Wallace17 18/01/2021
Uma aula sobre narcotráfico
“Policiamento ostensivo nos bairros pobres e encarceramento em massa seguem os remédios mais usados e justamente as soluções que ajudaram a induzir o crescimento das organizações criminosas no Brasil"
Quando sociologia e jornalismo se entrelaçam, surgem trabalhos magníficos como este livro sensacional dos autores Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias, publicada pela editora Todavia (@todavialivros)
A Guerra é uma daquelas leituras fulminantes que a gente não consegue largar. O livro nos apresenta uma descrição detalhada sobre o surgimento, disseminação, códigos, condutas, comportamentos, disputas e vivências das facções nos presídios brasileiros.
Muito gente nomeia esta realidade como "submundo do crime”. Aliás é um termo curioso, como se fosse possível separar o mundo “oficial” e o mundo do crime. Tem uma entrevista do José Arbex Júnior, para o programa Provocações da TV Cultura, na época apresentado pelo saudoso Abujam, no qual ele diz: “O crime organizado conta com a participação do Estado e dos grandes bancos. É indissociável o narcotráfico da movimentação do mercado financeiro. As altas especulações financeiras contam com braço do narcotráfico”
A Guerra é uma análise provocadora sobre a violência urbana, a política de guerra às drogas, a situação dos presídios brasileiros, dos processos de ascensão das facções e as disputas pela hegemonia do narcotráfico.
Para complementar a leitura assistir entrevistas e documentários sobre o tema compõem esta guerra sangrenta e sem fim. É uma experiência de leitura intensa e me fez pensar em muitas coisas. Em um país que tem mais 890.000 pessoas privadas de liberdade, segundo o Banco de Monitoramento de Prisões, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), até setembro de 2020, mais de 32.000 mortes violentas, sem incluir as mortes em decorrência de intervenção policial. (os dados foram coletados pelo jornalista do G1, via assessoria de imprensa e via Lei de Acesso à Informação) 3/4 das mortes são pessoas negras, os locais onde ocorrem os conflitos entre tráfico e o Estado são as favelas, a população carcerária é majoritariamente negra. Uma guerra que está longe do fim.
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