A Balada do Esquecido

A Balada do Esquecido Thiago Kuerques




Resenhas - A Balada do Esquecido


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Nathalia.Cabral 23/05/2019

Impressões de uma viagem.
Nada de sofrer pelo término da leitura de um dia. Vamos pra próxima só pela vontade de conhecer Nuno e a mulher desconhecida.
O galo cantou às 6h, a mania de ler nos transportes públicos vem da adolescência e permanece até os dias atuais.
Este livro, "Balada do Esquecido", é daqueles que se tem vontade de ler com calma, mastigando cada palavra. É tipo quando comemos um doce preferido, sabe?! O último do pacote é sempre aquele que saboreamos lentamente, só pro gostinho permanecer na boca e vai suavizando até você não sentir mais.
Quando li o prefácio, surgiu uma certa preocupação. Será que me identificarei com a história? E então, a partir da segunda página já me achei e fui me descobrindo em muitas outras, em certas vivências até chegar o fim da playlist. A viagem com Nuno e Flor, foi além do livro, é engraçado como ler no trem te permite respostas e uma integração com a história. E no capítulo da busca de quem mora longe, os camelôs do trem dizem, sem ao menos saber do que se tratava o capítulo: "REAGE JAPERI", e então pensei Baixada reage, resiste e insiste. A voz mecânica do trem me alerta: Nova Iguaçu. E já me lembro da Praça Santos Dumont, que a partir de hoje não será mais a mesma, favorita da flor ao som de All Night Long. Hul!
Me reconheci em flor e nas suas personalidades: fiquei lembrando dos tantos de apelidos que tenho, e um deles é flor: pelo qual sou chamada todos os dias pelo meu pai, Tatá pelo familiares e amigos que conviveram comigo na infância, na adolescência me apelidaram de Nathi, esse são pra aqueles amigos que vem e vão, o mais universal. E aquele que me acompanha na identidade, e que as vezes soa até como bronca: Nathália.
Mas voltando a "Balada do Esquecido"... É o que interessa. Mas rapidinho. Concordo com flor. Morder é um sinal de amor, de afeto. É como a sensação de abraçar apertado, mas é com os dentes. Eu ri nessa declaração e a moça ao meu lado no trem sorriu de me ver sorrindo. Tive vontade de ler pra ela. Mas não podia perder o destino.
E nos embalos da balada: Me preocupei com Nuno, tive medo por Patrícia-Flor, pensei de conhecer Carneiro, Heraldo me lembrou de um amigo e Alzira uma vizinha senti vontade de poder entrar no livro e ser um personagem, daqueles que intervém no abuso, no preconceito, na desigualdade e lembrando que não está só nos livros. Que a senhora ao meu lado que riu comigo já tenha passado.
Quero levar comigo a Balada do Esquecido, aqueles versos criados na noite precisam ser lidos e não por uma só vez, que seja com sabor de última vez, pra se saborear igual o doce preferido, mas tem amarguras.

As lembranças e a memória dão espaços a sentimentos bons, mas muitas vezes te deixa no chão. É mesquinho o suficiente pra acalentar quando necessário e dar um sulavanco sem permissão. E tudo se perde... Na conta da saudade, quem paga é quem sente.


Citações: "Nas lembranças temos muito mais dos outros o é equilibrado com o que temos de nós mesmo?"
"A visão de quem está em cima é pensar que empregada tem mais deveres que direitos"
"Lembrar de algo é refazer o caminho"
"Sempre tratamos da memória a partir do que sentimos no presente."
"Tem ar que pobre é proibido de respirar
Tem lugar que preto é proibido de entrar"
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hanny.saraiva 15/11/2018

Um livro de camadas
Quando terminei "A Balada do esquecido", pude comprovar duas coisas: a capa não condiz com o conteúdo do livro (e por isso não levou 5 estrelas – o projeto gráfico ficou a desejar, mas aguardamos uma nova edição com uma capa no mesmo nível que o conteúdo) e há tempos que não lia um livro contemporâneo que me deixou a admirar, como há tempos não admirava, essa narrativa em camadas. De certa forma as memórias de Nuno me lembram as camadas da obra fílmica "Brilho eterno de uma mente sem lembranças". Quando achamos que estamos indo para determinada direção, somos transportados para outra, mas tudo bem em sermos jogados de um lado para o outro porque entre lembranças e fatos, a mágica reside em compreender que nunca houve um resquício de ordem e é essa a beleza da composição.

Em meio a melodias, os personagens exploram territórios de periferia e exterior como navegantes de um mar ora revolto ora em placidez, ora próprio para admirar estrelas, ora local para temer tempestades. Não há aqui cronologia, mas memórias entrecortadas sobre sujeitos com vozes rasgadas, tentativas de não se cair em abismos. A cada camada que adentramos, descobrimos um pedaço da história e que "recordar machuca muitas vezes".

Citação preferida:
– Só uma palavra me devora: aquela que o coração não diz.
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