sua vida completamente: Lucas, seu crush da escola, e Marcelo, o primeiro menino que Alice beijou, mas que era um nerd.
“A vida é muito melhor sem sorrisos. São expressões gentis como essas que fazem a gente esquecer de tudo e se deixar levar pelo sentimento.”
Lucas acaba salvando Alice de uma situação constrangedora com Gustavo e se passa por seu namorado, mas quem muda realmente sua vida é o encantador, amigo e paciente Marcelo. Ele informa sobre uma vaga de emprego no escritório de advocacia onde trabalha e Alice acaba sendo contratada para cuidar do departamento financeiro e tentar reerguer a empresa. Acontece que, em meio a diversos dramas familiares e pessoas envolvendo a ansiedade, Alice se depara com situações bastante controversas no trabalho, que a preocupam.
Assim que vi a capa de Além da superfície e vi a sinopse desse livro, quis, imediatamente, fazer a leitura. Por conta disso, fui com bastante expectativas ler esse livro. Isso, nem sempre é bom, algumas vezes as expectativas são um problema, outras fazem com que a leitura surpreenda ainda mais. Posso dizer, desde já, que esse livro não se enquadrou em nenhuma dessas opções. Ele foi uma leitura muito boa, mas que não surpreendeu tampouco decepcionou.
“Estou de saco cheio de emoções negativas dentro de mim, sou um poço de preocupações e negativismo.”
Alice é uma personagem com a qual podemos, facilmente, nos identificar. Ela é forte e determinada, mas, ao mesmo tempo, ela é ansiosa. Ela teme o dia de amanhã e sofre muito com os dramas dos outros (seus pais e irmão). Nesse último ponto eu me identifiquei demais com a protagonista. Eu tenho o hábito de pegar as dores dos outros e transformá-las em minha, quando não deveria fazer isso. Malu e Cris são ótimos amigos, mas gostei mais do Cris, um homossexual que teme se assumir para o mundo, pois acha que seus pais não o aceitarão. O que me fez não gostar muito da Malu foram seus ataques de sinceridade e raiva. Ela tem a necessidade de ferir as outras pessoas para se sentir bem, em alguns momentos, e não gostei nada disso.
Marcelo é um crush da vida. Ele é bonito, inteligente e preocupado e é impossível não se apaixonar por ele e shippar esse casal. Já Gustavo é odioso. Eu não gosto de personagens que rebaixam as mulheres e ele faz isso. Também detesto traição e, bem, ele é a personificação disso. Lucas é um personagem que não consigo encontrar outro adjetivo que não odioso. Não gostei desse personagem desde a hora que ele apareceu e continuo não gostando.
O desenrolar da história foi, no geral, previsível. Eu conseguia imaginar o que aconteceria nas próximas páginas e, ao ler, tudo era confirmado. Esse fatos não foi, no entanto, algo que tenha me incomodado tanto, pois a autora fez algumas coisas interessantes, como o fato de a Alice já passar por um tratamento médico para sua ansiedade, ou seja, ela está num processo de cura, ter inserido uma questão policial no trabalho da protagonista e dramas familiares envolvendo separação dos pais e auto aceitação da homossexualidade de alguns personagens. O misto de todas essas informações acrescidos de uma escrita ágil, torna essa leitura extremamente rápida e envolvente.
Como disse acima, o desenrolar da história foi previsível e o mesmo aconteceu com o final, mas ele me agradou bastante. Quando terminei o livro conversei com a autora sobre isso e adorei a forma sincera como ela aceitou as minhas impressões e como falou que está em busca de melhorar cada vez mais. Eu não tenho dúvidas que seus próximos livros serão melhores que esses.
Além da superfície é um livro com uma temática interessante, escrito por uma autora que tem conhecimento no assunto e que envolve bastante o leitor. É impossível não concluir esse livro sem se sentir, em algum momento, na pele dessa personagem e mais sábia ao terminar.
“A verdade é que já estou cansada da minha rotina, desse medo constante de que algo vai dar errado, de que eu sou a errada, de que tudo está errado em minha vida. A ansiedade me consome e o medo me trava, mas não sei o que fazer para melhorar.”