Pri 21/04/2019"A verdade abre caminhos"A Rainha dos Sete Mares é uma história curtinha, mas que aborda muitos assuntos importantes, sutilmente entremeados na fantasia, tornando a leitura interessante e prazerosa, como a autora bem sabe fazer.
"Havia beleza demais nesse mundo, mistério e sincronicidade também. Soube naquele momento que havia muito mais entre o céu e o mar do que poderíamos imaginar. Entendi que por mais que me dedicasse a estudar sobre tais assuntos, jamais conseguiria em uma vida aprender tudo o que queria. Seriam necessárias muitas. (...)"
Agatha é a sereia herdeira do trono de Atlantis. Seu pai, Christopher, é forte e corajoso, e considerado herói por toda a comunidade sereiana, sendo o maior rei dos sete mares, sempre ao lado de sua bela e sábia esposa, Goldie. Os dois fizeram Atlantis prosperar e agora tentam passar o legado para a filha. No entanto, uma antiga lei afirma que para assumir como rainha, Agatha deve casar-se. Teimosa e ousada que é, desafia a autoridade do pai constantemente, recusando-se a aceitar que uma constituição arcaica a obrigue a fazer algo que não deseja para usufruir de seu lugar de direito.
"— Na verdade, você é capaz de realizar qualquer coisa desde que tenha coragem para tal. (...) Só precisa acreditar em si mesma."
Depois de mais uma discussão acalorada, a princesa afasta-se temporariamente do reino. Perdida em seus pensamentos, acaba esquecendo que em seu palácio ocorreria o encontro anual com os reis dos sete reinos. Sua melhor amiga vai buscá-la para que retorne, mas durante o percurso notam que algo está errado. Deparam-se com um ser que deveria estar aprisionado nas Águas Profundas, como esteve todos esses anos: o Kraken.
"Nos momentos de profundo desespero é quando mais precisamos ter esperança"
Ao chegarem no reino, destruição e morte estão por todos os lados. Agatha chega ao palácio a tempo de presenciar seu pai sendo assassinado por uma octopus — uma criatura semelhante aos polvos, também dotada de inteligência, como os sereianos. Ela também encontra a mãe morta e assim, inesperadamente, se vê órfã e precisa encontrar forças para deixar toda a tristeza de lado e mostrar ao povo que é capaz de liderar e assumir como rainha.
"Antes de fechar os olhos, cheguei à conclusão de que a solidão era aterradora porque nos trazia para mais perto de quem realmente somos."
Não só é chegado o momento de desafiar as leis, como também de enfrentar o mais poderoso ser dos oceanos, para defender seu povo. No entanto, para atingir seu objetivo Agatha precisará ir até o local mais fundo do mar, e estar disposta a enxergar verdades duras, para crescer e definir seu destino.
"— A verdade abre caminhos, como já disse. Quem se recusa a enfrentar a própria verdade estará condenado a um mundo de escuridão."
Agatha é uma sereia independente e de personalidade forte. Ela é decidida a fazer as coisas do seu jeito, não importando o que os outros irão pensar. Seus pais têm medo de que isso possa acabar trazendo problemas para ela. No entanto, conforme vai enfrentando os desafios que surgem e descobre a verdade como um todo, seu amadurecimento é nítido e fiquei surpresa com as atitudes que teve.
Essa é uma daquelas histórias em que não há mocinhos nem vilões. A Bianca é uma autora que sabe trabalhar maravilhosamente todas as facetas de seus personagens e isso é claro nesse livro. É um enredo bem montado e ela conseguiu abordar assuntos que são relevantes na nossa atual sociedade, como preconceitos e o papel da mulher, assim como ganância, vingança, perdão e auto-conhecimento. Eu só senti que poderia ter sido mais desenvolvido, uma história mais prolongada. O livro é tão curtinho e ainda havia tantas coisas que poderiam ter sido descritas com mais detalhamento.
"— Nunca peça desculpas por ser quem é."
A narrativa é em primeira pessoa, mas os pontos de vista são os mais variados possíveis. Praticamente todos os personagens tem participação durante a história, assim sabemos todas as versões.
É a primeira vez que leio um livro físico da Bianca e fiquei encantada com o cuidado com os detalhes e a diagramação. As fontes são muito confortáveis, as páginas são amareladas e cada início de capítulo possui desenhos que remetem ao mar, assim como as trocas de ponto de vista. A revisão está ótima, lembro de pouquíssimos deslizes na digitação.
Por fim, assim como todos os outros livros da autora, recomendo muito a leitura. Inicialmente pode parecer uma espécie de releitura de A Pequena Sereia, mas garanto que é muito diferente. Uma leitura que mostra que uma mesma história pode ter mais de uma versão e que depende de nós avaliarmos a verdade para tomarmos a decisão mais justa.
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https://www.sigolendo.com.br/2019/04/resenha-rainha-dos-sete-mares.html