Mandi 01/10/2023
Pedante, maçante e arrogante.
Comecei a leitura muito empolgada! Ouvi falar tão bem do livro que logo no primeiro dia li quase 20%, devorando vorazmente e amando a escrita do autor. Uma coisa, no entanto, ficou clara muito cedo: eu não tinha bagagem para ler esse livro. Não conhecia as obras que o autor usava como referência. A Morte de Ivan Ilitch, Parsifal, Elegias de Duino... Então fiz um esforço, li a obra de Tolstói e a de Rilke, até mesmo assisti quatro horas de ópera para entender Parsifal e, depois disso, pensei que estaria mais preparada para continuar a leitura. Me enganei terrivelmente, e foi quando me dei conta que minha bagagem literária e cultural talvez fosse uma parte do problema, mas a imensa presunção do autor era a maior parte dele.
O livro se torna um eterno "dropping names", com o autor usando as páginas para anunciar "Vejam só como eu sou inteligente, quantos autores importantes eu já li, quantos idiomas sei falar". Algumas páginas são uma coleção de 5 ou 6 nomes de obras/autores que não possuem valor real nenhum na experiência do leitor, apenas no ego de Corção, e como prova, vale lembrar que o autor não se preocupa por 1 minuto em colocar qualquer nota em seu texto, tentando torná-lo o mais inacessível possível. "Você não fala francês? Que pena, problema seu. Você não fala inglês? Procure outro livro, esse não é pra você.", ou ao menos é isso que somos levados a entender. O mais curioso é a escolha do tema que faz a trama girar: a morte. Possivelmente o tema mais universal que existe, uma das poucas coisas que absolutamente todo ser humano possui em comum, independente de crença, nacionalidade, status social, cultural e etc. E mesmo escolhendo esse tema, seu texto não conversa universalmente com os leitores, é claro que eu falo apenas por mim quando digo que não consegui tirar nada do livro, mas mesmo falando apenas por mim já reforça o ponto de que a obra não se comunica como deveria. É pura arrogância encoberta por belas linhas e divagações. Sem mencionar os trechos misóginos tão sutilmente deixados "aqui e acolá".
Nem tudo sobre o livro é tão horrível, seria mentira dizer que a escrita do autor é menos do que poética, ou que várias partes do texto não nos fazem refletir sobre experiência pessoais e emoções que não conhecíamos até Corção usar suas próprias palavras para descrever.
Poderia sim, ter sido uma obra genial, infelizmente a maior preocupação do autor foi demonstrar o quão brilhante ELE é, e não sua obra.