Matheus.Menezes 10/06/2020
Você foi enganado, mas todos fomos e sempre seremos.
O livro tem uma proposta interessante. Com o a ajuda de historiadores, economistas e cientistas políticos, os autores selecionaram diversos momentos em que os presidentes mentiram descaradamente. De Figueiredo a Temer, os jornalistas pontuam as principais enganações feitas pelos representantes do país. A obra ajuda a nos lembrar de que a mentira é indissociável da politica. Nós, como eleitores, devemos duvidar das falas e promessas dos candidatos e lideres existentes.
Cada capítulo da obra começa com uma frase dita por um presidente que será exposto. O primeiro capítulo, por exemplo, começa com uma citação de Figueiredo: “É para abrir mesmo. E quem quiser que não abra eu prendo. Arrebento”. Em seguida, o capítulo disserta sobre a mentira do político. Figueiredo mentiu ao dizer isso, pois como foi visto, ele agiu de maneira branda no caso do atentado ao Rio Centro, no qual o exercito tentou colocar bombas em um show de comemoração a reabertura democrática. Além disso, acobertaram ao máximo o caso. Esse episódio ocorreu durante a ditadura, período em que os militares encobriam tortura, mentiam sobre as mortes e censuravam jornalistas.
Porém as mentiras não acabaram junto com a ditadura. Após a abertura democrática, o presidente eleito, Tancredo Neves, mentiu sobre seu estado de saúde, dizendo estar bem, sabendo que seu estado era grave. A mentira foi sustentada até pouco ante de sua morte, os jornais da época retratavam-no como se ele estivesse com vigor e energia e fotos foram forjadas para parecer que Tancredo estava bem. Após sua morte, seu vice assumiu o comando do país e continuou a enganar a população, dessa vez com o plano cruzado. Sarney, antes da campanha eleitoral de 1986, que elegeu vários políticos do PMDB por causa do plano, já debatia duas propostas econômicas para acabar com o descongelamento de preços. Muito peemedebistas falavam do sucesso do plano econômico em suas campanhas, o presidente disse que ele seria mantido, mas após as eleições ele acabou.
Eu não conhecia essas mentiras contadas por Tancredo e Sarney. A que mais conhecia era a do Collor, pois o politico ficou marcado pela mentira que contou na campanha, de que não mexeria na poupança. Apesar de ter sido responsável pela abertura econômica, ter reduzido imposto, ter ratificado leis como o estatuto da criança e do adolescente, o código de defesa do consumidor e a lei Rouanet, Fernando Collor de Melo é lembrado pelo confisco da poupança. Em dois diferentes momentos, durante a campanha eleitoral, ele disse ser contra o confisco. Primeiro em uma entrevista dada a Ferreira Neto, em que concordou que jamais tocaria na poupança, segundo em um debate televisionado. Porem, nos bastido da campanha, Collor considerava uma interferência. Desde setembro de 1989, três meses antes da eleição, ele já falava com seus assessores em mexer no dinheiro privado.
Muitas mentiras relatadas no livro são referentes ao campo econômico, por isso o leitor mais leigo encontrará dificuldades em algumas partes da leitura, porém os autores explicam tudo de maneira clara e objetiva. Pesquisas sobre os temas abordados são necessárias, dependendo do seu nível de compreensão sobre economia. No capitulo do FHC, por exemplo, é necessário algum conhecimento sobre taxa de cambio. Porque o ex-presidente mentiu ao quebrar a paridade entre o dólar e o real. Ele prometeu na campanha de 1997 que manteria o cambio fixo, escrevendo em seu programa de governo: “vamos aumentar as exportações, perseguindo a meta de duplica-las até 2002, não pela via enganadoramente fácil da desvalorização cambial, mas pela rota segura da redução do custo Brasil e dos ganhos consistentes e produtivos”. Porem ele quebrou a sua promessa duas semanas após sua posse, ao encerrar o período de cambio controlado.
Um ponto positivo do livro é que ele fala de presidentes de todos os espectros políticos, mostrando que a mentira não é particularidade da esquerda ou da direita, mas dos políticos em geral. Após falar de FHC os autores expõem um resumo geral dos escândalos de corrupção do PT, passando pelo mensalão e lava jato. De todas as mentiras abordadas no livro, as do Lula e as do partido dos trabalhadores foram, sem duvidas, as mais marcantes para o país. Pois o partido, quando fundado, se apresentava como incorruptível, dizendo que puniria exemplarmente os corruptos. Muitos acreditaram na promessa e depositaram esperanças no novo partido. A posse de Lula, em seu primeiro mandato, teve a maior participação popular do país, levando cerca de 70 mil pessoas ao palácio do planalto. Os petistas frustraram as expectativas de milhões de brasileiros que acreditaram na proposta de uma nova forma de se fazer politica no Brasil.
A decepção ficou ainda maior após o estelionato eleitoral cometido por Dilma nas eleições de 2014. Isso porque Dilma, quando empatada nas pesquisas com Marina Silva, criticou duramente a adversária, dizendo que Marina era aliada a banqueiros e que tiraria comida da mesa dos brasileiro com a proposta de autonomia do banco central. As criticas da petista fizeram Marina despencar nas pesquisas. Quando eleita, Dilma tentou colocar Luiz Carlos Trabuco na economia, mas ele não aceitou, depois, colocou o economista Joaquim Levy, ambos banqueiros. A politica econômica do governo foi desastrosa. Dilma fez o oposto do que prometeu na campanha. Ela dizia que: “não mexo em direito trabalhista nem que a vaca tussa”. Junto a Levy, por meio de medidas provisórias, tornou mais rigorosas as regras para receber o seguro desemprego, pensão por morte e auxilio doença. Além disso, os banqueiros lucraram muito no seu governo.
O ultimo capitulo narra sobre o golpe de 2016. Fala do como Michel Temer articulou o golpe. Faz um paralelo com Café Filho, Vice do Vargas, mostrando que as expectativas relacionadas á moral em meio á sociedade nada tem a ver com as praticadas na politica. Uma coisa são os códigos morais e as regras sob as quais as pessoas comuns aceitam conviver, outra é o fazer politico, que estaria em uma ética de exceção, na qual o arbitro dos limites seria fixado por cada político em sua individualidade.
O livro é escrito pelos jornalistas Chico Otávio, ganhador de seis prêmios Esso, e Cristina Tardágulia, fundadora da agencia lupa, primeira agencia de fact-checking do Brasil. O objetivo dos autores é levar o leitor a refletir sobre o as promessas feitas pelos políticos em campanha, os planos econômicos mirabolantes ou os boletins médicos divergentes. A obra aumenta a consciência politica, pois nos faz enxergar que a mentira jamais abandonará a politica. Essa obra é extremamente importante, pois mostra que a honestidade não existe em politica.