Arthur Magnum Mariano 16/08/2018?A Promessa e a Pane? é uma jóia!Durrenmatt genialmente narra, em ?A Promessa? a história de Matthäi, um policial que após cumprir uma ótima carreira policial é convidado a se realocar na Jordânia, fato esse que não acontece ao se ver enredado em um crime aparentemente sem solução e movido por uma promessa aos pais da menina assassinada. Toda a história de inicia com um escritor que recebe a carona de um Major que viveu essa investigação com Matthäi e a conta para o escritor durante uma carona. Mais do que isso, há spoilers.
O livro é narrado de maneira esplêndida e dinâmica. Não há como parar de ler enquanto não descobrir quem matou Gritli Moser. Nessa primeira obra somos convidados a refletir no quanto vale a promessa de um homem e o quão longe podemos ir e o quanto sacrificar em nome da honra. Matthäi nos coloca em cheque silencioso nesses quesitos durante toda a obra. Trata-se de uma obra policial disfarçada em que podemos ver traços claros da relação do ser humano com o meio que o cerca e suas relações interpessoais x ética profissional. Livraço curto, de leitura rápida e muito mais profundo do que aparenta. Para aqueles que esperam um final previsível de romances policiais: Abandone toda a esperança aqui pois não há salvação. O final nos diz mais sobre a obra do que ela toda.
Já em ?A Pane? somos apresentados já de início com uma pedrada na introdução sobre panes e seus possíveis impactos. Logo na sequência acompanhamos a situação de Alfredo Traps, que sofre uma pane mecânica em seu carro e é obrigado a passar uma noite em uma cidade desconhecida. Assim somos apresentados a um senhor benevolente que dá asilo a Traps durante a noite e o convida para jantar com mais três amigos. Todos aposentados e da área jurídica, levam o resto dos seus dias encenando julgamentos famosos ou encenando julgamentos de visitantes. É justamente ai que se dá a pane: Traps entra na brincadeira e tem a vida revirada por esse inusitado tribunal, sendo acusado de crimes. A Pane é uma obra que dá bug em todo mundo: nos participantes do tribunal, em Traps e na gente. Ninguém sai ileso. Somos confrontados o tempo todo com aquela velha máxima ?uma mentira contada 100 vezes acaba se tornado uma verdade?. Sem mencionar o fato da reflexão do quanto um ato insignificante e inocente (ou não) pode acabar gerando uma pane geral em um sistema aparentemente orgânico. Mais uma obra disfarçada: tratado psicológico puro de comédia (embora eu mesmo nada tenha achado de engraçado - tive tensão e agonia no decorrer sem saber no que me apegar) que joga luz no questionamento: o quanto temos consciência dos nossos atos e o quanto sabemos de nós mesmos?
No mais, novamente parabéns a TAG, que acerta em cheio ao quadrado com duas obras sensacionais! Sem falar que o kit é lindo demais, só perde pro Alforje. E a diagramação, bem, ?A Pane? ficou horrível. Dava pra ter caprichado mais. E o mimo? Não vou tecer comentários, pois sempre é a discussão eterna.
Avaliação: ????????1/2! ??