Sally.Rosalin 17/10/2024Memórias póstumas de Brás Cuba Sobre o autor, Machado de Assis (1839-1908), já existe um vasto material que descreve a trajetória literária do maior escritor brasileiro. Logo, serei breve em minha contribuição a partir da leitura que acabei de findar (out/2024). Quem nunca escutou algo sobre a célebre dedicatória "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas" precisa conhecer o enredo sério e irônico contado pelo próprio morto: Brás Cubas.
As memórias autobiográficas começam pelo seu enterro, afinal, trata-se de um defunto autor que fez parte da elite carioca do século XIX. Brás Cubas faleceu aos 64 anos, solteiro e com apenas 11 amigos. Herdeiro, viveu usufruiu dos privilégios que a riqueza dos seus pais lhe proporcionou. Claro que a quantia herdada trouxe impasses na partilha com a sua única irmã, Sabina, e seu cunhado, Cotrim. Intrigas e conciliações que são descritas na obra literária.
A obra, parte do Realismo a qual Machado fez parte, tinha como objetivo descrever a sociedade como ela realmente era na época. Sendo assim, podemos conciliar a descrição do protagonista com o Brasil Imperial que enviava jovens abastados para estudar Direito na Europa e após o retorno ao Império, ocupavam cargos políticos que determinavam o caminhar da nação escravocrata, desigual e elitizada.
Claro que é notável a ironia sobre o funcionamento da engrenagem social e política de letras mortas sancionadas ou vetadas pelo Poder Moderador. Judiciário já funcionava, porém embasado pelo positivismo e cientificismo, teorias circulantes da época. Humanitismo, apresentado por Quincas Borba, declarava-se acima de todas as demais crenças religiosas ("Cristianismo é bom para mulheres e mendigos"...) e justificava as fases históricas da sociedade para normalizar o funcionamento do status quo.
Conhecedores da teoria de Comte talvez comparem as fases teológica, metafísica e a positiva com as fases do Humanitismo de Quinca Borbas: estática, expansiva, dispersiva e contrativa. Longe de mim me aprofundar nesse assunto. Meu intuito é apenas apontar essa metáfora paródica - que eu acho sensacional - de Machado sobre as teorias deterministas da época.
Claro que há muito a dissertar sobre os enlaces românticos e personagens secundários, mas eu como fiel discípula de Machado de Assis, sempre defenderei que, apesar de ser um romance, o autor sempre quis explanar a sociedade em que estava inserido. Como funcionário público, a Literatura sempre foi a sua porta-voz.
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