Lauraa Machado 08/03/2021
Tinha tudo para ser bom, mas tem problemas bem ruins
Apesar de ter visto tantas pessoas dizendo que não tinham gostado do primeiro livro dessa trilogia, Ash Princess (Princesa das Cinzas), eu acabei adorando e estava ainda mais animada para esse segundo por causa de uma coisa: navios. Se eu já tinha gostado e agora teria uma parte da história se passando em navios, quais eram as chances de eu não gostar desse?
Infelizmente, esse segundo livro tem alguns problemas que me desanimaram um pouco. Antes de mais nada, tenho que admitir que eu gosto muito da escrita da autora. Não sei o que tem nela que me faz só querer ler mais e mais, mas tem alguma coisa. Eu simplesmente gosto da escrita, das frases e da protagonista, Theo. Esse é o ponto alto do livro, porque todo o resto deixa um pouco ou muito a desejar.
O que deixou um pouco a desejar: o enredo. O livro é um pouco parado, apesar de isso não me incomodar, mas o pior é que o enredo parece estar sempre travado, sempre esperando para se tornar algo maior e mais emocionante. O final é bem melhor, gosto de como a autora desenvolve as decisões e atitudes da protagonista, mas tem vários acontecimentos depois de certo ponto que se desenrolam fácil demais, ainda mais para o padrão que a própria trilogia tinha proposto.
Tem outra coisa que deixou a desejar, que foi o romance. Tem um triângulo amoroso aqui e eu nunca consigo decidir para quem torcer porque a Theo, afinal, nutre bem pouco carinho e amor por qualquer um deles. É até estranho ela ter essas duas opções, ir de uma a outra tanto, quando eu não consegui sentir em nenhum momento que havia um amor romântico dela por algum deles. Da parte deles, dá para ver que tem, mas da dela só tem como ir pelo que ela fala, não como ela sente ou mostra.
O que deixou muito a desejar nesse livro foram as noções da autora sobre navios e geografia. Astrea é mostrado como um país não muito grande, mas com várias cidades, lagos e minas diferentes. A maior parte deste livro se passa no país Sta'Crivero que, pelo mapa, tem quase o triplo do tamanho de Astrea. Me explica então como eles podem atravessar esse país em uma hora a cavalo? Um país que era para ser super rico e poderoso e acaba tendo uma única cidade, aliás. Isso danificou bem a credibilidade do livro, eu só não sabia que vinha coisa pior.
Só que eu preciso dar alguns pequenos spoilers para conseguir explicar, então pule para o próximo parágrafo se você quiser evitar. Em certo ponto da história, algumas coisas começam a funcionar fácil demais. Precisavam de quinze navios - quinze, não um ou dois - e eles simplesmente conseguiam tomar sem nem precisar mostrar em uma cena. Precisavam encher os navios de milhares de pessoas que estavam desnutridas, conseguem. Precisam navegar esses quinze navios até outro país para atacá-lo, sem qualquer indicação de quem está comandando cada navio, como eles estão fazendo para cuidar das velas e das milhares de coisas que precisam de atenção para manter um navio e navegar em alto mar? Super conseguem, sem dificuldade nenhuma. E usar essas mesmas pessoas como um exército acreditando que todas elas conseguiriam treinar bem em navios - sabe, aqueles negócios que ficam balançando o tempo todo - a ponto de chegarem prontos para a batalha em duas semanas?
Credibilidade importa! A autora tinha passado o resto da história até então criando somente situações críveis, a ponto de às vezes até ficar sem graça, mas acho que ela cansou, porque foi bem difícil de engolir o jeito que ela tratou a questão da geografia e da navegação. É bem difícil ficar envolvido com a história quando as coisas mais básicas e a base na qual ela é construída são tão falhas e fracas.
Mas eu ainda gostei do resto e quero terminar a trilogia logo, então vou ler o último em seguida. Espero muito me surpreender e não ter que ficar engolindo problemas e fingindo que não percebo furos tão absurdos para conseguir manter meu interesse pela história.