Patrick 23/10/2022
Elucidativo
Nunca concordei com as ideias de Marx, mas aqui pelo menos eu consegui compreender várias coisas. Ele coloca alguns exemplos numéricos que facilitaram o entendimento. Tanto é que vou fazer até um resuminho aqui do que mais me chamou a atenção:
Um tal de Weston (não conhecia) havia argumentado que não adianta muita coisa subir os salários da classe proletária. Segundo ele, esse aumento da grana nas mãos dos trabalhadores aumentaria o consumo de bens de primeira necessidade, fato que elevaria os preços desses bens (devido ao aumento da demanda) e deixaria a situação do proletário mais ou menos igual ao que estava antes, no que diz respeito ao "poder de compra". Marx discorda completamente. Primeiramente, Marx diz que realmente o aumento do salário aumentaria também a procura por bens de primeira necessidade. Isso poderia subir o preço, mas os capitalistas se dirigiriam a esse setor (mais lucrativo), o que aumentaria a oferta e faria o preço retornar à condição anterior.
VALOR: Conceito que estou há tempos tentando entender. Segundo o livro, o valor de uma mercadoria é a "quantidade de trabalho social cristalizado nela". Isso tem a ver com os insumos também, já que o valor de uma matéria-prima é acrescida à mercadoria que a utiliza em sua produção (o valor de uma peça de um PC é injetado ao valor do próprio PC). E quantidade de trabalho não é tempo de trabalho: se eu demoro o dobro de tempo que outro cara pra fazer um mesmo tipo de bolo, meu bolo não vai ter o dobro de valor, porque o "tempo médio necessário para fazer essa mercadoria na sociedade" é o mesmo, e aí que vem o "trabalho social", que diz respeito às técnicas existentes e dispersas na sociedade para a produção de uma mercadoria. Se na sociedade se popularizar uma máquina que faz bolos de maneira muito mais rápida, o meu bolo passará a ter valor menor, ainda que eu continue demorando um tempão para fazê-lo, porque o "tempo médio necessário para fazer essa mercadoria na sociedade" caiu devido ao avanço da tecnologia.
As mercadorias têm um "preço natural" diretamente associada à quantidade de trabalho social (valor), mas o preço de mercado pode flutuar para cima ou para baixo em relação a isso devido a fatores como oferta e demanda. Adam Smith que trouxe essa ideia. A premissa de Marx é que, no longo prazo, embora existam essas flutuações, a média de preço de uma mercadoria tende ao seu próprio valor.
VALOR DA FORÇA DE TRABALHO: para Marx, força de trabalho é uma mercadoria, que possui um valor para existir (que são os bens e mercadorias de primeira necessidade que o indivíduo dotado daquela força de trabalho consome para sua subsistência). Trabalhos mais especializados exigem outras coisas (treinamento, cursos, etc.), o que faz o valor dessa força de trabalho ser maior. Novamente, embora haja flutuações do preço também da força de trabalho, em geral o salário pago ao proletário coincide com o valor de sua força de trabalho.
MAIS-VALIA (ou mais-valor) é o valor extra que fica com o capitalista em forma de lucro. A ideia é que o proletário produz em sua jornada de trabalho um valor maior do que o salário que recebe (que é equivalente à sua força de trabalho). Essas horas de sobretrabalho não remunerado dão valor à mercadoria, que é vendida pelo seu valor. Basicamente, supondo que o salário pago coincide com o valor da força de trabalho e supondo que a mercadoria é vendida a um preço que coincide com seu valor, qualquer lucro que o capitalista tenha é a mais-valia, ou seja:
Mais-Valia = valor da mercadoria - salários pagos - valor pago pelos insumos da mercadoria